sexta-feira, 29 de abril de 2016

A FESTA DE FILOMENO



Por: Tiago Oliveira

Filho de Areias Filomeno Martins nasceu em 1926, sendo filho de Duzindia Cerqueira Martins (descendente dos Cerqueira da Fazenda São Luís) e de Martins Vieira Martins (oriundo dos Martins da Beira do Campo de Santa Rita). Seu Filomeno como é mais conhecido é casado com a já falecida Filomena Alves Pereira, deste matrimônio nasceram vários filhos, o primeiro desta prole Simplício Martins de 64 anos e sua genitora são os abençoados pela promessa feita a São Sebastião, que viria a se transformar no Festejo de Areias.
Seu Filomeno conta que durante os primeiros dias de vida do seu primogênito o casal se encontrava cuidando de uma roça nas proximidades do Povoado Peroaba (este povoado ficava às margens da Ferrovia São Luís – Teresina próximo ao km 90, contudo atualmente só há ruínas), como era comum naqueles tempos às famílias passavam dias residindo nos Tijupás (barraco construído nas roças); quando chegou o dia de São Sebastião, todos os vizinhos das roças próximas vieram para Areias, no intuito de prestar culto ao Padroeiro da Povoação, contundo Dona Filomena não estava se sentindo bem, fato que impossibilitou a ida da família.
Ao anoitecer, a mesma só piorava, até o momento que só conseguia proferir pequenos gemidos e não reconhecia mais o filho e o seu cônjuge. Por voltas das 22h Filomeno ajoelhou-se e pediu a São Sebastião, que caso a sua companheira sobrevivesse iria realizar uma missa em sua homenagem. Quando já passava da meia noite, Dona Filomena acordou e disse – Filomeno, cadê meu filho? Traga-o aqui para eu amamentá-lo. Com a melhora da companheira o casal decidiu que no dia seguinte retornariam para Areias, para acompanhar o resto das novenas do Padroeiro.
Meses depois Filomeno foi até Rosário a procura do Padre Dourado, para tratar do pagamento da promessa feita na Roça. Durante a conversa com o Pároco, este último disse que a única exigência é que fosse construída uma Latada (espécie de cobertura/varanda de Palha de Coco-babaçu) para proteger os fiéis das intempéries do tempo. A data acertada foi para o segundo sábado de setembro.
Como a missa atraiu muitos moradores da região, Padre Dourado (o Padre vinha de trem até Caremas de onde partia para Areias no lombo de animais de carga) recomendou que fosse realizada no próximo ano e assim o evento foi crescendo e se repetindo até os dias atuais sempre na mesma data e no mesmo local. Nos primórdios a festa dançante ficava por conta de grupos musicais de sopro, provenientes de Rosário, seu Filomeno diz que o tempo apagou da memória o nome desses grupos, mas recorda que a primeira Radiola só tocou em sua festa, quase vinte anos depois do início do evento e que a primeira era da cidade Bacabal, porém não recorda mais o nome da mesma.

O surgimento do campo de futebol do povoado, que por sinal é localizado atrás da antiga Ramada (nome dado aos clubes de festas), também contribuiu para a consolidação da festa, pois atraia várias equipes de povoações vizinhas, para competirem em torneios realizados durante o evento e na maioria das vezes, estes jogadores permaneciam na comunidade para a festa.


quinta-feira, 28 de abril de 2016

A MINHA TERRA.


Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá.
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
(Gonçalves Dias)

Glosado por: Benedita Azevedo

Minha terra vou te amar!
Foi lá que ao mundo cheguei,
E naquele rio nadei.
Tentei aprender remar
Para o rio navegar.
Com folhas tais quais bandeiras
Em suas margens as palmeiras
Transmitindo as alegrias...
Cantos de Gonçalves Dias:
MINHA TERRA TEM PALMEIRAS!

São tantos os bens legados
Alegria do meu povo...
Ai! Quero vê-las de novo,
Tais quais leques espalhados
Em horizontes nublados
Quero muito voltar lá.
Correr pra lá e pra cá,
Ver aquela natureza
De Itapecuru, beleza...
ONDE CANTA O SABIÁ!

Meu rio naquelas paragens
Correndo bem caudaloso,
Com seu cantar amoroso...
Ondas batendo nas margens
Dos banzeiros, das aragens,
E as meninas que passeiam...
Com sorrisos alardeiam,
Para os meninos que encontram,
Todos ali reencontram,
AS AVES QUE AQUI GORJEIAM!

Já vai lá o entardecer
Daquela gente querida
Que deu vida à minha vida,
Não consigo esquecer...
E quero então merecer,
No jantar um vatapá,
Depois ver o boi-bumbá,
Visitar os meus vizinhos...
Pois aqui os passarinhos
NÃO GORJEIAM COMO LÁ.

Parte de uma ciranda organizada por Armando Figueiredo - Portugal -                                              (Dedicada à minha Itapecuru Mirim)
 Benedita Azevedo.




          

quarta-feira, 27 de abril de 2016

A FESTA DE FILOMENO



Por: Tiago Oliveira

Filho de Areias Filomeno Martins nasceu em 1926, sendo filho de Duzindia Cerqueira Martins (descendente dos Cerqueira da Fazenda São Luís) e de Martins Vieira Martins (oriundo dos Martins da Beira do Campo de Santa Rita). Seu Filomeno como é mais conhecido é casado com a já falecida Filomena Alves Pereira, deste matrimônio nasceram vários filhos, o primeiro desta prole Simplício Martins de 64 anos e sua genitora são os abençoados pela promessa feita a São Sebastião, que viria a se transformar no Festejo de Areias.
Seu Filomeno conta que durante os primeiros dias de vida do seu primogênito o casal se encontrava cuidando de uma roça nas proximidades do Povoado Peroaba (este povoado ficava às margens da Ferrovia São Luís – Teresina próximo ao km 90, contudo atualmente só há ruínas), como era comum naqueles tempos às famílias passavam dias residindo nos Tijupás (barraco construído nas roças); quando chegou o dia de São Sebastião, todos os vizinhos das roças próximas vieram para Areias, no intuito de prestar culto ao Padroeiro da Povoação, contundo Dona Filomena não estava se sentindo bem, fato que impossibilitou a ida da família.
Ao anoitecer, a mesma só piorava, até o momento que só conseguia proferir pequenos gemidos e não reconhecia mais o filho e o seu cônjuge. Por voltas das 22h Filomeno ajoelhou-se e pediu a São Sebastião, que caso a sua companheira sobrevivesse iria realizar uma missa em sua homenagem. Quando já passava da meia noite, Dona Filomena acordou e disse – Filomeno, cadê meu filho? Traga-o aqui para eu amamentá-lo. Com a melhora da companheira o casal decidiu que no dia seguinte retornariam para Areias, para acompanhar o resto das novenas do Padroeiro.
Meses depois Filomeno foi até Rosário a procura do Padre Dourado, para tratar do pagamento da promessa feita na Roça. Durante a conversa com o Pároco, este último disse que a única exigência é que fosse construída uma Latada (espécie de cobertura/varanda de Palha de Coco-babaçu) para proteger os fiéis das intempéries do tempo. A data acertada foi para o segundo sábado de setembro.
Como a missa atraiu muitos moradores da região, Padre Dourado (o Padre vinha de trem até Caremas de onde partia para Areias no lombo de animais de carga) recomendou que fosse realizada no próximo ano e assim o evento foi crescendo e se repetindo até os dias atuais sempre na mesma data e no mesmo local. Nos primórdios a festa dançante ficava por conta de grupos musicais de sopro, provenientes de Rosário, seu Filomeno diz que o tempo apagou da memória o nome desses grupos, mas recorda que a primeira Radiola só tocou em sua festa, quase vinte anos depois do início do evento e que a primeira era da cidade Bacabal, porém não recorda mais o nome da mesma.


Monsenhor Joaquim Martins Dourado — Nasceu aos 12 de Agosto de 1878 em Beberibe, Ceará. Filho do lavrador José Martins Dourado e de Maria de Jesus Rodrigues Dourado. Aos 19 anos entrou   para o Seminário de Fortaleza, onde estudou durante quatro anos, e transferiu-se para o Seminário de São Luís do Maranhão, onde foi ordenado aos 8 de Dezembro de 1906. Em 1907, foi nomeado vigário da Paróquia de Rosário. Por diversas vezes, respondeu também pelas paróquias de Itapecuru Mirim, Vargem Grande e Anajatuba.  Faleceu aos 20 de setembro de 1951.

 Texto de João Carlos Pimentel

segunda-feira, 25 de abril de 2016

TÚNEL DO TEMPO


Por Benedito Buzar
 
            No começo de 1950, portanto, há 66 anos, vim de Itapecuru, onde nasci, para São Luís, com a finalidade de dar continuidade aos meus estudos, tendo em vista ser a minha cidade desprovida do então curso secundário.
Internado no Colégio dos Irmãos Maristas, que começava a funcionar na Quinta do Barão, tinha direito de sair às ruas aos domingos. Em outro dia da semana, só em companhia de meus pais ou de alguém por eles autorizado.
            Quando me via livre e fora do internato, aproveitava o restrito tempo disponível para conhecer São Luís, àquela época, ainda acanhada espacialmente, mas fascinante pelos seus sobrados históricos e suas ruas estreitas e sinuosas, que serviam de passarela a quem quisesse nelas andar, a qualquer hora do dia ou da noite, sem sofrer perigos ou ser molestado.
            De tudo que um menino de 12 anos viu na cidade, empolgou-se pelo seu centro urbano, onde três cenários ficaram indelevelmente fixados na sua memória: a Rua Grande, a Praça João Lisboa e a Praia Grande.
Quanto à Rua Grande, a principal e mais movimentada da cidade, também conhecida por Oswaldo Cruz, foi amor à primeira vista. Para quem chegava do interior, nada mais curioso do que as lojas instaladas ao longo de sua extensão, que se iniciava na Praça João Lisboa e terminava ao cruzar com a Rua Cândido Mendes.
            Lojas de um lado e de outro, com modestas vitrines, que despertavam o consumidor para aquisição de produtos nacionais e estrangeiros, estes, em grande quantidade, pois, à época, a industrialização no Brasil ainda era um sonho de verão. Pela minha retina, revejo alguns estabelecimentos comerciais do porte da Rianil, Casa dos Tecidos, A Pernambucana, Sadick Nahuz (tecidos), Casas Garimpo, Ótica Lux, Garantia do Povo, A Diamantina ( joalherias), A Principal, Belém, Chaves( sapatarias), Valentim Maia, Casa Olímpia, Casa Paris, Tabuleiro da Baiana, Casa White ( armarinho, perfumaria, bijuteria), Movelaria das Noivas( móveis), Loja Singer (máquinas de costura), Haroldo Cavalcanti ( concessionária de automóveis importados), Farmácias Garrido e Pedrosa.
            Depois da Rua Grande, deixei-me encantar pela Praça João Lisboa, o mais importante pulso de vida da cidade e por onde transitavam as pessoas de todas as classes sociais e os veículos de transporte urbano e circulavam as notícias e as futricas. A estátua de João Lisboa, pela sua imponência, logo me seduziu pelo fato de ser uma novidade e de não ter intimidade com monumentos daquela envergadura.
Mas a Praça João Lisboa não era apenas isso. Nela e ao redor dela, gravitavam casas comerciais, firmas prestadoras de serviços e escritórios de profissionais liberais das mais diversas categorias.
            Várias farmácias ali se concentravam, destacando-se a Fiquene e a Sanitária, pelo estoque e variedade de produtos farmacêuticos. As livrarias, Moderna, Universal e Colegial, primavam pela qualidade e quantidade de livros de gêneros literários e revistas nacionais e estrangeiras.
            Pontificavam, também, naquele cenário, que servia de moldura à igreja de Nossa Senhora do Carmo, o Moto Bar e o Ferro de Engomar. O primeiro, com uma freqüência diária de numerosas pessoas, atraídas pelos sorvetes de frutas regionais, lanches, pastéis, refrescos, refrigerantes e cervejas. Não esqueço que ali ingeri a primeira coca-cola, cujo sabor não me agradou.  O segundo, o Ferro de Engomar, loja situada em ponto estratégico, notabilizada pela oferta de produtos que nenhuma outra concorrente apresentava ao consumidor. Tinha de tudo e para todos os gostos e necessidades domésticas.
            Ali, também, dezenas de profissionais liberais, especialmente médicos, dentistas e advogados instalavam seus consultórios e escritórios, e por  transitavam os bondes, que ligavam o centro da cidade aos bairros de São Pantaleão, Remédios, Estrada de Ferro, Areal (hoje, Monte Castelo), João Paulo e Anil.
            A tradicional Praia Grande marcou-me profundamente pelo conhecimento de uma parte da cidade, que funcionava como um dos pontos de referência da economia maranhense. Criei certa intimidade com ela pela frequência com que a visitava, não por vontade própria, mas por acompanhar o meu pai, que ali realizava seus negócios, comprando produtos para abastecer a loja da nossa família, em Itapecuru.
            Gostava de acompanhá-lo naquelas incursões à Praia Grande, onde assistia ao espetáculo inusitado de homens que vendiam e compravam mercadorias e se misturavam, num frenético burburinho, aos barqueiros, carroceiros e estivadores.
Naquele espaço movimentado, estavam instaladas as grandes firmas atacadistas do Maranhão: Lima Faria, Moreira Sobrinho, Cunha Santos, Talib Naufel, Lages e Companhia, Chames Aboud, Salim Duailibe, Bento Mendes e outras. As que chamavam mais a minha atenção, tinham na frente de seus estabelecimentos um letreiro com este anúncio: “Vendem-se estivas e miudezas”.


sábado, 16 de abril de 2016

JOAQUIM DOURADO



Por: Jucey Santana

            Joaquim de Jesus Dourado  nasceu em Beberibe (CE), em 25 de   fevereiro de 1905. Filho de Manoel Martins Dourado e Ana Martins Dourado.
         Joaquim Dourado, popularmente conhecido como padre Douradinho, para estabelecer diferença entre ele e padre Joaquim Martins Dourado, seu tio e tutor.
            Em 1915, Douradinho foi morar em São Luís, ingressando no Seminário Santo Antônio aos 11 anos.  Cursou o Seminário Maior e os cursos de Filosofia e Teologia, tendo recebido o sacramento da Ordem em 1927. Foi coadjutor da igreja da Sé e vigário cooperador da cidade de Caxias. A seguir  foi vigário de Codó, Vargem Grande e Itapecuru Mirim. Em 1944 partiu para a Itália  integrando-se voluntariamente na Força Expedicionária Brasileira – FEB, como capelão militar nos  campos de batalha, da 2ª Guerra Mundial.
            De volta ao Brasil, em 1945 passou a residir em Fortaleza. Em 1946 recebeu a patente de capitão, concedida pelo general Eurico Gaspar Dutra, então presidente da República.  Desenvolveu muitas atividades, cargos e missões como oficial do Exército. Recebeu  o título eclesiástico de Monsenhor.

                                  Padre Douradinho em Itapecuru Mirim

A gestão do padre Douradinho na paróquia  de Itapecuru Mirim foi concomitante à administração de Bernardo Thiago de Matos, que arquitetou o maior projeto de urbanização da cidade.
Ao chegar a Itapecuru Mirim em 1942, em substituição ao padre Alfredo Bacelar, que havia organizado uma grande campanha comunitária para construção da igreja matriz, deixando inconclusa a parte frontal do templo, sem porta e sem torre.  Entre os anos 1942 e 1944, o padre Douradinho  contratou a construtora  Nunes&Bayma, para o serviço. Coube ainda ao padre Dourado a aquisição da atual Casa Paroquial, depois do falecimento, em 1942, do seu antigo proprietário o Major Bandeira, (Boaventura Catão Bandeira de Mello Júnior).
 Foi durante a sua estada em Itapecuru Mirim que recebeu das mãos do general Hastímphilo de Moura, ex-governador de São Paulo, a doação  das terras de Guanaré, para a paróquia, herança da família Moura.  

Projeção Literária
Monsenhor Douradinho, conhecido como padre muito “sabido”, foi romancista, cronista, pesquisador e jornalista.  
Como literato assinava J J Dourado. Ele fundou  em Caxias o periódico Flâmula e em Codó, O Cruzeiro com padre Gilberto.
 Foi eleito membro fundador da cadeira 34 da  Academia Maranhense de Letras,  sob o patronato de Coelho Neto, tomando posse em 17 de janeiro de 1948.  
Escreveu muitas obras, com testemunhos dos horrores da guerra, romances, crônicas educativas e romances históricos:
− Atravessando Fronteiras, 1938;
− Pássaros Cativos, 1938;
− Sumaúma, 1939;
− Caminhos, 1940;
− Outros Céus, 1942;
− Estou Ferido, 1945;
− E... a guerra acabou, 1948;
− Bom Soldado, (crônicas educativas), 1949;
− Homens que lutaram, 1950;
− Siga este Caminho, (pseudônimo de Bernardo Dorê) 1954;
− Muiraquitã, 1955;
− Contos de Vigário; 1957;
− Mestre Praça;
− Alvorada;
− Oriente Médio;
− Cafundó; 1961;
− Histórias Divertidas;
− Muçambê; 1965;
− Uma História por dia; 1968;
− Terra dos Balaios, 1969;
− Mutirão – Bom Humor, 1970;
− Terra Esquecida; 1971.
Ainda deixou dois romances inéditos: Paisagem Humana e Terra Esquecida. 
 Foi um entusiasta pela vida,  pela educação e pela paz.  Faleceu em 1974 em um acidente automobilístico na estrada de Beberibe, no Ceará.
            Vale registrar que Joaquim Martins Dourado tutor de padre Douradinho foi pároco várias vezes das cidades de Itapecuru Mirim e Rosário. Politizado e carismático figurou como uma das vítimas fatais da greve de 1951, em frente ao Palácio dos Leões, falecendo em 20 de setembro de 1951.




quinta-feira, 7 de abril de 2016

ENCHENTES DO RIO ITAPECURU

Por: Jucey Santana
Ao longo da história temos conhecimentos de grandes enchentes que ocorreram no rio Itapecuru que trouxeram males diversos a população da ribeira do rio. Para citar algumas comecemos pelo ano de 1875, que trouxe muitas mazelas transtornos na recém-criada cidade.  A enchente de 1895, teve repercussão a longo prazo, com devastação em quase toda a cidade.  Os grandes armazéns situados à Beira Rio e nas ruas adjacentes foram tomados pelas aguas a exemplo dos empórios dos negociantes Domingos Araújo e Manoel Caetano (Manoel Cobra). As rampas de desembarques de mercadorias e passageiros ficaram completamente danificadas.
Em 1917 houve outra enchente de grandes proporções. Na ocasião desabaram antigos   casarões e sobradões que testemunhavam a época áurea da aristocracia da Vila, com grande importância econômica, política e militar, época dos Coronéis, Conselheiros, Comendadores, Barões, Agropecuaristas, senhores de engenho, feiras e exposições de gado, (Publicador Maranhense, 27.8.1856). Na ocasião caiu à casa do coronel Bento Nogueira da Cruz na Praça Cel. Nogueira. (Pacotilha, 7.5.1917).
A enchente de 1924, com toda certeza, foi a que causou mais transtornos.  A Rua do Egito, atual coronel Catão, passou mais de um mês submersa, sendo o seu transporte por canoas. A estação de trem ficou só o telhado de fora, e os trilhos inundados.  Os barcos a vapor fundeavam perto da praça da Cruz. As casas que não caíram ficaram abaladas, “parecia que tudo se acabava em Itapecuru”.   Se verificava na época um espírito desalentador, marcado pelo flagelo da enchente. Em uma cidade que já havia conhecido período de grandeza, a enchente do rio deixou marcas de calamidade, pobreza e falta de trabalho. Com o “ciclo da borracha” houve evasão dos moradores para os seringais do norte, agravando mais o comercio e lavoura local.
 A população com dificuldade trabalhava na reconstrução da cidade. Com a baixa do rio, a cidade foi acometida de mazelas como surto de febres, as chamadas “sezões” ou “impaludismos”. (Combate, 25.3.1951 e Correio Paulistano, 18.5.1924)
Em crônica do professor Newton Neves no jornal Combate, com o título, “Itapecuru a Ressurgir” citava os moradores supersticiosos, que chamavam a atenção para a calamidade de 1924, que seria punição em detrimento da antiga “praga” dos capuchinhos que em missão populares, anos atrás, celebraram do outro lado do rio de costas para a cidade, “bateram em maldição o pó das sandálias às portas da cidade”. Profetizavam os moradores: “é o fim de Itapecuru”

Houve também grandes cheias do rio nos seguintes anos: 1947, 1964, 1974, 1986 e em 2009, porém nenhuma se equiparou a calamidade de 1924.


terça-feira, 5 de abril de 2016

CRENDICES POPULARES


Por: Jucey Santana
Na minha infância os  benzedores “afamados” diagnosticavam e tratavam quase todas as doenças tais como: soluço, engasgo com espinha de peixe, isípa, (erisipela), puxado, espinhela caída, olho gordo, cobreiro, defluxo, quebranto, mordida de cobra, vento virado, coíra, vermelha, inveja, maleita,  carne aberta, febre terçã, mãe do corpo, obradeira,  doença do galo, (convulsão), mau olhado e ainda alguns “encostos” leves.
O benzedor de posse de um ramo de arruda, pinhão  roxo ou vassourinha ia traçando uma cruz sobre o doente ou a doença ao tempo que murmurava suas rezas cabalísticas e as vezes ainda receitava algumas “meizinhas”.
Exemplo de reza para feridas; depois das preliminares com as invocações de praxe o benzedor rezava:
           Jesus é nascido / Jesus nascido é,
Sarai essa ferida / Bom Jesus de Nazaré.
Tratamento de carne aberta:
Carne aberta / Nervo torto,
Osso rendido / carne machucada.
Eu te costuro / carne esgarçada. 
 Em suas especialidades os benzedores eram doutores.  A eficácia do tratamento ficava por conta da fé de cada um.  
O povo guardava sua cultura, suas devoções, seus costumes e crendices. Nos tratamentos populares, a exemplo dos benzedores, o corpo e o espírito estavam unidos e a cura era obra de Deus.
As crendices populares eram respeitadas ao pé da letra e éramos vigiados para não transgredir as regras.
Os exemplos mais comuns nas minhas lembranças são os seguintes: Se apontasse com o dedo as estrelas criava verruga; se brincasse com fogo urinava na cama; quem mentia  criava manchas brancas nas unhas; se pisasse na sombra do outro era azar certo; se virasse a barra da saia era surra garantida; se cortasse o cabelo na lua quarto crescente ele crescia rápido; se pisasse em rabo de gato perdia-se o casamento;  para curar gagueira batia-se com a colher de pau na cabeça do gago; se varresse os pés da moça, esta perdia o casamento; para curar verruga passava-se sal grosso no local, jogava  no fogo e corria; se a visita demorava, colocava-se a vassoura atrás da porta que a ela ia embora; se a criança custasse a falar tomava água de chocalho ou colocava-se o bico do pinto na boca da criança que a língua soltava; se vestisse roupa do avesso era chamar a morte; calçado emborcado era morte certa da mãe; comer cabelouro, (parte  fibrosa da carne), detrás da porta chamando o nome de uma pessoa bonita ficava igual (essa eu fiz chamando minha madrinha Sinhá Mendes); se comesse carne de porco e  pegasse vento  morria na hora; se a criança nascia com as pernas tortas colocava-se todo dia no pilão; se passasse embaixo de limoeiro menstruada subia a menstruação para cabeça e  outras simpatias,  heranças dos ancestrais escravos. Tínhamos respeito pela sabedoria popular e ensinamentos dos mais velhos, eram considerados “lei”.
Nos livros de orações e cantos de Mariana Luz, encontramos vários pedidos para alcançar saúde e graças diversas, dirigidos aos santos, próprio da religiosidade popular. A cultura é vida e patrimônio da população de cada região.