Por Benedito Buzar
No
começo de 1950, portanto, há 66 anos, vim de Itapecuru, onde nasci, para São Luís,
com a finalidade de dar continuidade aos meus estudos, tendo em vista ser a
minha cidade desprovida do então curso secundário.
Internado no Colégio dos Irmãos Maristas, que
começava a funcionar na Quinta do Barão, tinha direito de sair às ruas aos
domingos. Em outro dia da semana, só em companhia de meus pais ou de alguém por
eles autorizado.
Quando
me via livre e fora do internato, aproveitava o restrito tempo disponível para
conhecer São Luís, àquela época, ainda acanhada espacialmente, mas fascinante
pelos seus sobrados históricos e suas ruas estreitas e sinuosas, que serviam de
passarela a quem quisesse nelas andar, a qualquer hora do dia ou da noite, sem
sofrer perigos ou ser molestado.
De
tudo que um menino de 12 anos viu na cidade, empolgou-se pelo seu centro urbano,
onde três cenários ficaram indelevelmente fixados na sua memória: a Rua Grande,
a Praça João Lisboa e a Praia Grande.
Quanto à Rua Grande, a principal e mais movimentada
da cidade, também conhecida por Oswaldo Cruz, foi amor à primeira vista. Para
quem chegava do interior, nada mais curioso do que as lojas instaladas ao longo
de sua extensão, que se iniciava na Praça João Lisboa e terminava ao cruzar com
a Rua Cândido Mendes.
Lojas
de um lado e de outro, com modestas vitrines, que despertavam o consumidor para
aquisição de produtos nacionais e estrangeiros, estes, em grande quantidade,
pois, à época, a industrialização no Brasil ainda era um sonho de verão. Pela
minha retina, revejo alguns estabelecimentos comerciais do porte da Rianil,
Casa dos Tecidos, A Pernambucana, Sadick Nahuz (tecidos), Casas Garimpo, Ótica
Lux, Garantia do Povo, A Diamantina ( joalherias), A Principal, Belém, Chaves(
sapatarias), Valentim Maia, Casa Olímpia, Casa Paris, Tabuleiro da Baiana, Casa
White ( armarinho, perfumaria, bijuteria), Movelaria das Noivas( móveis), Loja
Singer (máquinas de costura), Haroldo Cavalcanti ( concessionária de automóveis
importados), Farmácias Garrido e Pedrosa.
Depois
da Rua Grande, deixei-me encantar pela Praça João Lisboa, o mais importante
pulso de vida da cidade e por onde transitavam as pessoas de todas as classes
sociais e os veículos de transporte urbano e circulavam as notícias e as
futricas. A estátua de João Lisboa, pela sua imponência, logo me seduziu pelo
fato de ser uma novidade e de não ter intimidade com monumentos daquela
envergadura.
Mas a Praça João Lisboa não era apenas isso. Nela e
ao redor dela, gravitavam casas comerciais, firmas prestadoras de serviços e
escritórios de profissionais liberais das mais diversas categorias.
Várias
farmácias ali se concentravam, destacando-se a Fiquene e a Sanitária, pelo
estoque e variedade de produtos farmacêuticos. As livrarias, Moderna, Universal
e Colegial, primavam pela qualidade e quantidade de livros de gêneros
literários e revistas nacionais e estrangeiras.
Pontificavam,
também, naquele cenário, que servia de moldura à igreja de Nossa Senhora do
Carmo, o Moto Bar e o Ferro de Engomar. O primeiro, com uma freqüência diária
de numerosas pessoas, atraídas pelos sorvetes de frutas regionais, lanches,
pastéis, refrescos, refrigerantes e cervejas. Não esqueço que ali ingeri a
primeira coca-cola, cujo sabor não me agradou. O segundo, o Ferro de
Engomar, loja situada em ponto estratégico, notabilizada pela oferta de
produtos que nenhuma outra concorrente apresentava ao consumidor. Tinha de tudo
e para todos os gostos e necessidades domésticas.
Ali,
também, dezenas de profissionais liberais, especialmente médicos, dentistas e
advogados instalavam seus consultórios e escritórios, e por transitavam
os bondes, que ligavam o centro da cidade aos bairros de São Pantaleão,
Remédios, Estrada de Ferro, Areal (hoje, Monte Castelo), João Paulo e Anil.
A
tradicional Praia Grande marcou-me profundamente pelo conhecimento de uma parte
da cidade, que funcionava como um dos pontos de referência da economia
maranhense. Criei certa intimidade com ela pela frequência com que a visitava,
não por vontade própria, mas por acompanhar o meu pai, que ali realizava seus
negócios, comprando produtos para abastecer a loja da nossa família, em
Itapecuru.
Gostava
de acompanhá-lo naquelas incursões à Praia Grande, onde assistia ao espetáculo
inusitado de homens que vendiam e compravam mercadorias e se misturavam, num
frenético burburinho, aos barqueiros, carroceiros e estivadores.
Naquele espaço movimentado, estavam instaladas as
grandes firmas atacadistas do Maranhão: Lima Faria, Moreira Sobrinho, Cunha
Santos, Talib Naufel, Lages e Companhia, Chames Aboud, Salim Duailibe, Bento
Mendes e outras. As que chamavam mais a minha atenção, tinham na frente de seus
estabelecimentos um letreiro com este anúncio: “Vendem-se estivas e miudezas”.
Um ótimo texto. Em 1960 ainda encontrei muitas destes estabelecimentos. Eu era fascinada pela Casa Paris com seus produtos de Beleza. A Real Joias, a Casa das Rendas, a Singer, as Casas Pernambucanas, a Mercearia Lusitana e outras. Durante quase um ano, em 1961, assistia a missa na Igreja do Carmo, às seis horas da manhã, antes do comércio abrir. Depois ia para a Casa Xavier, aonde eu trabalhava. Algumas vezes, após o trabalho, às dezessete horas, ficava com as colegas, no pátio da igreja, acompanhando o movimento na Praça João Lisboa, aguardando a hora de ir para o Colégio São Luís. As aulas começavam às dezenove horas. Saudosos tempos da juventude!
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