Por:
Benedito Buzar
Na semana passada, mudei de idade.
Sou um setentão assumido e bem conservado, daí porque não me queixo da vida. Ao
chegar aonde cheguei, devo dizer que ora caminhei por estradas pedregosas, ora
por vias bem pavimentadas, estas, felizmente, bem mais numerosas do que as
outras. Também passei por dissabores, que os considero insignificantes e
desprezíveis quando os comparo e os contabilizo com as venturas, os sucessos e
as alegrias acumuladas e vividas, sem esquecer a família que construí e os
amigos que me cercam.
Concordo
com o escritor mineiro Pedro Nava quando disse que a vida é um carro andando
numa estrada com as luzes traseiras ligadas. Assim é a minha vida. As luzes que
a iluminam estão sempre bem acesas para que a escuridão não atropele os meus
passos, que embora curtos e modestos, sempre me levaram ao caminho do bem.
Nesse percurso em busca da
felicidade e de fazer o bem, não esqueço o meu passado, do qual, sem ser
saudosista, tenho saudade de tantas coisas boas que presenciei e desfrutei, que
recordo, lembro e não saem da minha memória, e agora recorro para vangloriar-me
de que eu sou do tempo em que…
Só se sabia o sexo da criança depois
do parto, quase sempre realizado em casa, mas sob a assistência das benditas
parteiras. A minha chamava-se Agostinha
Chupeta se chamava pipo e tênis
(calçado) tinha o engraçado nome de chulipa.
Filho não
sentava à mesa antes dos pais, cujas refeições diárias eram preparadas em
fogões movidos a lenha ou em fogareiro e carvão. Aos domingos, não se
dispensava o almoço-ajantarado.
Meninos e meninas dormiam de chambre
e não se deitavam sem antes rezar e serem abençoados pelos pais. Para o
descanso noturno, não se dispensava a rede, debaixo da qual não podia faltar o
penico ou urinol.
O local onde se fazia as
necessidades fisiológicas chamava-se sentina, instalada estrategicamente no fundo
do quintal da casa.
As mulheres usavam peças íntimas
chamadas sunga, corpete e anágua e os homens ceroulas e cuecas samba-canção.
No verão, um calçado de madeira era
usado em larga escala por homens e mulheres: tamanco ou chamató. No inverno, as
galochas, produtos de borracha, protegiam os pés e sapatos.
As roupas masculinas eram feitas por
alfaiates e as femininas por costureiras.
Caligrafia e tabuada eram livros
obrigatórios no curso primário e os professores dos cursos secundários davam
aulas de terno e gravata.
As
famílias sentavam nas portas das casas para as habituais conversas de finais de
tardes.
O castigo físico era um procedimento
natural para corrigir filhos, sendo a palmatória o instrumento preferido para
fazê-los entrar na linha.
Gripe se chamava constipação e
curava-se com remédio caseiro à base de agrião e mel, sob a forma de xarope.
Carne, peixe e frango se compravam
em mercados; gêneros de primeira necessidade em mercearias e quitandas.
As fardas colegiais eram feitas de
tecidos grossos, do tipo cáqui ou brim.
Os homens só cortavam cabelo com
barbeiros e as mulheres gostavam de um penteado chamado permanente.
Festas dançantes, em clubes, eram
animadas por orquestras. Em residências particulares, por radiolas ou
toca-discos, que funcionavam à base de discos vinil.
Defuntos eram velados em residências
e a roupa preta era sinal de luto.
Calcigenol,
Biotônico Fontoura, Emulsão de Scott, Melhoral, Pomada Minâncora, Anaseptil,
Phimatosan, Elixir Xavier, Bicabornato de Sódio, Pílulas de Vida do Dr. Ross,
Bromil, Leite de Magnésia Philips, Elixir de Inhame Goulart, Ozonil, Cibazol e
Coramina eram remédios mais procurados nas farmácias.
Sabonetes Phebo, Eucalol e Lever;
pasta dental Kolinos e Philips; óleo de cabelo Glostora; talco Gessy, perfumes
Regina, desodorantes Leite de Rosas ou Leite de Colônia, eram produtos de uso
pessoais mais consumidos.
Padres usavam batina preta,
celebravam os ofícios religiosos em latim e de costas para os fiéis. Ninguém
comungava sem antes confessar os pecados aos padres.
Jogo de futebol era chamado match.
Quem jogava no gol era keeper; na defesa, back; na intermediária, half; centro avante,
center ford ward. Juiz da partida, referee.
Automóveis de passageiros eram
conhecidos por carros de praça e o ato de levá-los para algum lugar chamava-se
corrida.
Wisky era bebida de rico. Cerveja,
cinzano, vermute e conhaque, da classe média; cachaça, dos menos aquinhoados.
Mulheres do baixo meretrício,
respondiam pelos nomes de prostitutas, raparigas, mariposas, gatos. Homem que
não pagava mulher depois do ato sexual chamava-se xexeiro.
Zica era uma famosa dona de pensão
de raparigas da Rua 28 de Julho.
Bravo, muita criatividade! O uso dos termos bem colocados em cada situação do cotidiano daquele tempo, que também foi o meu tempo. A cônica que eu gostaria de ter escrito. Parabéns!
ResponderExcluirMuito bom... parabéns.
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