sábado, 27 de fevereiro de 2016

AS CRÔNICAS DE ZUZU PARA UM LIVRO IMAGINÁRIO...


Por: Josemar Lima                                                     Série Crônicas – ano III/nº 27/2016
Desde as primeiras articulações para criação da Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes – AICLA, fundada em 07 de dezembro de 2012, comecei a ouvir nomes de itapecuruenses que dedicaram suas vidas à criação de um legado material ou imaterial que contribuiu significativamente para a formação da identidade e da cultura itapecuruenses.
Mulheres e homens, sem distinção de cor, raça, etnia, crença ou posição econômica que construíram para o seu tempo e, principalmente para o futuro, uma obra que não tem preço.
A grande maioria delas estava completamente esquecida, mesmo que cada um de nós itapecuruense carregasse até sem perceber parte delas dentro de nós, pois o estoque de  conhecimentos, sentimentos, valores e exemplos se difundiu milagrosamente para toda a nossa sociedade.
Confesso que passei a ter por essas pessoas uma admiração extremada e até comecei a denominá-las como “Legião do Além”, pois eles materialmente já não estão aqui conosco, mas tenho certeza que continuam realizando conjuntamente uma conspiração do bem e isso se reflete na quantidade imensa de talentos que continuam desabrochando em nossas várzeas e à beira dos caminhos de pedras miúdas.
Estudei aí em Itapecuru Mirim, começando essa trajetória na Escola Paroquial, fundada pelo Padre Alteredo Soeiro, em 19 de março de 1947, e se destinava ao ensino de crianças pobres. As aulas eram ministradas em uma sala da própria Casa Paroquial Nossa Senhora das Dores, aí na Praça da Matriz. Depois passei pelo o Grupo Escolar Gomes de Sousa, Escola Paroquial São Vicente de Paula, Curso Preparatório do Professor João da Cruz da Silveira e, finalmente, Escola Normal Regional Gomes de Sousa, depois de aprovado do exame de Admissão.
Confesso que as figuras icônicas que cultuávamos, como itapecuruenses ilustres, se resumiam a Gomes de Sousa, Mariana Luz, João Francisco Lisboa e Viriato Correia.
Com o advento da AICLA e a necessidade de eleger-se patronos para suas trinta e quatro cadeiras, começou a se descortinar diante de nós uma legião que, como os guerreiros de argila descobertos na China, soterrados há milhares de anos, foram sendo trazidos com toda sua bagagem para a superfície para serem conhecidos, referenciados e homenageados como merecem. Cada um dos nossos membros da AICLA é responsável por um desses tesouros que, carinhosa, caprichosa e respeitosamente, lapidamos a cada dia.
Uma dessas descobertas refere-se ao jornalista Raimundo Nonato Coelho Nahuz - 0 Zuzu Nahuz, nascido aí em Itapecuru Mirim, em 22 de julho de 1918, onde viveu intensamente a infância no seio da família, nas ruas arenosas da velha cidade, nos quintais passarinhando ou colhendo frutas, nas margens do Rio Itapecuru, assistindo ao espetáculo e dramas das enchentes, a passagem dos vapores e as divertidas pescarias; na Igreja, assistindo as missas de domingo ou acompanhando as procissões no encerramento dos festejos religiosos.
Foi também em Itapecuru Mirim que teve os seus primeiros contatos com as letras e com o conhecimento, tendo como professores verdadeiras lendas como os professores Manfredo Viana, Newton Neves, Oliveira Roma e outros. Das salas de aula, dos seus mestres e colegas também colecionou lembranças.
Todas essas imagens o menino guardo-as com riqueza de detalhes até os doze anos, pois a partir daí começaria sua via-crúcis com a perda progressiva da visão.


Em uma de suas crônicas, de um conjunto de mais de cem que ele produziu durante sua trajetória jornalística, como redator dos jornais “O Correio do Nordeste”, “O Combate”, “A Tarde”, que o também jornalista e conterrâneo Benedito Bogea Buzar transcreveu em um artigo de sua lavra, denominada “Sentença Inexorável”, Zuzu confessa de forma emocionada o exato momento em que a enfermidade se manifestou:  “O calendário marca 16 de março de 1930, são 10 horas da manhã. Estou em pleno “Colégio Magalhães de Almeida”, na Rua do Egito, na legendária Itapecuru Mirim. Chega a minha vez para a aula de leitura no livro “Nossa Pátria”, de Rocha Pombo. Nada pude fazer, infelizmente. Surgia diante de mim, o fantasma da cegueira! As letras fugiram dos meus olhos e eu de cabeça baixa disse ao saudoso professor Oliveira Roma: Não estou enxergando nada. Não sei o que há comigo. De repente, as lágrimas correram impetuosas pelo meu rosto. Fui acometido de uma crise nervosa”.
Em outra, com alegria e humor, relata uma visita a Cantanhede/Ma, para participar de um comício e depois de um baile onde ele dançara a noite toda com uma moça da sociedade local e só a largou quando uma prima sua o puxou pelo paletó e, num canto da sala, deu-lhe a notícia de que a exímia dançaria estava com dordolhos, enfermidade comum na época e perigosamente contagiosa.
O seu amor e devoção pelo torrão natal se manifestam de forma explicita em seus escritos e a emoção vai pouco a pouco transformando a prosa em verdadeiros poemas e levando o leitor a um atávico passeio por uma cidade repleta de personagens tão familiares para que teve a benção de ali nascer ou viver.
Agora vem a boa notícia: O jornalista e pesquisador Benedito Bogéa Buzar, nosso conterrâneo e igualmente amante incorrigível dessa terra, Presidente da Academia Maranhense de Letras e também da Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes – AICLA, quando pesquisava na Biblioteca Pública do Estado do Maranhão, para a produção de seu livro sobre o Vitorinismo no Maranhão, por obra e graça do destino, encontrou as crônicas de Zuzu Nahuz, publicadas entre 1955 e 1964. Em quase todas ele se refere a fatos, eventos, coisas e pessoas de Itapecuru Mirim.
Escreveu-as já quando não mais possuía a luz dos olhos, mas aquela visão tridimensional citada pelo poeta Luís Augusto Cassas, quando cita o nosso personagem no poema “O Imperador do Largo do Carmo” permitiu-lhe que nenhum detalhe fosse esquecido desde as suas primeiras peraltices na residência da família aí em nossa querida cidade de Itapecuru Mirim.
Esse material, são exatamente oitenta crônicas, graças a essa oportuna e fortuita intervenção, está preservado, digitalizado e sem perigo de perder-se nas dobras do tempo.
A figura de Zuzu Nahuz sempre me encantou! E quando fiquei sabendo do achado logo me coloquei à disposição do amigo Buzar para ajudá-lo na revisão e adequação ortográfica de tão rico material, no que fui prontamente atendido.
Já li quase todas, pois é uma leitura maravilhosamente gostosa, onde Zuzu Nahuz relata de forma magistral fatos relevantes que aconteceram em Itapecuru Mirim desde os seus tempos de criança, com uma invejável riqueza de detalhes e uma linguagem quase mágica. Vinte das oitenta crônicas já foram devidamente revisadas!
A nossa meta é publicar um livro com as crônicas de Zuzu Nahuz e isso imaginamos acontecer em julho de 2018 quando comemoramos o centenário de nascimento de nosso cronista maior. Será um grande presente para Zuzu Nahuz e, principalmente, para todos nós itapecuruenses que teremos a possibilidade de embarcar em seus relatos e conhecer mais do mundo divinamente iluminado de Zuzu Nahuz. Um mundo que também é nosso!
Neste mês de março comemoramos o aniversário de nascimento de João Francisco Lisboa (23/03/1812); patrono da Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes – AICLA e figura icônica da nossa rica história jornalística.



9 comentários:

  1. Parabéns, escritora e pesquisadora JUCEY SANTANA, por tão harmonioso blogger, nos oferecendo uma leitura ricamente elaborada e enriquecendo a literatura dessa Terra, tão privilegiada por figuras ilustres.
    Parabéns, Acadêmico JOSEMAR SOUZA LIMA! Suas crônicas são deveras admiráveis, por seus conteúdos, muitas vezes de retorno ao nosso passado, aguçando as nossas reminiscências, numa linguagem polida, digna de um maranhense ilustre como você o é ! Parabéns !

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  2. Zuzu Nahuz...uma saudade eterna
    Marlene Rodrigues de Carvalho

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Obrigada minha querida, este espaço é nosso, para os itapecuruenses

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  5. Muito obrigado prezada MARLENE, mas afirmo a você que sou eu o maior recompensado por por por esses mergulhos mensais em nossa tão rica e maravilhosa história. Vou continuar explorando essa mina inesgotável e procurando sensibilizar nossos gestores que o nosso patrimônio humano, histórico e cultural se trabalhado estrategicamente pode ser aproveitado para melhoria das condições de vida de todos os itapecuruenses. Um forte e agradecido abraço!

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  6. Zuzu Nahuz é meu patrono, estou escrevendo a sua biografia, pretendo publicá-la até o final de 2016. Talvez, para o aniversário da AICLA. Fico feliz de ver o empenho dos confrades no resgate da história de nossa gente. Estarei no Maranhão de 20 de abril a 15 de maio, quando tentarei fechar a pesquisa sobre Zuzu Nahuz. Saudações literárias: Benedita Azevedo.

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  7. Tenho especial interesse, prezada amiga, sobre os dados biográficos no nosso querido Zuzu Nahuz que, com certeza, será um material de especial qualidade e nos ajudarão a conhecer mais da vida e da obra de Zuzu Nahuz. Um grande abraço!

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  8. Olá,
    Sou neta de Zuzu Nahuz e, infelizmente, não pude conhecê-lo, mas fiquei encantada ao ler na internet tantos relatos do meu avô!
    Gostaria muito de saber quando o livro de crônicas será lançado. Como faço para acompanhar e ficar sabendo do lançamento?
    Abraços,
    Renata Nahuz

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  9. Olá,
    Sou neta de Zuzu Nahuz e, infelizmente, não pude conhecê-lo, mas fiquei encantada ao ler na internet tantos relatos do meu avô!
    Gostaria muito de saber quando o livro de crônicas será lançado. Como faço para acompanhar e ficar sabendo do lançamento?
    Abraços,
    Renata Nahuz

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