Clodomira Batalha
Elas
estavam sempre lá, com seus bancos e trouxas de roupas a lavar.
De
longe dava para acompanhar o compasso das batidas de buraçanga (cacete com que
se sova a roupa, na lavagem) ao mesmo tempo em que colocavam as notícias em
dia.
A
molecada entrava no compasso entre saltos e mergulho. De repente o ritmo é
acelerado como gritos em forma de ola. Lá vem ela! A mulherada já alertada
arrancam seus bancos e roupas e correm assustadas.
La
vem a terrível e temida pororoca, já definida pelos Tupis como “estrondosa”.
Esse estrondo surge do confronto de águas causando grandes ondas com grande
velocidade que sai levando e derrubando tudo que encontra pela frente. Ela
amedronta, assusta e desafia, fazendo com que todos se afastem e fiquem a
observar. A pergunta silenciosa nos olhares é unânime:
Quem
se atreve a barrar ou enfrentar esse gigante?
Até
que surgem os meninos do rio, pés descalços, sorriso maroto dos surfistas de
maré e desafia a temida pororoca. Os curiosos se aproximam e a plateia é
formada, todos querem assistir o confronto. O duelo começa. Lá vem ela com toda
sua fúria, os surfistas de maré pegam suas pranchas e de joelhos partem literalmente
para cima da pororoca e começam a deslizar sobre suas ondas como que domando a
fera e soltam gritos de alegria! Eles dançam sobre ela até que sua fúria se
desfaz. A plateia vibra ao mesmo tempo em que vão se dispersando e meditando...
como enfrentar e ao mesmo tempo desfrutar das “pororocas” que se apresentam em
nosso dia a dia? que nos arrastam tirando nosso chão, nossas forças e nos fazem
muitas vezes submergir em suas águas turvas? Os surfistas de maré dão uma
lição.
Existem
situações na vida que são inevitáveis e não há como se colocar de frente, a
única solução é partir pra cima, assim como o surfista de maré. É bem verdade
que, entre sair de frente e se colocar em cima há um longo caminho, há muitos
tombos, se bebe muita água até se obter um equilíbrio e segurança. Quem
consegue esse equilíbrio tem uma visão privilegiada, há uma beleza que só
desfruta quem rompe e se coloca por cima. Por isso quando as pororocas da vida
se apresentarem, não vão de frente, não tenha medo e nem pressa para que ela
se vá. Desliza, dance, solte seu grito, seja um surfista e tire o que há de
melhor das pororocas da vida Pois logo ela passará, mas, a lição ficará. Há!
Fique atento, ela sempre volta.
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