quinta-feira, 8 de agosto de 2024

ETERNA DINDA


                                                                                                                         Tereza do Kid

Por sua honradez e seus princípios éticos e morais, dedico esta crônica a Maria do Espírito Muniz. Filha de José Cupertino Muniz e Mariana Rodrigues Muniz, minha homenageada nasceu no dia 14 de julho de 1933, na então Vila do Arari, portal de entrada dos que visitam o Mearim.

Mulher extraordinária, com quem tive a felicidade de conviver e com ela, trilhar os caminhos da existência, aprendendo com ações do bom viver, o que é a vida com ética, valores morais, sociais e espirituais que nos levam a espelharmos como   seres humanos diferenciados, participando ativamente de uma exuberância de   conhecimentos com  equilíbrio emocional, sabendo aceitar os sim sem soberba e os nãos como aprendizado para melhorar.

Falo da minha amada tia e ao mesmo tempo mãe, chamada carinhosamente pela família, de Dinda. Maria Muniz, Espírito Santo ou Maria do Funrural, todas essas Marias em uma só pessoa que o nome representa em cada ação, como tia-avó, irmã, amiga e  profissional.

Cursou o primário na Escola Arimatéa Cisne, que mais tarde passou a ser Grupo Escolar Arimatéa Cisne. Muito estudiosa, inteligente e curiosa, foi a melhor aluna da Escola em seu período. Além disso, teve a influência do seu pai Jose Muniz, homem letrado, amigo de políticos importantes, muito esclarecido e educado, que fazia de sua mesa de jantar e no sentar na porta da rua (como era de costume) seu púlpito de ensinamentos, a oportunidade para educar os filhos sempre através do diálogo. Dinda sendo a mais ativa das irmãs, acompanhava o pai nas visitas assíduas a casa do Sr. Antônio Garcia o mais prestigioso político de Arari de sua época, como também, aos eventos religiosos, entretenimento social e político. Assim, começou desde cedo participar do processo eleitoral do Brasil, Maranhão e Arari, integrando a ala vitorinista e fazendo acirrada contra oposição aos oposicionistas que tinham o Padre Brandt como cacique, com o qual estabeleceu verdadeiro duelo de princípios partidários.

         Descobrindo-se ativista social e muito altruísta, defendia seu partido e suas ideias de forma aberta e verdadeira, conquistando assim seu adversário ferrenho que foi o Pe. Brandt, que a fez deixar de frequentar a Igreja de Arari onde participava da Pastoral “Filhas de Maria”... Essa defesa de ideias contra o Pe. Brand durou muitos anos.  Personalidade forte, nunca se deixou abater. Lutou e venceu todos os preconceitos da época contra a mulher. Determinada, possuidora de uma caligrafia impecável e dominadora da Língua Portuguesa, era também destaque nas Ciências Exatas.  Trabalhou aos 15 anos de idade como escrituraria na empresa “Engenho Santa Margarida “do Sr. Cipriano Ribeiro dos Santos, na época o maior empresário pecuarista e marchante de Arari.  Com este, especializou-se na escrita e conhecimento de contabilidade. Quando o Sr. Cipriano fechou o escritório para se dedicar somente as fazendas de gado, a mesma, de imediato, resolveu abrir uma escola particular no Perimirim. Mesmo sendo professora leiga, educou com eficiência várias gerações, pois continuou na profissão sendo contratada pelo Estado como educadora auxiliar da Escola Arimatéa Cisne, onde com esmero desenvolveu um trabalho educacional e cultural de relevância, lembrado até hoje por alguns ex-alunos que com ela aprenderam a valorizar suas raízes e tradições culturais. Da mesma forma foi na família, onde começa a educação e onde ela foi educada.  Educadora da qual todos nós, seus sobrinhos, participamos recebendo cobranças de boas tarefas e exigências para que fôssemos os melhores da turma.  Desta forma   recebemos os primeiros ensinamentos de aulas de literatura, questionários de temas diversos, atualidades, redações, dissertações, ditado de palavras e caderno de caligráfica para termos uma letra bonita e compreensiva. De tudo isso, participávamos com muita obediência e nos fez sermos homens e mulheres de bem, respeitando a vida e as leis de Deus e dos homens. A educação escolar foi uma complementação acrescida na universidade e nos estudos de aprimoramento intelectual, ético e moral, a inicial recebemos em casa, com a família, tendo à frente, a Eterna Dinda. Temos profunda admiração,  gratidão por tudo que ela  fez.

Pela influência política do meu avô, dela e dos políticos situacionistas local, foi nomeada em 1962 pelo então Governador Newton de Barros Belo, para escrivã do Cartório do 2° Oficio de Arari, só saindo deste, com a queda do vitorinismo no Maranhão e da vitória do Governador José Sarney, sendo a exoneração de Cartório um dos primeiros atos do então Governador, a pedido dos seus correligionários de Arari, em especial o empresário José Ribeiro Salomão. Naquela época, como ainda hoje, predominava a retaliação política partidária com castigos para quem não comunga das mesmas ideias de quem chegava ao poder.

Dinda sempre de cabeça erguida, entregou o cartório e foi trabalhar na Prefeitura Municipal de Arari, com o Prefeito Raimundo Fernandes Caiçara de quem era amiga. Continuando com suas ideias por uma Arari melhor e com espírito público, apoiou e foi colaboradora do Grêmio Arariense dos Estudantes com quem alinhava seus pensamentos e com este participou ativamente da campanha da fundação do Colégio Comercial de Arari, de onde foi aluna. Colaborou, também, com a programação da Voz Arariense dos Estudantes e com o jornal Vanguarda. Tempos de muitas conquistas e atritos em nossa cidade, mas, apesar das incompreensões e choques de opiniões, Dinda não recuava e continuava sua luta pela liberdade dos ararienses em combate aos preconceitos e autoritarismo político. Foi quando perdeu seus pais e, então, decidiu recomeçar a vida em níveis mais altos. Para tentar realizar seus sonhos, resolveu se mudar para São Luís, capital do Estado, onde encontrou apoio de amigos como o Dr. Milton Ericeira e sua esposa Nair (in-memoriam) que a acolheram muito bem em sua residência. Logo partiu para fazer o curso Madureza Ginasial, com muito esforço e sacrifício concluiu o curso de Contabilidade na Academia do Comercio do Maranhão, o que a habilitou a trabalhar por vários anos em escritórios de comercio renomados de São Luís, até quando foi convidada para ser Representante do FUNRURAL de Pedreiras, lugar escolhido por Deus para viver e poder realizar  seus sonhos.

Na cidade de Pedreiras foi recebida com distinção e de braços abertos, e para a Princesa do Mearim, também abriu seus braços e nela viveu os melhores anos de sua vida. Voltou a ser participante ativa da catolicidade, na Igreja de São Benedito, onde era amada por todos inclusive pelo Padre Jacinto Brito, hoje Bispo em Teresina, no Piauí, e seu grande amigo da Igreja. Fez parte do Conselho Paroquial e junto com o esposo, Pedro Vaz coordenaram grupos de casais. Para ela, o seu casamento foi outro presente de Deus, pois Pedro Vaz era um homem temente a Deus, grande amigo e companheiro. Desse casamento nasceu Mariana, filha do coração que a acompanhou  até seus últimos dias,   com muito amor, zelo e carinho, completando assim sua felicidade.

Em Pedreiras, Dinda e Pedro Vaz foram responsáveis pela construção de uma capela no bairro ‘Nova Pedreiras” e se tornaram sócios do Rotary Clube Internacional, contribuindo através deste clube de serviços com muitas ações sociais e atividades humanitárias. Com o mesmo espírito público, participou de campanhas eleitorais colaborando com a vitória de candidatos do município, entre os quais, Prefeitos:  Dr. Kleber Carvalho Branco, Dr. Josenil e Dr. Pedro Barroso (este duas vezes prefeito);   Deputados:   Dr.  Josélio Carvalho Branco, Kleber Carvalho Branco e Dr. Wagner Lago; todos amigos leais de Dinda. Em Pedreiras é difícil enumerar as grandes amizades por ela conquistadas que perduraram vida afora. São verdadeiros tesouros que de longe ou de perto estiveram  sempre em contato  com apoio e  alegrias.

Vale destacar, o seu lazer preferido era “o jogo de buraco”, é bonito de se ver, esse encontro de muitas décadas. Quanta alegria, quanto carinho, zelo e cuidados com a Dinda tem os amigos Tatá, Gilza, Genete, Chicão, Rita Ata, Dalva, Gadelha, Jacimara e Cristiano, pessoas especiais na sua vida e que lhe proporcionaram momentos prazeroso e felizes. Todos oriundos de Pedreiras, mas que, como Dinda já residem em São Luís.

Dinda sempre viveu cercada de amor, atenção e muito carinho de todos nós, seus familiares. Muito amada e querida, é a nossa maior referência de vida. Cada chegada em sua casa, era uma  alegria sem igual. A felicidade com que ela nos recebia, era sempre uma festa.   Seu lar  era  o nosso melhor recanto para nos abastecer de amor, força e ânimo através de suas bênçãos, do abraço forte, lições se superação e apoio naquilo que precisamos. Se chegássemos com um problema ela nos encorajava dando sempre seu exemplo de vida. E como ela sempre dizia: Deus tem uma promessa para cada um, mas precisa de nossa colaboração pessoal. Eu venci e sou feliz, assim também será com vocês.

Mulher de fé e oração, forte e determinada, de uma lucidez invejável, consegue nos fazer felizes, nos abençoar, preparar as comidas que nos agrada (como por exemplo o seu bolo de tapioca, que só ela sabe fazer, e o mais importante, participar da vida de todos através do whatsapp nas mensagens diárias que a Munizada recebe, pois, Dinda conseguiu dominar bem as novas tecnologias, estando sempre conectada as redes sociais, como facebook e Instagram.

Maria do Espírito Santo Muniz, nossa eterna Dinda sempre mereceu todos os nossos aplausos, nossas reverências, homenagens e amor, pelos seus feitos extraordinários e bem vividos.  Uma mulher empoderada que viveu além do seu tempo ajudando muitas mulheres a não perder oportunidades, especialmente nós da família Muniz. Sou muito feliz por ter convivido com esta mulher extraordinária que deixou marcas indeléveis na minha vida!

A querida Dinda, faleceu dia 06, do corrente mês de agosto, deixando-nos um legado imorredouro de determinação, caráter e amor. Que tenha  a recompensa  eterna!

Uma homenagem de Teresinha Maria  Muniz Cruz Lopes (Teresa do Kid).

 

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