domingo, 29 de dezembro de 2019

Padre Raimundo Amorim Carvalho


   
Conego Carvalho

Jucey Santana 

Filho de João Batista Carvalho e  Belísia de Amorim Carvalho, nasceu na cidade de Pedreiras (MA), em 2 de julho de 1910. Depois dos primeiros estudos na sua cidade  e demonstrando tendência para instrução religiosa seus pais o encaminharam em 1923 ao  Seminário Santos Antonio onde cursou Humanidades, equivalente ao atual,  fundamental, tendo concluído em 1928. Em 1929 iniciou o curso de Filosofia e  1932  cursou Teologia. 

Recebeu a primeira tonsura em 26 de outubro de 1933 pelas mãos de Dom Severino Vieira de Melo, bispo do Piaui e em 28 do mesmo mês, pelas mãos do mesmo bispo, recebeu as primeiras Ordens Menores de Ostiriato e Leitorato. As últimas  Ordens Menores,  recebeu em 24 de agosto de 1934 sendo o oficiante Dom Emiliano Locati, bispo de São José de Grajaú, o Subdiaconato  foi ministrado em 22 de setembro de 1935  por Dom Severino Vieira de Melo, do Piaui,  o Diaconato em 1º de novembro de 1935 e o sagrado Presbiterato em 3 de novembro do mesmo ano, ambos oficiado pelo mesmo bispo do Piaui. 

Em 6 de janeiro de 1936, aos 25 anos, oficiou a Missa Nova, na Igreja Matriz de São Benedito  da cidade de Pedreiras, com a presença de todos os seus familiares.

Em 6  agosto de 1936 foi nomeado por Dom Carlos Carmelo Vasconcelos Mota, vigário cooperador, da Paróquia de São Luis Gonzaga no município de Bacabal. Em 1º de agosto de  1937 por provisão do mesmo arcebispo,  foi nomeado pároco da paroquia de Santa Teresinha no mesmo município. Em fevereiro de 1944, foi transferido como pároco da cidade de Guimarães, na centenária paroquia de São José, onde permaneceu até dezembro de 1946. 

Padre Carvalho nas terras Iguaraenses

Em 1º de janeiro de 1947 foi nomeado vigário da paróquia de São Sebastião   de Vargem Grande e vigário encarregado da paroquia de São Benedito, de Curuzu (atual São Benedito do Rio Preto),  paróquia de Nossa Senhora da Conceição do distrito de Manga do Iguará e capela de Santa Luzia, no povoado do mesmo nome atual Presidente Vargas, em substituição ao padre Alteredo Soeiro Mesquita que estava sobrecarregado com a administração de duas freguesias,  Itapecuru Mirim e Vargem Grande.

O padre logo  conquistou a população iguaraense, que passou a  depositar  confiança  em seu novo sacerdote, em uma época de muita intranquilidade  politica, pobreza, incerteza com o futuro, já que o mundo todo ainda   mantinha viva memória  do caos  causado com a recente,   Guerra Mundial e opressões com a ditadura ferrenha imposta ao povo por Getúlio Vargas, com repressões, prisões arbitrarias e torturas (1930/1945). Esta era a situação que se encontrava a população quando o clérigo Raimundo Amorim Carvalho entrou em cena.

O jovem pastor de 37 anos,  passou logo  a impressão  de tranquilidade,  amor fraterno e muita determinação aos seus paroquianos.

Ao chegar fundou e otimizou uma escola paroquial, já que encontrou  o sistema educacional de Vargem Grande muito  deficitário para época,  e mesmo não praticando política partidária se aliou aos gestores municipais, para reivindicar recursos financeiros não só para a igreja, mas, para toda a região, já que tinha muito acesso ao Palácio dos Leões, tendo credibilidade em todos os setores políticos, eclesiásticos e educacionais.

Em Vargem Grande existia um pequeno aeroporto, iniciado ainda por ocasião da Segunda Guerra. Em agosto de 1949, o Padre Carvalho, fez um apelo ao Senador Vitorino Freire,  que prontamente doou dois mil cruzeiros para as obras. Tendo sido objeto de campanha o dinâmico prefeito Didi Barroso, a ampliação e conclusão do aeroporto,  em sua gestão (1950/1955).

                       Acordo no Carnaval de 1950

A população vargem-grandense e o Padre Carvalho selaram um acordo para não realizar a festa profana do Rei Momo em 1950, com o compromisso de que o Padre ficasse na cidade, porque geralmente  se recolhiam em retiro. 

Não só o Padre atendeu ao pedido como ainda levou o padre Odorico Mata, que chegou à cidade dia 14 de fevereiro,  enfrentando estradas cheias de atoleiros no lombo de um burro.  De 18 a 23 do mesmo mês,  pregaram a palavra, confessaram,  batizaram crianças,  realizaram casamentos coletivos dos casais que viviam juntos,  fizeram mini cursos rurais,  recreações,  e a igreja ficou sempre lotada.  A ação evangelizadora foi liderada   pelas Zeladoras do Apostolado da Oração e as Filhas de Maria.

Acontecimentos históricos na gestão do Pe. Carvalho

Grandes eventos que marcaram a gestão do Padre Carvalho na região do Iguará: 

1.  Transferência da Festa de São Raimundo para Vargem Grande, que desde o início do século vinte, vinha sendo cogitada, que fosse realizada na sede do município porque o povoado de Mulundus não oferecia mais  estrutura adequada para o festejo que se tornara grandioso. 

Os tradicionalistas resistiam, por achar que a festa deveria permanecer no local de origem. Foram anos de negociações, para em  1953, na gestão do arcebispo Dom José Medeiros Delgado,  houver a transferência da festa. Os conservadores, no entanto, inconformados continuaram celebrar São Raimundo Nonato em Mulundus, que em consenso a igreja fixou a data do evento no povoado para o mês de outubro e assim respeitando a religiosidade popular.

2. Com o regime militar instalado no país em 1964 e a igreja fazendo opção pelas classes oprimidas, para estabelecer contatos diretos com os fies,  foram criadas as  Comunidades Eclesiais de Base, Comissão de Justiça e Paz, Pastoral da Terra,  e outras ferramentas para intercambio com o homem do campo, os chamados “Sem Terra”, o Padre atuou com presteza nas pastorais com os agricultores e comunidades urbanas,   fóruns de debates sobre os problemas da região,  distribuía aos pobres, cestas básicas como leite, arroz e farinha, conseguido da Cáritas do Brasil, e mantinha livre acesso ao governo, apesar do regime militar, para aquisição de beneficio para sua região.

3.  Em 25 de dezembro de 1958 o padre Raimundo Carvalho, recebeu o título eclesiástico de Cônego Honorário das mãos do Arcebispo Dom José de Medeiros Delgado, comemorado com entusiasmo pelos paroquianos.

4.  Outro episódio importante na sua gestão, foi o Concílio Vaticano II,  foi a reforma religiosa que alterou  a estrutura da igreja,  mexendo nos dogmas da igreja, com mudanças radicais, omo, a missa em latim passou a ser celebrada na língua pátria,  nos rituais eucarísticos o celebrante passou a se apresentar de frente para os fiéis, e a  retirada dos ícones da igreja foram algumas das mudanças que deixaram os católicos intranquilos quanto ao  destino da igreja, Porém o padre conduziu as mudanças a partir de 7 de março de 1967, com tranquilidade e metodologia adequada.

5. A pedido do Cônego Carvalho, em 2 de fevereiro de 1967 o arcebispo Dom João José da Mota e Albuquerque levou pessoalmente as primeiras Irmãs Dorotéias  para se instalarem em uma das casa da paróquia, para auxiliarem na escola paroquial e na evangelização de toda a região.

Padre Carvalho e Padre Albino

Em dezembro de 1950, Padre José Albino Campos Filho, assumiu a paróquia de Nossa Senhora das Dores de Itapecuru Mirim. Em sua recepção estava o padre Carvalho para acolhê-lo, tendo  criado um grande laço afetivo entre os dois clérigos. 

Sendo o padre Carvalho, doze anos mais velho que o vizinho, e já conhecendo a região, se tornou um orientador  e companheiro  com ajuda mútua.  

Entre os dias 15 a 29 de março, realizaram um curso de líderes rurais entre Itapecuru e Vargem Grande, dirigidos por técnicos agrícolas de São Luis,  os agricultores de  Vargem Grande, foram  todos hospedados por padre Albino. 

Conseguiam vantagens governamentais sempre  para as duas cidades.  Nas viagens do Padre Carvalho o Padre Albino assumia a paróquia de Vargem Grande e vice-versa. 

Na longa enfermidade de padre Albino, o padre Carvalho deu toda assistência, a paróquia de Itapecuru Mirim, aquele  perdeu a luta para o câncer em 24 de janeiro de 1970, aos 48 anos de idade  o padre Carvalho oficiou a missa de corpo presente e a missa de sétimo dia foi concelebrada por três cônegos,  amigos: Gerson Nunes Freire, José Ribamar Carvalho e Raimundo  Carvalho

Morte do cônego Raimundo Carvalho


O Cônego  Carvalho teve morte por parada respiratória em 19 de abril de 1970.  Passou 23 anos em Vargem Grande,  estimado pelo povo, prudente,  humilde e muito trabalhador, preocupado com a educação e  a promoção dos paroquianos.
Estiveram presentes  no velório, o arcebispo Dom  Mota e Albuquerque, Conego Paulo Sampaio, Padre Benedito Chaves (padre de Itapecuru Mirim), Padre Clodomir Brandt, Padre Xavier, Conego Gerson Freire, Padre Lourenço, Padre Gabriel, Padre Manoel Prest e Padre José Antonio.  Recebeu autorização do Arcebispo para seu sepultamento na Igreja Matriz de São Sebastião.
A Academia Vargem-grandense de Letras e Artes, reconhecendo-lhe o mérito, o elegeu para patronear a cadeira número 21, tendo como membro fundador José  Sousa de Barros Filho.

Do livro inédito, Iguaraense Literário, organizado por Jucey Santana

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