Capitao e Arcipreste J.J. Dourado |
Padre,
militar e escritor
Jucey
Santana
Joaquim de Jesus Dourado nasceu em Beberibe (CE), em 25 de fevereiro de 1905. Filho de Manoel Martins
Dourado e Ana Martins Dourado. Batizou-se em 6 de março do mesmo ano.
Mudou-se para São Luis, a convite do seu tio e tutor, o padre Joaquim Martins Dourado, em 1915, aos 10 anos e em 1916 ingressou no Seminário Santo
Antonio, aos 11 anos de idade. Em 19 de
março de 1925 recebeu a primeira Tonsura, pelas mãos do arcebispo Dom
Otaviano Pereira de Albuquerque e
as ordens de Ostiariato e Leiturato em 29 de maio de 1926. O Exorcizato e
Acolhitato em 5 de junho de 1927 e o
Subdiaconato, Diaconato e Presbiterato, respectivamente, nos dias 11, 12 e 29 de
junho de 1927 quando contava apenas 22 anos de idade.
Na mesma data da ordenação foi
nomeado pároco coadjutor da Igreja de Nossa Senhora da Vitoria, na Sé, onde
permaneceu até dezembro do mesmo
ano. Em 17 de janeiro de 1928, seguiu
para Caxias com a provisão de padre cooperador, ficando nesta condição até 12 de dezembro de 1933. Em 21 de janeiro de 1934 voltou para Sé, por
nomeação do arcebispo Dom Otaviano de Albuquerque. E em 1º de agosto do mesmo ano foi designado pároco da Matriz de São Benedito em Codó. Em janeiro de 1937 vigariou outra
vez a paróquia de Nossa Senhora da Vitória, na Cadredral da Séaté o inicio do ano de 1941.
Em 2 de junho de 1941 foi nomeado
vigário de Vargem Grande e em março de 1942 foi nomeado pároco de Itapecuru
Mirim, permanecendo à frente das duas paróquias até setembro de 18944.
Quando o governo brasileiro solicitou capelães para
acompanhar o exército brasileiro na
segunda Guerra Mundial, padre Dourado foi um dos primeiros a se apresentar,
integrando-se voluntariamente em outubro de 1944, levando mensagem de
esperança, caridade e paz aos jovens da Força Expedicionária Brasileira
– FEB, como capelão militar nos campos
de batalha, da 2ª Guerra Mundial. no meio a desolação e morte.
Padre Douradinho em Itapecuru Mirim
A gestão do padre Douradinho na
paróquia de Itapecuru Mirim foi
concomitante à administração de Bernardo Thiago de Matos, que arquitetou o
maior projeto de urbanização da cidade.
Ao chegar a Itapecuru Mirim em final do mês de março de 1942, em
substituição ao padre Alfredo Bacelar, que havia organizado uma grande campanha
comunitária para construção da igreja matriz, deixando inconclusa a parte
frontal do templo, sem porta e sem torre. O Padre Bacelar deixou a paróquia de Nossa Senhra das Dores insatisfeito com a populaçao, depois do carnaval, porém deixou uma folga no caixa para a conclusao das obras;
Entre os anos 1942 e 1944, o padre
Douradinho contratou a construtora Nunes&Bayma, para o serviço. Coube ainda
ao padre Dourado a aquisição da atual Casa Paroquial, depois do falecimento, em
1942, do seu antigo proprietário o Major Bandeira, (Boaventura Catão
Bandeira
de Mello Júnior);
Jovem padre Douradinho |
Como músico, reorganizou, juntamente com a escritora Mariana Luz, o coral
da igreja matriz;
Foi durante a sua estada em
Itapecuru Mirim que recebeu das mãos do general Hastímphilo de Moura,
ex-governador de São Paulo, a doação das
terras de Guanaré, para a paróquia, herança da família Moura.
Joaquim Dourado, popularmente conhecido como padre
Douradinho, para estabelecer diferença entre ele e conego, Joaquim Martins
Dourado, seu tio e tutor.
O padre intelectual em
Vargem Grande
O padre Douradinho, sendo escritor e grande pesquisador, era apaixonado
pelo Maranhão e sua história. Antes
mesmo de sua transferência para a região do Iguará, ele já pesquisava a Balaiada e
o fenômeno da fé do povo ao santo vaqueiro, São Raimundo dos Mulundus, como faz prova o seu romance regionalista, Sumaúma, publicado em 1939, ambientado entre os anos de 1924 a 1926, entre a região de Boa
Vista no Mearim a Mulundus em Vargem Grande.
O livro narra o pagamento de uma
promessa a São Raimundo, pelos protagonistas, depois de um peregrinar de 10 dias em lombos de cavalos e a acolhida dos
romeiros pelos iguaraenses.
Padre Joaquim Martins Dourado - tio |
1. Assumiu a paróquia de São Sebastião de Vargem Grande, em junho de 1941, depois da renuncia do Padre
Alfredo Furtado Bacelar, por desinteligências com a comunidade.
2. Talvez
as suas pesquisas, tenha favorecido
sua nomeação por parte dos seus
superiores;
3. Se tornou muito querido em toda
região, e com a formação do coral, marcou o início da criação da Orquestra Santa Cecília, que animava as festas
religiosas, cívicas, vesperais e bailes e ainda era contratada para outras
cidades;
4. Padre
Dourado, criava, organizava e incentivada,
torneios futebolísticos, com
times convidados de outras cidades, para levantar fundos para aquisição dos
instrumentos para a Orquestra Santa Cecília;
5. Uma
das atividades mais apreciada pelo padre pesquisador, era visitar o distrito de Manga do Iguará, conversar com os caboclos, antigos
moradores, adquirir materiais
encontrados sobre a guerra da Balaiada,
subsídios que usou em seu livro Terra dos Balaios ( 1969);
Vale
registrar que muitos dos materiais bélicos que adquiriu, foi levado para o Rio
de Janeiro em 1944, quando se destinava a Itália, para servir na 2ª Gurre
Mundial. Temos informações por
correspondência do padre, que foram entregues ao Museu Nacional;
6. Em
final de março de 1942, assumiu também a matriz de Nossa Senhora das Dores de
Itapecuru Mirim;
7. Ficou
à frente das duas paróquias até setembro de 1944, quando se ofereceu
voluntariamente para ingressar na Força Expedicionária Brasileira, para apoiar espiritualmente
os jovens brasileiros convocados para guerra;
8. Ainda
na Italia e depois da sua volta, manteve assídua correspondência com os amigos que deixou em Vargem Grande;
9. Ainda
esteve em Vargem Grande por duas ocasiões, para matar a saudade e contar a sua
trajetória na guerra. Por ocasião de uma das suas viagens escreveu uma linda crônica
intitulada “A Promessa” , relatando uma promessa que uma família distante do
Mearim, fizera a São Raimundo para entregar um novilho depois de vários dias de
viagem e ainda o poema “Vaqueiro erradio”
Vestido
de couro vermelho,
Apeia-se
do cavalo / Esquio do campo
Para de
joelho, chapéu descido/ para nuca,
Pedir ao
santo vaqueiro...
Homenagens e
Distinções
De volta ao Brasil, em 1945 passou a residir em
Fortaleza. Em 1946 recebeu a patente de capitão, concedida pelo general Eurico
Gaspar Dutra, então presidente da República.
Desenvolveu muitas atividades, cargos e missões como oficial do
Exército.
Recebeu o título de membro fundador
da cadeira 34 da Academia Maranhense de
Letras, sob o patronato de Coelho Neto,
tomando posse em 17 de janeiro de 1948, próprio do seu espírito humilde,
dispensou solenidade festiva.
Em 10 de junho de 1955 foi elevado a função de
Arcipreste Militar com sede em Fortaleza (CE). A importante missão que foi designado o capitão capelão Joaquim
Dourado foi o primeiro criado no norte do Brasil.
Em ato de Dom José Medeiros Delgado, recebeu o título eclesiástico de Conego Honorário da Catedral, em, 29 de junho
de 1957.
Em 1958 foi
elevado a dignidade de Monsenhor, por decreto papal.
O Capitão e Monsenhor foi .homenageado em junho de 1962, pela ONU (Organização das Nações Unidas), com
honras militares, pelos relevantes serviços prestados à causa da paz mundial.
Projeção Literária
Foi escritor, poeta, cronista, musicista, romancista, pesquisador e jornalista.
Colaborou com diversos jornais, maranhenses e cearenses, com publicações diárias
de artigos, crônicas e poemas. Era conhecido como o padre muito “sabido”.
Como literato assinava J J Dourado. Ele fundou em Caxias o periódico Flâmula e em Codó, O Cruzeiro
com padre Gilberto.
Escreveu muitas obras, com
testemunhos dos horrores da guerra, romances, crônicas educativas e romances
históricos:
Atravessando Fronteiras, 1938;
− Pássaros Cativos, 1938;
− Sumaúma, 1939;
− Caminhos, 1940;
− Outros Céus, 1942;
− Estou Ferido, 1945;
− E... a guerra acabou, 1948;
− Bom Soldado, (crônicas
educativas), 1949;
− Homens que lutaram, 1950;
− Siga este Caminho, (pseudônimo
de Bernardo Dorê) 1954;
− Muiraquitã, 1955;
− Contos de Vigário; 1957;
− Mestre Praça;
− Alvorada;
− Oriente Médio;
− Cafundó; 1961;
− Histórias Divertidas;
− Muçambê; 1965;
− Uma História por dia; 1968;
− Terra dos Balaios, 1969;
− Mutirão – Bom Humor, 1970;
− Terra Esquecida; 1971.
Ainda deixou dois romances
inéditos: Paisagem Humana e Terra Esquecida.
Foi um entusiasta pela vida, pela educação e pela paz. Faleceu em 20 de setembro de 1974 em um
acidente automobilístico na estrada de Beberibe, no Ceará, em viagem para sua
cidade natal, aos 69 anos de idade.
Foi eleito para patronear a cadeira
nº 12 da Academia Vargem-grandense de Letras e Artes, fundada em 14 de julho de
2019.
Vale registrar que o conegogo, Joaquim Martins Dourado, tutor de
padre Douradinho foi pároco várias vezes das cidades de Itapecuru Mirim, Vargem Grande e
Rosário. Politizado e carismático figurou como uma das vítimas fatais da greve
de 1951, em frente ao Palácio dos Leões, falecendo em 20 de setembro de 1951.
Jucey, muito interessante este seu perfil biográfico do Pe. Dourado. Eu estou escrevendo biografia de um pracinha da FAB que conheceu p Pe. Dourado, e gostaria de saber onde posso conseguir os livros que ele escreveu durante sua estada na Guerra da Italia. Haveria alguma livraria ou sebo aí em sua cidade que tivesse estes livros? OUtra curiosidade: há alguem da familia que possua cartas do Padre durante a guerra? Obrigado.
ResponderExcluirOutros Céus, 1942;
− Estou Ferido, 1945;
− E... a guerra acabou, 1948;
− Bom Soldado, (crônicas educativas), 1949;
− Homens que lutaram, 1950;
Boa tarde! Muito importante a iniciativa. Tem uma obra chamada de Raptada pelos índios que se encontra no Museu de Beberibe no Ceará.
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