Benedito Buzar
Em 2008, Fábio Gomes, filho dos maranhenses Jesus e Ana Maria
Gomes, escreveu e editou um belíssimo livro intitulado “O Brasil é um luxo”, em
homenagem ao nosso conterrâneo, o talentoso carnavalesco Joãosinho Trinta.
No livro, em policromia, o autor narra de maneira brilhante a
trajetória e a participação do maranhense no carnaval do Rio de Janeiro, ao
longo de trinta anos, quando arrebatou títulos gloriosos para as Escolas de
Samba Salgueiro, Beija-Flor, Viradouro e Salgueiro.
Relata Fábio Gomes, na introdução do livro, aliás, pouco
conhecido em São Luís, que o carnaval carioca, nunca foi o mesmo depois que
Joãosinho Trinta, como escultor da alegria, insurgiu-se contra a mesmice
que impregnava o desfile das escolas de samba, que no seu modo de ver e
sentir, tinha de sofrer transformações como arte e espetáculo.
Estribado na concepção filosófica de que “quem gosta de
miséria é intelectual” o carnavalesco maranhense, por conta de sua genial
criatividade, mudou o carnaval do Rio de Janeiro, que passou a ser mais
majestoso, deslumbrante e fantástico, a ponto de se tornar no mais belo
espetáculo do mundo.
Como estamos em plena folia momesca, vale a pena, com base no
livro de Fábio Gomes, mostrar o que Joãosinho Trinta, como maranhense, fez pelo
carnaval carioca, cujo primeiro título conquistou pelo Salgueiro, quando
projetou na Marquês de Sapucaí um enredo da terra onde nasceu, a que deu o nome
de “O Rei de França na Ilha da Assombração”.
Com a palavra Fábio Gomes: “Foi em 1974 que seu talento pôde
desabrochar em plenitude. A partir do enredo, uma vertigem delirante focada em
seu Maranhão natal.
“Para contar a invasão dos franceses e a experiência fugaz da
França Equinocial na Ilha de São Luís, ele lançou mão da fantasia irreverente e
desenfreada que se transformou na sua marca. Buscou nas estórias míticas que
povoam o imaginário popular de sua terra – o touro coroado que é Dom Sebastião,
a carruagem assombrada de Ana Jansen, a serpente que rodeia a Ilha –
ouvidas na infância da ama negra Nhá Vita, o conteúdo do enredo.
“E contou essas estórias fantásticas através da imaginação do
futuro Rei Luís XIII, ainda criança que interpretava os relatos dos navegadores
lançados nessa aventura ultramarina pela sua mãe, a regente Maria de Médicis.
Ou seja, fez do rei, ainda infante do inicio do século XVII, o narrador de
mitos e lenas surgidas muito tempo depois.
Vinte e oito anos depois, ou seja, em 2002, Joãosinho Trinta,
agora, carnavalesco da Escola de Samba Grande Rio, escolhe outro tema
maranhense para enredo: Os papagaios amarelos nas terras encantadas do
Maranhão.
O próprio carnavalesco descreve assim o enredo da sua
nova Escola de Samba, não bem recebida pelo público e classificada pelos
jurados em sétimo lugar: “Nas terras encantadas do Maranhão, lendas e estórias
de assombrações. O Touro Negro Coroado, nas areias da Praia dos Lençóis, em
noite de lua, surge um touro que se transforma no Rei português, Dom Sebastião,
desaparecido na batalha de Alcácer-Quibir, na África. Essa praia é habitada por
invasores, alourados e emplumados, falavam uma linguagem que os índios, os
Tupinambás, não entendiam e que foram chamados de Papagaios Amarelos.
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