A Cigarra Itapecuruense
Jucey Santana
Este ano de 2020 a nossa maior poetisa de Itapecuru Mirim está completando 60 anos do seu falecimento, ocorrido em 14 de setembro de 1960. Faleceu aos 89 anos, sempre escrevendo seus poemas, sentindo o murmurar em tudo que a rodeava; na natureza, na chuva, na brisa, no canto dos passarinhos, nos risos das crianças, nos dobres do sino, nos gemidos dos carros de bois, nos balidos das ovelhas, no barulho do trem nos trilhos, no trotar dos cavalos, tudo era motivo de inspiração para sua mágica “pena”, que transformava em poemas. Nunca parou de escrever, até nos momentos da sua enfermidade, era procurada para escrever ou corrigir textos dos seus inúmeros discípulos.
Aos 13 anos de idade, em 25 de maio de 1885, teve a primeira publicação dos seus trabalhos artesanais no jornal, A Pacotilha e aos 18 anos, em 12 de janeiro de 1890, foi publicado no mesmo matutino a sua primeira crônica, desde então, não mais parou de publicar seus textos nos diversos jornais e revistas do Maranhão e até de outros estados.
Marianna Luz foi uma mulher na vanguarda do seu tempo. Ela não temia quebrar as regras de uma sociedade preconceituosa para impor o seu trabalho e talento. A exemplo de dedicar-se ao magistério por quase 80 anos, como a um sacerdócio; ajudar na educação de gerações e gerações de maranhenses; ser pioneira em trabalhos artísticos e artesanais; fundar escolas; ajudar na construção da igreja; fundar teatro; participar de grêmios literários; fazer parte dos principais acontecimentos históricos, culturais e sociais da sua cidade e se projetar como renomada poetisa, angariando respeito em toda uma classe literária, ao lado de gigantes da intelectualidade que criaram o fenômeno da “Atenas Brasileira” no cenário estadual.
Sua história está vinculada na história da arte literária, no momento mais expressivo da memória da poesia maranhense, com um lastro de grande importância.
Registro o comentário do escritor e pesquisador João Carlos Pimentel, sobre a importancia da poetisa para os itapecuruenses: “Embora Gomes de Sousa tenha sido infinitamente mais famoso, o seu legado para Itapecuru-Mirim, resume-se ao fato de lá ter nascido. Já Mariana, (...) dedicou toda sua vida à educação, a cultura e a igreja da sua terra. Para mim, ela é indiscutivelmente a filha/o mais importante, pois a sua contribuição foi concreta e efetiva e não apenas um famoso que ali nasceu e ainda criança migrou para São Luís/Rio de Janeiro/Europa como foi o caso de Gomes de Sousa. Não quero com isso diminuir a importância do gênio da matemática. E sim, dar o verdadeiro reconhecimento a Mariana Luz. Ele é o filho mais ilustre e ela a mais importante”.
A insigne poeta faleceu na véspera do dia consagrado a Nossa Senhora das Dores, padroeira da sua paróquia a quem Mariana Luz devotava grande devoção, causando imenso pesar a toda população itapecuruense.
Mariana Luz escreveu preces e até um hino a Nossa Senhora das Dores, como mostramos abaixo:
Hino à Nossa Senhora das Dores
Nossa Senhora das Dores,
Virgem Mãe imaculada,
Escutai as nossas preces
Ó Senhora Angustiada
Pelo sangue precioso
Que Jesus derramou na Cruz
Escutai as nossas preces
O’ Virgem Mãe de Jesus
Por vossas benditas mágoas
Vossas dores e agonia
Escutai as nossas preces
O’ Doce Virgem Maria.
Sede sempre compassiva
Para os pobres pecadores,
Escutai as nossas preces
Nossa Senhora das Dores.
Murmúrios
Por entre a espessa e sombria
Folhagem do arvoredo,
Murmura a brisa um segredo,
Que Deus escuta no céu.
A tarde expira silente,
Com o pipilo inocente,
Do passarinho contente
Em busca do ninho seu.
Além, no rubro horizonte,
A lua bela formosa,
Vem surgindo majestosa,
Em marmórea palidez.
E os pirilampos luzindo,
Quando o dia vai fugindo
Semelham flores, caindo,
Das mãos do Eterno, talvez!
A leve brisa que passa
Docemente pela selva,
Espalha por sobre a relva
O doce aroma das flores.
E os mimosos passarinhos,
Na tepidez de seus ninhos,
Trocam meiguices, carinhos
Em inocentes amores.
Às sensitivas mimosas,
A lua em castos desejos,
Atira seus doces beijos
Cheios de vida e de luz.
E as florinhas oscilando,
A esse beijo brando,
Vão o ar embalsamando
De eflúvios magos da flux!
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