Peça em 1 ato
Cenário - Casa de Mariana Luz
Samira Fonseca*
Estava Mariana luz terminando a sua Salve Rainha quando os sinos da Matriz soaram, era o início do festejo de Nossa Senhora das Dores. A poetisa logo se pôs a escrever uma breve oração rogando a Deus e à padroeira de Itapecuru-Mirim o fim daquela peste que estava impedindo os fiéis de frequentarem as missas. Assim que ela terminou, foi fazer um chocolate quente. Minutos depois alguém bate à sua porta.
LUIZ BANDEIRA E JOAQUIM ARAÚJO ― Boas noite! (Entrando na casa da poetisa)
MARIANA LUZ ― Só uma pergunta, nós não estamos numa pandemia? (Falou Mariana Luz fechando a porta).
LUIZ BANDEIRA― Mas era só o que me faltava! Mariana Luz, desde quando a gente pega coronavírus?
MARIANA LUZ ― Mariana Luz, não. Sianica! E pode ser que a gente não pegue, mas temos que dar exemplo para esse povo. Abram as mãos para eu colocar esse álcool em gel.
Os dois colocaram o produto e foram para a cozinha. O músico Joaquim Araújo colocava o chocolate, que a poetisa acabara de fazer, em três xicaras enquanto dizia:
JOAQUIM ARAÚJO ― quem tem que dar exemplo é professor!
MARIANA LUZ ― E eu sou o quê mesmo? (Perguntou Mariana Luz)
JOAQUIM ARAÚJO ― Professora, ah, é verdade! Mas você não conta.
LUIZ BANDEIRA ― Pois eu acho que quem tem que dar exemplo é o prefeito. (Falou enquanto adoçava o café).
MARIANA LUZ ― Aquele que mandou as crianças da rede particular voltarem para as salas de aula? É difícil! Abdala poderia fazer alguma coisa sobre isso, né?
LUIZ BANDEIRA― Mas o que é que ele vai fazer?
MARIANA LUZ ― Sei lá, quem sabe soprar no ouvido do prefeito...
LUIZ BANDEIRA― Mariana Luz, entenda, o espírita aqui, sou eu.
MARIANA LUZ ― Pois vá lá e sopre!
JOAQUIM ARAÚJO― Sianica, quem sopra aqui sou eu que sou músico ah,ah,ah,ah.
Os três sorriram.
LUIZ BANDEIRA― Agora falando sério, e a política? Quem vocês acham que vai ganhar?
MARIANA LUZ ― Eu não sei, o Abdala diz o quê dessa eleição?
LUIZ BANDEIRA ― Ele está um pouco afastado porque aconteceu algumas coisas que ele não se agradou. O tambor de crioula dele, por exemplo, sem apoio do poder público, quase não sai o ano passado. Isso o deixou triste.
JOAQUIM ARAÚJO― Uma coisa é certa: o povo desacredita tanto da política local que se vende por qualquer preço, até alguns intelectuais, sempre foi assim.
MARIANA LUZ ― É triste!
JOAQUIM ARAÚJO ― Por um lado, por outro, não. O povo gosta é assim, e quem tem conhecimento se vende por um preço mais alto. É como diria Machado de Assis: “O dinheiro não traz felicidade para quem não sabe como usá-lo”.
MARIANA LUZ ― É, mas como diria a cearense Rachel de Queiroz: o dinheiro “só nos vale até certo ponto, ou seja, até se chocar com os limites dessa coisa intransponível que se chama a natureza humana”.
LUIZ BANDEIRA― Allan Kardec diz que: “o sinal mais profundo da imperfeição do homem é o interesse pessoal”.
Depois dessa frase fez-se um silêncio de reflexão.
MARIANA LUZ ― Olha, eu sou católica, apostólica, romana, mas isso aí que tu dissestes é bonito, é muito profundo...
JOAQUIM ARAÚJO ― É mais profundo do que os sumidouros que têm no rio Itapecuru.
LUIZ BANDEIRA― Hum hum... a gente está falando de coisa séria e vem tu com sumidouro... Por falar em sumidouro, Sianica, tu não vais para a missa do festejo?
JOAQUIM ARAÚJO ― Não, agora pode parar e explicar o que é que a missa tem a ver com sumidouro?
LUIZ BANDEIRA ― Não teve um padre ai que sumiu com um dinheiro dos fiéis?
JOAQUIM ARAÚJO ― Mas não foi daqui não, foi lá da Basílica do Pai Eterno.
LUIZ BANDEIRA ― E lá não tem missa? Sumidouro.
JOAQUIM ARAÚJO ― É? João de Deus mandou lembranças pra ti.
MARIANA LUZ ― Olha, eu sou católica, apostólica, romana e não admito essa discussão de religiões no tamborete da cozinha de minha casa. Quanto a missa, eu não vou, sou do grupo de risco.
LUIZ BANDEIRA ― É, ela está com medo de morrer de novo.
MARIANA LUZ ― Eu sou imortal, estou apenas dando exemplo para esse povo, já te falei Luiz Bandeira.
LUIZ BANDEIRA ― Pois coloca tua máscara e vamos ficar ali sentado a porta da tua casa ouvindo a homilia.
Os três sentaram à porta da casa de Mariana Luz, local onde hoje se localiza o prédio comercial ao lado da casa das irmãs Josefinas.
*Samira Fonseca é professora, romancista e dramaturga, coordenodora do Núcleo de Estudos Mariana Luz – NEMA e membro efetivo eleito da Academia Vargem-grandense de Letras e Artes - AVLA.
Gostei desse papo, Samira, entre esta nossa gente de muito valor cultural! Parabéns pelo belo ato teatral! Um abraço!
ResponderExcluirMuito obrigada, professora Benedita. Fico imensamente feliz que a senhora tenha gostado.
ResponderExcluirParabéns, professora Samira. A sua peça possui um grande aspecto literário e de muita sensibilidade. Você como sempre mandando bem.
ResponderExcluirMuito obrigada Érika, pela leitura. Um abraço!
ResponderExcluirMuito interessante a peça teatral resgatando ilustres Itapecuruenses no seu contexto, parabéns, Samira!
ResponderExcluirUm registro genial, do momento em que estamos vivendo. Certamente conm muito valor histórico, cultural e literário. Parabens confreira Samira.
ResponderExcluirBárbara e Jucey muito obrigada. A leitura e aprovação de vocês sobre a temática trabalhada, faz com que eu me sinta feliz com o resultado. Um abraço em vocês.
ResponderExcluirEstupendo!
ResponderExcluirMuito obrigada!
ExcluirParabéns, minha amiga Samira.
ResponderExcluirAmeii demais haha! Meu orgulho ❣️
ResponderExcluirAmo seu senso de humor...kk
Parabéns minha querida amiga!
Amei
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