segunda-feira, 12 de setembro de 2022

TEORIZAÇÃO DA LINGUAGEM - BENEDITO COROBA

                                 Benedito de Jesus Nascimento Neto


                                                                               *Benedito Coroba.

 A filosofia, em sua dimensão teórica, dispõe-se a investigar a natureza do mundo e a identificar os instrumentos de conhecimento para tal investigação, partindo das ciências naturais, que indicam a estrutura do universo, e das ciências históricas, que esclarecem a história universal do próprio “homem”, como ser relacional. Na Grécia Antiga, só para situar a questão, Platão dizia a seus alunos, da Academia, que “ninguém poderia estudar ali se não fosse “geômetra”. Portanto, a filosofia não pretende ignorar os conhecimentos científicos. A dimensão teórica da filosofia, por necessidade, dialoga e mantém estreitos laços de afinidade com as dimensões da ética e da busca da salvação. Essa dimensão filosófica da busca salvação, não se refere a salvação prometida pela “religião”, mas propõe um modo de vida “livre e feliz”, na medida do possível, considerando as limitações humanas. Destina-se, afinal, a dimensão da busca da salvação, vencer o medo natural despertado pela finitude humana. Como visto, a filosofia se apresenta em três dimensões: teórica, ética e busca da salvação.

O tema proposto “teorização da linguagem” se situa no campo fértil da dimensão teórica, pois a linguagem, já na Grécia Antiga, não passou a largo da percepção filosófica, embora, àquele tempo, ainda não havia a pretensão de construção de uma teoria. Apesar disso, Aristóteles, em sua “Retórica”, trata da linguagem de um modo especial, acentuando, como prova, as figuras do anunciador – aquele que exercita ou emite a linguagem –, do evento – a ideia ou objeto anunciado –, e do auditório – que  seria, então, o receptor da linguagem exercitada ou emitida pelo anunciador. Essa constatação de Aristóteles, constituiu-se num passo importante para a vindoura “teorização da linguagem”.

O Apóstolo Paulo, nos primeiros tempos depois de Cristo, em sua Primeira Carta aos Coríntios – 1 Cor. 2, 1 – ao tratar, por acaso, da linguagem, no anúncio da “boa-nova”, pregou “(...) Irmãos, quando fui à vossa cidade anunciar-vos o mistério de Deus, não recorri a uma linguagem elevada ou ao prestígio da sabedoria humana (...)”. A “linguagem elevada” referida pelo Apóstolo Paulo, aponta para existência de uma linguagem complexa, de difícil compreensão, que exige, necessariamente, para sua revelação, um intérprete. Com isso, pode-se afirmar que a linguagem tanto pode ser clara, autoreveladora, quanto complexa, de difícil compreensão, sendo que essa exige um intérprete para revelá-la a contento. Convencionou-se que a linguagem clara é denominada de autográfica, e a linguagem complexa, por seu turno, é denominada holográfica, pois requer a intervenção, indispensável, de um intérprete. A questão, porém, não é simples, porque mesmo a linguagem autográfica exige interpretação, ou por aquele que a recebe diretamente, ou por um intérprete. Assim, toda linguagem – autográfica ou holográfica – comporta, naturalmente, interpretação, e o processo interpretativo, quase sempre, remete a vários sentidos ou vertentes.

Em metade do século XIX, os filósofos identificaram, acentuadamente, o problema entre o discurso filosófico anunciado e o entendimento do discurso pelos destinatários dele, em face da imprecisão e de deslizes da linguagem utilizada.

É comum haver distorções entre a linguagem anunciada e o entendimento dela pelo destinatário. O problema é vital, vez que a linguagem é a única forma de comunicação entre as pessoas. A linguagem tem conotações e implicações que, não raro, depende do contexto social ou intelectual em que é usada.

O filosofo Martin Heidegger, arredio ao uso imprudente do vocabulário no discurso filosófico, propôs-se a definir novos termos no discurso, para torná-lo mais compreensível, no contexto, porém não obteve êxito em sua nobre pretensão.

O trabalho inaugural da filosofia da linguagem, para a construção de uma teoria, foi realizado pelo filósofo, lógico e matemático alemão Gottlob Frege, que, ao criticar o pensamento de Aristóteles acerca da linguagem utilizada na retórica, introduziu o modelo matemático para o entendimento da linguagem. Por exemplo, na formulação aristotélica, a proposição: “ Itapecuru-Mirim é bonita”, há um sujeito “Itapecuru-Mirim”, e um predicado “bonita”. Frege, por seu modelo matemático, procedeu a mudança de paradigma, de sujeito para argumento e de predicado para função. Para ele, o argumento e a função só terão sentido, quando agrupados, e considerando o contexto em que a linguagem é exercitada.

De outro modo, o filosofo inglês Bertrand Russel identificou na proposição da linguagem, as vertentes da verdade, falsidade ou sem sentido, ao argumentar que a linguagem ideal deve ser verdadeira, constituída de descrições justificáveis e definidas. Com isso, construiu a “Teoria das Descrições Definidas”.

Após os pensamentos de Frege e Russel, Ludwig Wittgenstein estabeleceu a relação entre linguagem, pensamento e realidade. Concordou com Frege, ao dizer que o significado da linguagem está relacionado ao contexto, e, também, com Russel, ao afirmar que a linguagem e o contexto devem ser entendidos pelas suas descrições. Wittgenstein construiu a famosa “Teoria da Figuração da Linguagem”, argumentando que as proposições da linguagem são verdadeiras representações de possíveis estados de coisas – são retratos delas.

Entretanto, Wittgenstein, em sua obra póstuma Investigações Filosóficas, retratou-se do pensamento anterior, sustentando que o significado da linguagem não depende do contexto e que a linguagem é uma facilitadora da elucidação do sentido.

No desenvolvimento do processo de “teorização da linguagem”, o filosofo inglês John Austin verificou, na proposição linguística, os chamados “atos de fala”. Atos de fala” podem ser identificados nessa proposição: “A mãe diz ao filho que está chovendo”, a saber:

a)    A mãe diz ao filho que está chovendo – ato locucionário;

b)    Indiretamente, a mãe também expressa que se o filho sair, deve sair com o guarda-chuva – ato ilocucionário; e

c)    E, se acaso, o filho sair, e sair com o guarda-chuva, ao realizar o resultado do que a mãe desejava – ato perlocucionário.

A partir das ideias estabelecidas, conclui-se que a linguagem é uma concepção do mundo, a única forma de comunicação entre as pessoas. Ela é um processo de vida, representando uma comunidade de vida e, através do sentido revelado, se manifesta o mundo.

A linguagem, afinal, não é meia, mas fim em si mesma.

Hans-Georg Gadamer, em Verdade e Método, assinala “(...) A linguagem não é somente um dentre muitos dotes atribuídos ao homem que está no mundo, mas serve de base absoluta para que os homens tenham mundo, nela se representa o mundo, mas esse estar aí do mundo é constituído pela linguagem (...)”. E mais adiante completa “(...) que não só o mundo é mundo, apenas quando vem à linguagem, como a própria linguagem só tem sua verdadeira existência no fato de que nela se representa o mundo”.

Nos últimos tempos, intensificaram-se estudos e pesquisas a respeito da linguagem, que, ao lado de promoverem a adoção de métodos, teorias e ideologias sobre proposições linguísticas, verificaram, também, inúmeros obstáculos e problemas referentes ao alcance, por parte da plateia – receptores – dos sentidos constantes nas proposições anunciadas; tudo isso, enfeixa a conclusão de que toda verificação da linguagem está apenas no começo. A linguagem é um indispensável caminho rumo ao infinito.

 

REFERÊNCIAS:

ARISTÓTELES. Retórica. Edipro. Tradução e notas de Edson Bini, 2011.

HEIDEGGER, Martin. A Caminho da Linguagem; tradução de Maria Sá Cavalcante Schnback – Petrópolis – RJ: Vozes; Bragança Paulista: Universitária São Francisco, 2003.

FREGE, Gottlob. Lógica e Filosofia da Linguagem. Tradução Paulo Alcoforado. 2ª ed. Editora da Universidade de São Paulo.

RUSSEL, Bertrand. Bertrand Russel em 90 minutos. Jorge Zahar Editor.

GADAMER, Hans Georg. Verdade e Método I. 5 ed. Traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica. Tradução Flávio Paulo Meurer. Petrópolis: Vozes, 2003.

FERRY, Luc. Aprender a Viver. 2 ed. Tradução Vera Lúcia dos Reis. Editora Objetiva.

  Do livro, Púcaro Literário I (2017), organizado por Jucey    Santana e João Carlos Pimentel Cantanhede.

 

     *BENEDITO COROBA           

Jucey Santana

                    Benedito de  Jesus  Nascimento Neto -  Benedito Coroba - nasceu, em Itapecuru-Mirim,  na localidade  Cigana, em 12 de setembro de 1958. Filho de Antônio Matos Nascimento e Maria Mendes Nascimento.

 Aos 4 anos de idade mudou-se para casa dos avós maternos na área urbana de Itapecuru Mirim e ao completar 6 anos, em  1964, seus pais mudaram-se definitivamente para São Paulo, tendo o menino Benedito, ficado aos cuidados dos avós maternos, Albino Ferreira Mendes e Cecília Abreu da Costa Mendes, que foram seus pais de fato, a maior referencia  de amor e dedicação em sua vida.  

Fez seus primeiros estudos na Escola Paroquial e Ginásio Bandeirante, em sua cidade e cursou o científico no Colégio São Luís, do professor  Luis Rego,  na capital. Em São Luís morou com as primas,  Maria José (Zezé) e Maria Benedita (Baia).

 

O Advogado

 

Em 1977, aos 17 anos ingressou na Faculdade  e Direto tendo colado grau em 1981. Posteriormente, pós-graduou-se em Direito Constitcional.

Voltou a Itapecuru e se dedicou a advocacia criminal  e civil, atuando em toda região do Vale do Itapecuru, Vale do Mearim e Baixo Parnaíba e com atuação no direito agrário nas comunidades rurais  de Itapecuru Mirim e de Vargem Grande, representando os  sindicatos rurais, para solucionar  questões  relacionadas a   desapropriações e  assentamentos, entre os quais os  povoados,   Entroncamento e Leite, antiga aspiração dos seus moradores.

Foi incansável na defesa dos agricultores e dos sem terra  de toda a região do Vale do Itapecuru.

 

Trajetória no Ministério Público

 

Chegou a pleitear o cargo de prefeito Municipal de Itapecuru Mirim em duas ocasiões, no ano de 1988 e em 1992, sem êxito, porém, foi eleito ao cargo de Deputado Estadual em 1990 tendo exercido até o mês de fevereiro de 1995. Na constância do mandato de deputado, em 1994, foi aprovado em concurso para Promotor de Justiça. Requereu  ao Ministério Público que aguardasse o término do seu  mandato para tomar posse, não sendo deferido seu pleito, perdeu o concurso.  

Em abril de 1995 foi novamente aprovado para o Ministério Público, tendo assumido ao cargo de Promotor Público em junho de 1995. Exerceu   suas funções até 13 de setembro de 2018, ocasião que sua aposentadoria foi deferida pelo Ministério Público.

Como Promotor  Público, participou de inúmeros congressos e seminários nas áreas,  penal, processo penal, processual civil e um extenso estudo do Tribunal do Júri em São Paulo e Rio de Janeiro, patrocinado pelo Ministério Público, que investiu bastante em sua carreira, que se sente eternamente grato.

Ministrou durante 16 anos,  cursos e treinamentos nas áreas  de Direito Penal e Processual Civil aos novos colegas promotores que ingressavam no Ministério Público,  e  como especializado em Júri Popular e colaborador da Escola do Ministério Público ministrou inúmeros cursos no segmento do Júri aos colegas promotores.

Benedito Coroba deixou o Ministério Público, como referencia no combate a corrupção e por sua atuação no Tribunal do Júri, além de intensa atividade como Promotor no Tribunal Eleitoral.

Ao longo da sua carreira no Ministério Público, atuou em mais de 800 juris em todo e Estado do Maranhão.

Foi promotor em três Comarcas: São João Batista com abrangência a Cajapió e Bacurituba  (1995 -1999); Alto  Parnaíba, com Termo Judiciário de Tarso Fragoso (1995 - 2004) e Vargem Grande de Nina Rodrigues e Presidente Vargas (2004 – 2018). Recebeu títulos de cidadania das três comarcas e muitas honrarias. Foi muito bem acolhido por onde passou e  conquistado milhares de amigos. 

 

A Família

 

Benedito Coroba é primogênito de uma prole de oito irmãos: Francisco, Maria da Graça, Jorge, Claudia, Angela, Célia e Humberto (Beto).

Seu pai biológico faleceu em São Paulo no ano de 2005 e sua mãe continua em São Paulo, visitada frequentemente pelo filho.

Ele herdou o seu nome do avô paterno, o tabelião do 1º Ofício do Cartório de Itapecuru Mirim e político codoense, Benedito de Jesus Nascimento, que mudou-se para o município em 1950, para assumir o cartório, por concurso público. No município    teve relevante atuação politica, chegando a ser    eleito vice-prefeito em 1960,  na chapa encabeçada por Abdala Buzar Neto. Ainda foi  diplomado mas foi vítima  de morte súbita, não tomando posse.

Em agosto de 1988 casou-se com a  Assistente Social pernambucana,  Teresa Barbosa Maciel (Landi) com quem tem uma filha, Raquel e tem outra filha, Natália, de um casamento anterior, ambas o seu grande orgulho. A filha Natália o presenteou com uma neta.

Ao aposentar-se Benedito Coroba pretende mudar-se para sua cidade natal Itapecuru Mirim  e reabrir o seu escritório de advocacia para atender aos amigos e conterrâneos. 

Vale registrar que na infância e adolescência em Itapecuru Mirim, quase todos os seus amigos atendiam por apelidos, alguns engraçados, geniais ou carinhosos. Um dos seus colegas de colégio chamado “Cabeça de Bagre” o apelidou de Coroba, em virtude de um pequeno incômodo digestivo. Esse apelido o acompanha sem lhe causar constrangimento.

É coautor da obra jurídica "Os Municípios e a Lei de Responsabilidade Fiscal".

Em 2020, foi eleito prefeito da sua cidade natal, Itapecuru Mirim, passando a ocupar a posição de 42º prefeito (entre eleitos e nomeados), desde 1922, quando o gestor municipal, passou a ter essa denominação.

O ilustre itapecuruense, é ocupante da cadeira nº 6 da Academia Itapecuruense de Ciências Letras e Artes, tendo por patrono o ilustre desembargador  itapecuruense, Raimundo Públio Bandeira de Melo.

           BENEDITO COROBA faz parte   da galeria  dos “Itapecuruenses Notáveis”, livro de autoria de Jucey Santana, em segunda edição de 2018.      

 

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