*Antonio Carlos Cardoso
Podemos dizer que Santuário é um lugar especial, privilegiado onde Deus manifesta de modo sensível a sua misericórdia. Sabemos por meio de nossa fé que Deus na história da salvação sempre esteve com o seu povo em qualquer lugar ou tempo, tal que o antigo catecismo nos ensina que Deus está no Céu, na terra e em “toda parte”. Mas por disposição desse mesmo Deus de tamanha bondade, certos lugares recebem de forma única, a sua manifestação que são os Santuários. Aqui em Vargem Grande-Ma, em particular, o Santuário de São Raimundo Nonato dos Mulundus, santuário diocesano.
Desde o antigo testamento os Santuários são pontos de referência para quem busca servir a Deus. As festividades do passa- do eram realizadas nos Santuários principalmente em Jerusalém, para onde se dirigiam os judeus do universo inteiro. O Evangelho de Jesus Cristo nos fala que o próprio Jesus, sua mãe Maria e José seu pai adotivo, peregrinavam anualmente no período pascal a Jerusalém para publicamente fazer a sua adoração a Deus Pai (cf. Lc 2, 41 – 42). Aqui entendemos que o próprio Jesus com sua família eram romeiros e peregrinavam.
No cristianismo grande é o número de Santuários espalhados por toda a terra e já nos primeiros séculos era costume do povo cristão ir a Roma visitar os túmulos dos Apóstolos: São Pedro e São Paulo e essa era também uma caminhada que se cha- mava de romaria. Daí surgiu o termo que usamos ainda hoje para quem vai rezar nos Santuários. Podemos dizer que além de Roma temos outros Santuários famosíssimos, entre eles: o de Fátima, em Portugal; o de Lurdes, na França; o de Assis e o de Pádua, na Itália; o de Guadalupe, no México; o de Aparecida, em São Paulo; o da Penha, no Rio de Janeiro; o de Nossa de Senhora de Nazaré, em Belém; o de São José de Ribamar, no Maranhão; E aquele que vos apresento neste livro compartilhado com os ilustres confrades e confreiras, o de São Raimundo Nonato dos Mulundus, em Vargem Grande-Ma. Santuário esse, que arrasta milhares de fieis a cada ano. Chegando a contabilizar em 2018 quatrocentos mil romeiros durante o seu festejo. E porque não dizer que em 2019 tivemos um percentual de aproximadamente seiscentas mil pessoas.
Como se pode observar na caminhada de fé, o povo de Deus é sempre atraído aos Santuários, alguns por curiosidade, outros pela atração turística, mais a grande maioria pela busca do mistério, do sobrenatural, buscando alivio para o seu sofrimento e outros simplesmente movidos pelo desejo misterioso de chegar mais perto de Deus. Sabe-se que eles buscam algo. Mas o que é que as pessoas realmente encontram nesses lugares? Elas reali- zam a sua experiência de oração com Deus, encontram a alegria da participação, sentem o alivio de suas duras penas, o conforto da palavra de Deus que é proclamada, partilham da Eucaristia, saem agraciados e cheios de esperança que emana dos seus ir- mãos mais simples que ali se encontram partilhando a fé, uma das maiores riquezas do cristão convicto.
Tenha certeza que a principal função de um Santuário é despertar a fé, celebrar a reconciliação e reanimar a esperança do povo de Deus. Pois quem tem fé e esperança entra no mistério, encontra o sobrenatural, sente o milagre da aproximação de Deus e a transformação do coração. Quem antes talvez se sentisse sozi- nho carregando o martírio de seus sofrimentos, passa a ter cons- ciência de que tem um Deus que lhe ama por demais, que olha para cada um de seus filhos e filhas com carinho especial. Esse é um Deus que ouve as nossas súplicas e preces. É ele o Deus de Abraão, Isaac e Jacó.
Queridos romeiros, devotos e povo em geral, toda pessoa que faz sua peregrinação a um Santuário, como peregrino, romei- ro, devoto, turista, ou já movida pela fé, acaba sendo envolvida pela graça de Deus. E quando tudo isso acontece, uma vida nova se inicia, porque o espírito entra em comunhão com o espiritual,
ou seja, o humano dialoga com o Divino e inebria-se da graça de Deus, transforma-se em alegria e esperança, dar-se a experiência do encontro com o Deus trino é a misericórdia do Pai celestial que entrelaça cada peregrino e peregrina que vive alimentando a fé na espiritualidade dos Santuários, aqui em especial o Santuário de São Raimundo Nonato dos Mulundus, que tem um santo vaqueiro como bem é destacado em centenas de cartas recebidas anual- mente e com muito apreço reverenciado pelos ilustres vaqueiros, vaqueiras e todos nós admiradores.
Amado povo de Deus, os nossos Santuários são lugares sagrados onde Deus manifesta a sua glória, onde temos a graça do Pai, da sua misericórdia sendo experimentada, e por isso nosso comportamento deve ser diferenciado neste templo sagrado, que vejo como um local de cura da alma e reabastecimento do corpo.
Num Santuário, e em todo lugar sagrado devemos nos portar com muito respeito, não se trata apenas de um lugar turís- tico, é, sobretudo, um lugar abençoado, e cada vez que entramos em um local desses precisamos escutar aquela voz que ressoou nos ouvidos de Moisés: “tira as sandálias dos pés, pois o lugar que estás pisando é Santo” (cf. Ex3,5). Digo, mantenha a calma, não precisamos entrar descalços no Santuário, quero dizer que é necessário respeitar esse local sagrado.
O respeito ao local sagrado deve-se porque ali se mani- festa a Graça e a Misericórdia de Deus enquanto espaço físico e também no coração de cada um que adentra o local. Por isso o Santuário é um lugar onde se faz silêncio, ali dialogamos com Deus e o escutamos. Isso vale para os momentos das celebrações de missas, de adoração e nas confissões. Ao entrar no Santuário, ore, reze! Não se preocupe com fotografias, é bom desligar o celular ou deixá-lo no silencioso para não atrapalhar o seu momento com Deus e nem atrapalhar a oração dos demais irmãos e irmãs.
O Catecismo nos orienta: “A atitude corporal (gestos, trajes) deve traduzir o respeito, a solenidade, a alegria deste momento em que Cristo se torna nosso hóspede” (CIC §1387). Para ser bem claro, num santuário se deve evitar roupa curta, decota- da, tenha sempre o seu corpo coberto, não fume e não entre com bebidas alcoólicas (...). O Santuário é um lugar santo, você e eu não precisamos chamar mais atenção do que Jesus Cristo, Ele é o centro das atenções. Até mesmo o Santo em festa, sede o lugar de destaque para Ele.
O Santuário é também local de encontro. E observando nesses oito anos com a realização de nove festejos de São Raimundo Nonato dos Mulundus, algumas indagações me foram pertinentes, entre elas: porque os romeiros vêm a cada ano a este Santuário de Vargem Grande? Pergunta essa que deixou os romeiros por mim questionados, surpresos. Não pense que foi fácil explicar-lhes que eu estava apenas querendo conhecer e compreender as motivações que os havia trago a este lugar sagrado. Confesso que desde 2011, momento em que passei a residi em Vargem Grande e assumir a Paróquia de São Sebastião, Santuário de São Raimundo Nonato dos Mulundus, sempre me impressionei com as multidões que acorrem a cada ano a este Santuário denomina- do diocesano que tem a participação de um público diversificado que classifico de regional, nacional e porque não internacional.
Insisto a me perguntar, o que leva, por exemplo, um peregrino a visitar o Santuário de São Raimundo Nonato dos Mulundus? Quais seriam as expectativas de quem visita o Santuário desse Santo? Refletindo cheguei à conclusão que em qualquer Santuário que fôssemos fazer tais perguntas aos romeiros, devo- tos, peregrinos, teríamos respostas muito semelhantes, tais como: sinto-me bem aqui, venho cada ano renovar minha fé, sinto paz ao rezar neste lugar sagrado, vim pagar uma promessa, entre outros. São respostas dessa magnitude que ouvimos dos romeiros de São Raimundo Nonato, que iríamos ouvir dos romeiros de outros Santos.
Saiba que a história de cada romeiro (a), é única. Seus sentimentos, contudo, são muito semelhantes, parecidos aos dos romeiros que, na época de Jesus, visitavam o Templo de
Nestes anos como reitor aprendi que os Santuários têm duas características que eu diria principais: a primeira, é que são lugares que atraem pessoas e, por isso, elas vão ali para responder a um desejo irresistível de visitá-los. E a segunda, é que são centros de irradiação, pois os romeiros voltam para as suas casas, Paróquias, Dioceses, Estados e Países, com nova disposição e renovado desejo de serem melhores cristãos atuando na sua comunidade.
Uma atitude do romeiro que merece destaque, é que ele transforma o ambiente dos Santuários em uma festa continua. Ele sabe que estar ali por um breve tempo, mas o vive com tanta intensidade e em tão profunda comunhão com Deus e com os irmãos que, ao iniciar o caminho de volta, surpreendem-se fazendo uma pergunta: Quando será que voltarei neste local sagrado? Ou faz logo uma nova promessa: se Deus quiser, no próximo ano, estarei aqui novamente meu Santo (a).
Afirmo que durante esses anos a frente do Santuário de São Raimundo Nonato dos Mulundus, testemunhei muitos casos de agradecimentos a Deus por intercessão do glorioso Santo, mas, também de súplicas a São Raimundo para serem pagas no ano vindouro. Digo que Santuário é local sagrado, onde subimos para nos encontrarmos e dialogarmos com Deus e com os Santos.
Portanto, vimos a este lugar sagrado para pedir, agradecer, chorar, sorrir (...). São Raimundo Nonato dos Mulundus. Rogai por nós. Amém.
Do livro, O Iguaraense, 175 anos de Vargem Grande (2020), pag. 91. Organizado por Jucey Santana.
*Padre Antonio Carlos Cardoso de Matos, filho de José Cardoso de Matos e Francisca Batista Cardoso de Matos, natural de Anajatuba, nascido em 04 de abril de 1975. Trabalhos literários – Livros publicados: Direcionamentos Básicos sobre os sacramentos do Batismo e Matrimônio; Preparação à Iniciação Cristã; O qua significa? Sou Cristão, quero saber; O vaqueiro conclamado Santo pelo povo! São Raimundo Nonato dos Mulundus – um canal das realizações de Deus; Venha sorrir comigo e aprender com a Bíblia; Família, local de cura. Receitas de um Padre. O remédio é Jesus. Membro fundador da Academia Vargem-grandene de Letras e Artes, ocupante da cadeira nº 01, patroneada por São Raimundo de Mulundus, o Santo Vaqueiro.
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