terça-feira, 6 de julho de 2021

SAMIRA FONSECA TOMA POSSE NA ACADEMIA DE LETRAS DE VARGEM GRANDE

Discurso de posse da escritora Samira Fonseca na Academia Vargem-grandense de Letras  em 30 de junho de 2021

Samira Fonseca


Eis que é chegada a hora de tecer algumas palavras sobre José Jorge Gomes Rodrigues, o tão querido Zé Jorge ou Barão, para os amigos próximos, patrono da cadeira de número 33 da Academia Vargem-Grandense de Letras e Artes.

 Considero difícil a missão de cumprir o que prescreve o regimento interno desta casa de defender e exaltar o nome de Zé Jorge, este que nasceu na cidade de Itapecuru-Mirim, no dia 31 de dezembro de 1957, era filho de José Rodrigues Sobrinho e Raimunda Martins Gomes Rodrigues, mas suas raízes estão em Vargem-Grande, pois ele era neto do líder político da região, José Firmino Gomes, eis a forte razão da inclinação do saudoso Barão para a política em Itapecuru.

Zé Jorge, aquele homem de estatura mediana, olhar carrancudo, voz grave, riso escasso era formado em História e chegou a lecionar em várias escolas do município, tanto as públicas como as privadas. Sua paixão era grande pela História, tanto que tinha o sonho de fundar o Instituto Histórico e Geográfico de Itapecuru-Mirim, todavia, Vargem-Grande também era presente em sua vida, como se atesta no livro O Iguaraense, antologia organizada pela escritora e pesquisadora Jucey Santana, onde ela mesma afirma que a Academia Vargem- Grandense de Letras e Artes o tinha como grande entusiasta pela fundação da casa, e mesmo estando com a saúde fragilizada questionava sobre a criação da Casa de Nina Rodrigues.

Recordo ainda dos tempos de outrora em que Zé Jorge era o comentarista de um programa de rádio em Itapecuru, com sua voz inigualável ele tecia suas análises sobre o cenário político, esportivo, econômico e cultural do Brasil e do Mundo, em uma época em que a tecnologia não era tão fácil como nos dias de hoje. E foi ouvindo esse programa de rádio, que nasceu uma admiração por aquele homem sábio do meio intelectual o que fez com que esta acadêmica o transformasse em um dos personagens do livro O Mistério da Casa de Cultura.

  Relembro como se fosse hoje dos dias e das noites em que Zé Jorge sentava a porta da Secretaria de Educação de Itapecuru para aguardar o vigia que abriria os portões do auditório para a realização das reuniões de fundações da Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes- AICLA, e foi exatamente ali, pela vez primeira que aproximei-me do meu personagem que seria o primeiro secretário da Casa de Mariana Luz, ocupante da cadeira de número 18 patroneada por João da Silva Rodrigues.


De família de políticos, tendo o irmão e a cunhada sido prefeitos de Itapecuru, Zé Jorge tentou enveredar para a mesma senda, mas não logrou êxito quando se candidatou para deputado estadual, isso porque o seu forte era assessorar parlamentares, isso ele fazia como nenhuma outra pessoa. Muitas vezes, eu mesma o via na Biblioteca Pública Benedito Buzar ao lado de alguns edis que buscavam auxilio dele para produzir seus projetos.

Sempre envolvido no meio cultural, era participante assíduo dos eventos populares como Carnaval, São João e outras festas da cidade, Barão chegou a presidir o tão famigerado Clube dos Vaqueiros de Itapecuru-Mirim. Contudo, o que ele mais amava era a boemia da cidade, a comunhão com poetas, compositores, prosadores e intelectuais itapecuruenses que sempre se reuniam no “bar dos poetas”, que é o Boteco do Zé Paulo, para ouvir a boa música, discutir, filosofia, política e literatura.

Zé Jorge também escreveu vários poemas que exaltam a cidade de Itapecuru e crônicas reflexivas sobre figuras simples do nosso cotidiano, da História, Geografia e Política da terra natal de Mariana Luz. A pesquisadora Jucey Santana confirma a existência de três: “Eu e o Tempo, O Prazo e Pensamento, que são inéditas. Na prosa destacam-se os textos: Miquilina Fonte Natural e Cristalina”, “Reflexão sobre Pãozinho”, “Histórias de Nossas Ruas”, “Uma Emissora de Rádio”, “Açude do DER: obra do Homem e Fonte da Miquilina: Obra de Deus.

No dia de sua partida, derradeira vez que seu corpo esteve por sobre a velha Itapecuru-Mirim, pode ser descrita com as mesmas palavras de Machado de Assis: “Súbito, relampejou; as nuvens amontoavam-se às pressas. Relampejou mais forte e estalou um trovão. Começou a chuviscar grosso até que desabou a tempestade. Foi exatamente assim a despedida do Barão, era uma chuva dolorosa, como se no Phanteon celeste Itapecuru, todos os vultos históricos chorassem pela partida do nobre Barão, o Paladino da Cultura Itapecuruense.

Assim, doravante, comprometo-me honrar e defender o nome de José Gomes Rodrigues, na casa de Nina Rodrigues e assim contribuir para o crescimento literário do Vale do Iguará.

Muito obrigada! 

AVE AVLA!

 

 

            Samira Diorama da Fonseca é graduada em Letras, pela Universidade Estadual do Maranhão, e pós-graduada em Metodologias Inovadoras Aplicadas à Educação: Ensino de Língua Portuguesa; e em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, pelo Instituto      de Ensino Superior  Franciscano. Tem experiência na área de Letras, com ênfase         em Literatura   Brasileira, atuando principalmente em Literatura         Modernista, Contemporânea e    Literatura Maranhense. É      romancista,   teatróloga e historiadora. Escreveu os seguintes livros: "O Mistério     da Casa de Cultura", "Maria Passa na Frente", "Crystal: Uma história de sincretismo e encantaria" e "Legião de Maria: A história do  exército mariano em Itapecuru-Mirim". Faz parte da coordenação do Núcleo de Estudos Mariana Luz. Possui experiência como professora de Literatura da Universidade Estadual do   Maranhão - Campus Itapecuru-Mirim. Foi eleita membro efetivo da Academia Vargem-Grandense de Letras e Artes e atualmente é a Secretária de Cultura de Itapecuru-Mirim.

 


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