segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

AS VACINAÇÕES DE 1904 E 2021

 *Benedito Buzar

No Brasil, em dois momentos da sua história, a vacinação da população gerou problemas sociais e políticos de gravidade.

Mesmo ocorrendo em épocas históricas distintas, um problema de saúde pública mostrou como o povo e o poder, no passado e no presente, agiram e se comportaram de modo visivelmente diferenciados.

Em 1904, o Brasil era governado pelo presidente Rodrigues Alves. Em 2021, está sob o comando do presidente Jair Bolsonaro. Entre os dois governos, passaram-se 117 anos. Em que pese a distância cronológica e o posicionamento eloquente dos dirigentes da nação, a vacinação gerou problemas na sociedade e repercussões na cena política.  

Em 1904, Rodrigues Alves providenciou uma vacina para debelar a varíola e proteger a saúde dos mais necessitados e vulneráveis, mas a população recusou-se a tomá-la.

Em 2021, o povo brasileiro queria se livrar do Covid-19, a monstruosa doença que vem causando gritante letalidade no mundo inteiro, mas irresponsavelmente o presidente Bolsonaro não se movimentou, como era sua obrigação institucional, para providenciar vacinas e livrar da morte milhares de brasileiros.  

A REVOLTA CONTRA A VACINA

Segundo o historiador Eduardo Bueno, no seu livro “Brasil Uma História” o estopim da violenta insurreição popular que eclodiu no Rio de Janeiro em novembro de 1904 foi a recusa de boa parte da população da cidade em aceitar o cumprimento da lei, aprovada pelo Congresso, que tornava obrigatória a vacina contra a varíola, lei inspirada no trabalho pessoal do jovem médico Oswaldo Cruz.

“Desconhecida no Brasil, a vacina – já testada com êxito em vários países da Europa – era encarada com desconfiança pelos brasileiros em geral e pelos cariocas em particular, por isso, tão logo as Brigadas Sanitárias passaram a entrar em todas as casas da cidade, acompanhadas por policiais, para vacinar os moradores à força, os adversários da medida começaram a chamá-las  de violadores de lares e túmulos da liberdade.

“Num comício contra a vacina, no dia 10 de novembro, um orador foi preso e a multidão partiu para o confronto com os policiais. A revolta espalhou-se como um rastilho de pólvora e os revoltosos dominaram o centro da cidade, incendiando bondes e depredando e saqueando estabelecimentos comerciais.

“No dia 14 de novembro, uma das principais – e talvez a mais reveladora – das várias faces da rebelião começou a se desvendar: a Escola Militar da Praia Vermelha decidiu unir-se ao povo e aderir ao levante. Ficou evidente que a vacina foi um pretexto para a eclosão de um movimento político-social, provocado pelas classes menos favorecidas contra a carestia, a inflação, o achatamento salarial, o aumento abusivo dos alugueis e a remodelação do centro do Rio de Janeiro, realizado pelo prefeito Pereira Passos.

2021: A LUTA PELA VACINA

 No Brasil, desde o ano de 2020, a população vem sendo atacada pelo Corona Vírus, que já matou mais de 200 mil almas. A despeito dos esforços dos profissionais de saúde, que heroicamente tentaram salvar os infectados, mas em vão, por culpa total do governo federal que não cuidou da doença com capacidade e seriedade, sendo tratada pelo presidente Bolsonaro como uma “gripezinha”, no sentido de impedir a população de se vacinar.

Desde que a maldita doença chegou ao Brasil, o chefe da Nação, com relação ao enfrentamento da pandemia, só agiu no sentido de negligenciar sistematicamente a gravidade da doença; de fomentar aglomerações, de desdenhar e de descumprir medidas preventivas determinadas por autoridades sanitárias; de boicotar a produção e obtenção de vacinas; de desacreditar as vacinas produzidas pelos países com os quais não têm simpatia política e diplomática; de não envidar esforços financeiros e logísticos para assegurar o atendimento emergencial do enfermo; de contribuir por meio de ações e omissões para o adoecimento de milhões de brasileiros.

Por conta desse desleixo e dessa irresponsabilidade, o Brasil só perde para os Estados Unidos, no tocante à morte da população.

 


*Benedito Buzar, nasceu em Itapecuru Mirim. Jornalista, advogado, escritor, professor universitário (aposentado). Ex-deputado estadual. Ocupou cargos no setor público, dentre os quais, chefe de gabinete e secretário municipal de Educação e Ação Comunitária, presidente da Maratur, presidente do Sioge, secretário da Cultura do Maranhão, presidente do Conselho Estadual de Cultura, membro do Conselho Universitário da Universidade Federal do Maranhão, gerente da Gerência de Desenvolvimento Regional de Itapecuru Mirim. Membro da Academia Maranhense de Letras, da qual é o atual presidente. Publicou vários livros.

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