quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

UM TÍTULO DE NOBREZA CONQUISTADO NA REGIÃO DO ITAPECURU

   Nico Bezerra

 Depois de aprender a equilibrar-se e a domar a bicicleta, o desafio maior era aprender a “dar cavalo de pau” – um movimento rápido e brusco com os freios cerrados, de forma que a bicicleta fizesse um movimento de 180 graus sem perder o equilíbrio. Depois de eventuais quedas e joelhos esfolados, dominada a técnica, aí sim, todos poderiam afirmar que você sabia sim andar de bicicleta. O palco dessa aventura pedagógica em Miranda é a atual rua Duque de Caxias, que naquela época era pura piçarra e pela rua não ter nome nós a chamávamos de “rua de Cabo Véi”, um antigo morador dessa rua. Imagino que ele deveria ter tido algum histórico de policial ou militar. Além disso ele era o avô de Paulinho e sua encantadora irmã Paulinha, colegas de escola e de aventuras de “cavalo de pau”.

 

Sempre que passo pelo bairro do João Paulo, em frente ao Quartel do 24º Batalhão, não consigo deixar de levantar a cabeça e fixar o olhar na majestosa estátua do Patrono do Exército Brasileiro sobre seu imponente cavalo no alto do pedestal central da Praça Duque de Caxias, homenagem a Luiz Alves de Lima e Silva. Vejo nesse monumento não apenas uma homenagem ao grande militar brasileiro, vejo ali também um monumento à infância deslumbrada de um garoto de dez anos que, em uma excursão da Igreja Batista de Miranda por São Luís, se vê olhando para o alto, maravilhado diante de tamanha grandiosidade e beleza. Acho que foi ali, ao pé desse pedestal que descobri que o mundo era grandioso e bem diferente do mundinho simplório e sem atrativos em que eu nasci e que vivia. Eu lá, tão criança, parado, olhando para o alto e me imaginando sentado naquele cavalo! Era a glória!

Quando Luiz Alves ainda não era Duque ele foi enviado do Rio de Janeiro para o Maranhão com a missão de usar seu reconhecido talento de estrategista militar para dar fim à revolta dos escravizados e de muitos moradores da região do Itapecuru que se sentiam injustiçados e esquecidos pelo Império. Uma revolta que ganhou notoriedade pela violência das ações e que de certa forma estava assustando o Império entre os anos de 1838 a 1841. Ele chegou como Governador da Província.

Devidamente instalado na Vila de Itapecuru Mirim  e tomando conhecimento do desejo da população em construir uma igreja dedicada à Padroeira local, Senhora das Dores, ele fez uma generosa doação em dinheiro e lançou oficialmente a Pedra Fundamental dessa desejada construção. Assim ele ganhou a simpatia, admiração e lealdade irrestrita da população e de bônus ganhou o sentimento de rejeição e de repulsa da população a Cosme Bento, líder dos escravizados revoltos. Conseguida a captura, prisão e morte por forca do “negro Cosme”, o movimento foi extinto, a região pacificada e o destemido herói recebeu do Império o tão usado título de Duque de Caxias, uma referência à valorosa cidade maranhense que por algum tempo ficou sob o comando dos abatidos rebeldes.


Responsável pelas grandes navegações nos séculos XV e XVI Portugal se fez chegar à América, à África e à Ásia. Assim como colonizou o Brasil também colonizou Timor-Leste, um pequeno país no sudeste asiático. Em 1975 Portugal passando por um momento de transição política se retirou e aí Timor foi invadido pela vizinha Indonésia que lá permaneceu até 1999 quando, por resistência do povo timorense, conseguiu a independência. Antes de sua retirada a Indonésia foi impiedosa: parte da população foi morta e quase toda a infraestrutura do país foi destruída. No caos o Brasil se fez presente com a interferência das Organização das Nações Unidas. O brasileiro Sérgio Vieira de Melo (1948-2003) foi o administrador da transição e com auxílio de tropas do Exército Brasileiro iniciou o período de pacificação e reorganização.

A primeira tarefa dos administradores da ONU foi reconstruir as escolas. Uma delas, na capital Díli, foi em parte reconstruída pelos soldados brasileiros e recebeu o nome de Escola Duque de Caxias onde se encontra um busto em bronze do patrono do Exército Brasileiro na entrada, em homenagem ao país que ajudou a reconstruí-la. O Brasil, que tem em comum a história colonial, é apenas um dos países que têm ajudado Timor a se reerguer. Lembrando que Díli é a cidade do personagem principal do livro Aderito, o Passarinho Lusófono que, por sua paixão pela poesia e pela língua portuguesa se empenha em fortalecer a língua lusófona em seu país.

 


*Nicodemos Bezerra, (Nico Bezerra), Professor de Literatura da Rede Estadual do Maranhão, professor de língua Portuguesa, Pedagogo, Escritor e Poeta, , autor e ilustrador dos livros infantis Uh! Igarapé Encantado (Scortecci) e Aderito, o Passarinho Lusófono (Scortecci), autor participante das coletâneas Histórias Maravilhosas na Fazenda (Literarte) e Lições da Bicharada: Fábulas Encantadas (Helvetia). Participante de oito coletâneas poéticas com lançamentos no Brasil, em Portugal e na Suíça. Também foi coautor do Púcaro I (2017) e Púcaro II (2018). Projeto literário da Academia Itapecuruense de Ciências Letras e Artes, organizado por Jucey Santana e Carlos Pimentel Cantanhede. da Sociedade Cultura Latina do Maranhão (SCLMA) e da Federação das Academis de Letras do Maranhão (FALMA), Membro efetivo da Academia Itapecueuense de Ciências, Letras e Artes (AICLA), ocupante da cadeira nº 03 patroneada por Apolinário Fonseca.

 

 Do livro, O Iguaraense, 175  anos de Vargem Grande (2020), organizado por Jucey Santana.

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