quarta-feira, 19 de março de 2025

PADRE RAIMUNDO CARVALHO

Padre Raimundo Carvalho

       

Jucey Santana

Raimundo Milineu Carvalho Amorim (padre), filho de João Batista Carvalho e Belísia de Amorim Carvalho, nasceu na cidade de Pedreiras (MA), em 2 de julho de 1910. Depois dos primeiros estudos na sua cidade e demonstrando tendência para instrução religiosa, seus pais o encaminharam, em 1923, ao Seminário Santo Antonio onde cursou Humanidades, equivalente ao atual fundamental, tendo concluído em 1928. Em 1929 iniciou o curso de Filosofia e em 1932 cursou Teologia.

             Recebeu a primeira tonsura em 26 de outubro de 1933, pelas mãos de Dom Severino Vieira de Melo, bispo do Piauí, e em 28 do mesmo mês, pelas mãos do mesmo bispo, recebeu as primeiras Ordens Menores de Ostiriato e Leitorato. As últimas Ordens Menores, recebeu em 24 de agosto de 1934, sendo o oficiante Dom Emiliano Locati, bispo de São José de Grajaú, o Sub- diaconato foi ministrado em 22 de setembro de 1935 por Dom Severino Vieira de Melo, do Piauí, o Diaconato em 1º de novembro de 1935 e o sagrado Presbiterato em 3 de novembro do mesmo ano, ambos oficiados pelo mesmo bispo do Piauí.

Em 6 de janeiro de 1936, aos 25 anos, oficiou a Missa Nova, na Igreja Matriz de São Benedito, da cidade de Pedreiras, com a presença de todos os seus familiares.

Em 6 agosto de 1936, foi nomeado por Dom Carlos Carmelo Vasconcelos Mota, vigário cooperador, da Paróquia de São Luís Gonzaga, no município de Bacabal. Em 1º de agosto de 1937, por provisão do mesmo arcebispo, foi nomeado pároco da paróquia de Santa Teresinha, no mesmo município. Em fevereiro de 1944, foi transferido como pároco da cidade de Guimarães, na centenária paróquia de São José, onde permaneceu até dezembro de 1946.

Padre Carvalho nas terras Iguaraenses

Em de janeiro de 1947 foi nomeado vigário da paróquia de São Sebastião, de Vargem Grande, e vigário encarregado da paróquia de São Benedito, de Curuzu (atual São Benedito do Rio Preto), paróquia de Nossa Senhora da Conceição, do distrito de Manga do Iguará, e capela de Santa Luzia, no povoado do mesmo nome atual, Presidente Vargas, em substituição ao padre Alteredo Soeiro Mesquita, que estava sobrecarregado com a administração de duas freguesias, Itapecuru Mirim e Vargem Grande.

O padre logo conquistou a população iguaraense, que pas- sou a depositar confiança em seu novo sacerdote, em uma época de muita intranquilidade política, pobreza, incerteza com o futuro, já que o mundo todo ainda mantinha viva memória do caos causado com a recente Guerra Mundial e opressões com a ditadura ferrenha imposta ao povo por Getúlio Vargas, com repressões, prisões arbitrárias e torturas (1930/1945). Esta era a situação que se encontrava a população quando o clérigo Raimundo Amorim Carvalho entrou em cena.

                   O jovem pastor de 37 anos passou logo a impressão de tranquilidade, amor fraterno e muita determinação aos seus paroquianos.

Ao chegar fundou e otimizou uma escola paroquial, que encontrou o sistema educacional de Vargem Grande muito deficitário para a época, e, mesmo não praticando política partidária, se aliou aos gestores municipais para reivindicar recursos financeiros não só para a igreja, mas para toda a região, já que tinha muito acesso ao Palácio dos Leões, tendo credibilidade em todos os setores políticos, eclesiásticos e educacionais.

Em Vargem Grande existia um pequeno aeroporto, inicia- do ainda por ocasião da Segunda Guerra. Em agosto de 1949,    o Padre Carvalho fez um apelo ao Senador Vitorino Freire, que prontamente doou dois mil cruzeiros para as obras. Tendo sido objeto de campanha do dinâmico prefeito Didi Barroso, deu-se a ampliação e conclusão do aeroporto em sua gestão (1950/1955).

Acordo no Carnaval de 1950

A população vargem-grandense e o Padre Carvalho selaram um acordo para não realizar a festa profana do Rei Momo em 1950, com o compromisso de que o Padre ficasse na cidade, porque geralmente se recolhiam em retiro.

Não só o Padre atendeu ao pedido, como ainda levou o padre Odorico Mata, que chegou à cidade dia 14 de fevereiro, enfrentando estradas cheias de atoleiros no lombo de um burro. De 18 a 23 do mesmo mês, pregaram a palavra, confessaram, batizaram crianças, realizaram casamentos coletivos dos casais que viviam juntos, fizeram mini cursos rurais, recreações, e a igreja ficou sempre lotada. A ação evangelizadora foi liderada pelas Zeladoras do Apostolado da Oração e as Filhas de Maria. Parte da população, principalmente os mais novos e os estudantes em período de férias que se deslocaram a Vargem Grande para as festejos momescos, ficaram insatisfeitos, mas o acordo foi cumprido. .

Acontecimentos históricos na gestão do Pe. Carvalho

Grandes eventos que marcaram a gestão do Padre Carvalho na região do Iguará, a saber:

 

        1.Transferência da Festa de São Raimundo para Vargem Grande, que, desde o início do século vinte, vinha sendo cogitada, pela população, que fosse realizada na sede do município, porque o povoado de Mulundus não oferecia mais estrutura adequada para o festejo que se tornara grandioso.

     2. Os tradicionalistas resistiam, por achar que a festa deveria permanecer no local de origem. Foram anos de negociações, para em 1953, na gestão do arcebispo Dom José Medeiros Delgado, acontecer a transferência da festa. Os conservadores, no entanto, inconformados, continuaram celebrar São Raimundo Nonato em Mulundus; em consenso, a igreja fixou a data do evento no po- voado para o mês de outubro, assim respeitando a religiosidade popular.

 

                  3.Com o regime militar instalado no país em 1964 e a igreja fazendo opção pelas classes oprimidas, para estabelecer contatos diretos com os fiéis, foram criadas as Comunidades Eclesiais de Base, Comissão de Justiça e Paz, Pastoral da Terra, e outras ferramentas para intercâmbio com o homem do campo, os chamados “Sem Terra”; o Padre atuou com presteza nas pas- torais com os agricultores e comunidades urbanas, com fóruns de debates sobre os problemas da região, distribuía aos pobres cestas básicas, contendo alimentos como leite, arroz e farinha, consegui- das da Cáritas do Brasil, e mantinha livre acesso ao governo, apesar do regime militar, para aquisição de benefício para sua região.

 

                  4. Em 25 de dezembro de 1958, o padre Raimundo Carvalho recebeu o título eclesiástico de Cônego Honorário, das mãos do Arcebispo Dom José de Medeiros Delgado, comemorado com entusiasmo pelos paroquianos.

 

                5. Outro episódio importante na sua gestão, foi o Concílio Vaticano II, a reforma religiosa que alterou a estrutura da igreja, mexendo nos dogmas dela, com mudanças radicais, como a missa em latim, que passou a ser celebrada na língua pátria, nos rituais eucarísticos o celebrante passou a se apresentar de frente para os fiéis, e a retirada dos ícones da igreja, foram algumas das mudanças que deixaram os católicos intranquilos quanto ao destino da igreja, porém o padre conduziu as mudanças a partir de 7 de março de 1967, com tranquilidade e metodologia adequada.

 

               6. A pedido do Cônego Carvalho, em 2 de fevereiro de 1967, o arcebispo Dom João José da Mota e Albuquerque levou pessoalmente as primeiras Irmãs Dorotéias para se instalarem em uma das casas da paróquia, para auxiliarem na escola paroquial e na evangelização de toda a região, foram as irmãs: Amabile, Ana Lúcia Puschiavo, Alfoncia Piacente e Donata Azzine.

 

 Padre Carvalho e Padre Albino

 

Em dezembro de 1950, Padre José Albino Campos Filho, assumiu a paróquia de Nossa Senhora das Dores, de Itapecuru Mirim. Em sua recepção estava o padre Carvalho para acolhê-lo, tendo criado um grande laço afetivo entre os dois clérigos.

Sendo o padre Carvalho doze anos mais velho que o vizinho e já conhecendo a região, se tornou um orientador e companheiro com ajuda mútua.

Entre os dias 15 a 29 de março, realizaram um curso de líderes rurais entre Itapecuru e Vargem Grande, dirigidos por técnicos agrícolas de São Luís; os agricultores de Vargem Grande foram todos hospedados por padre Albino.

Conseguiam vantagens governamentais sempre de interesses para as duas cidades. Nas viagens do padre Carvalho, o padre Albino assumia a paróquia de Vargem Grande, e vice-versa.

Na longa enfermidade de padre Albino, o padre Carvalho deu toda a assistência à paróquia de Itapecuru Mirim; aquele per- deu a luta para o câncer em 24 de janeiro de 1970, aos 48 anos de idade; o padre Carvalho oficiou a missa de corpo presente e a missa de sétimo dia foi concelebrada por três cônegos amigos: Gerson Nunes Freire, José Ribamar Carvalho e Raimundo Carvalho.

 

Morte do cônego Raimundo Carvalho

O Cônego Carvalho teve morte por parada respiratória em 19 de abril de 1970. Passou 23 anos em Vargem Grande, estima- do pelo povo, prudente, humilde e muito trabalhador, preocupado com a educação e a promoção dos paroquianos.

Estiveram presentes no velório o arcebispo Metropolitano Dom Mota    e Albuquerque, os cônegos Paulo Sampaio e Gerson Freire, os padres Benedito Chaves (padre de Itapecuru Mirim), Clodomir Brandt, Xavier, Lourenço, Gabriel, Manoel Prest e José Antonio. Recebeu autorização do Arcebispo para seu sepultamento na Igreja Matriz de São Sebastião, onde tem um jazigo especial na igreja que muito amou.

A Academia Vargem-grandense de Letras e Artes, reconhecendo-lhe o mérito, o elegeu para patronear a cadeira número 21, tendo como membro fundador José Sousa de Barros Filho-

                Do livro  O Iguaraense, 175 anos de Vargem Grande (2020) organizado por Jucey Santana



 

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