terça-feira, 4 de agosto de 2015

UMA PONTE CHAMADA SAUDADE


E OUTRAS HISTÓRIAS...

                                                                                                                                         Série  de Crônicas – ano II/nº 20/2015
Por: Josemar Sousa Lima
Antes dela era o mergulho borbulhante das boiadas nas águas limpa do maior rio do Estado do Maranhão sob os gritos e aboios dos vaqueiros e o trabalho paciente dos mestres passadores, chamados para o transporte de pessoas e seus pertences  que desejavam chegar até à Estação do Trem ou de lá vinham com destino a Itapecuru Mirim ou outras cidades da região leste do Estado.
Um dos mais famosos e conhecidos era o mestre Joaquim Passador que, com sua canoa de um pau só, enfrentava a correnteza do rio em qualquer estação do ano, inclusive nos períodos das maiores enchentes. Joaquim Passador tinha como fiel escudeiro nessa tarefa o nosso amigo Zé Cuduca, conforme informações colhidas junto ao meu tio Minzinho que  tem  anos de rio antes de mim.
Depois, lá pelos idos de 1941, o prefeito Felício Cassas comunica ao interventor do Estado do Maranhão, Paulo Ramos, que a Balsa construída pelo Departamento de Estrada de Rodagem – DER, para servir de passagem sobre o Rio Itapecuru, tem apresentado ótimos resultados, possibilitando que caminhões, com cargas pesadas, geralmente babaçu, sejam conduzidas pela balsa até às margens opostas do rio. As boiadas continuavam atravessando a nado...
No dia 18 de agosto de 1943, o interventor PAULO RAMOS, em comemoração ao sétimo aniversário de sua administração, inaugura a rodovia ligando São Luís a Itapecuru Mirim, obra realizada pelo Departamento de Estradas de Rodagem – DER, sob a direção do engenheiro Emiliano Macieira. Bernardo Thiago de Matos era o então prefeito do município de Itapecuru Mirim. A Estrada chegava até a margem esquerda do rio e a travessia para a cidade continuava sendo realizada por balsa
 O município, agora, ligava-se a capital do estado pela Estrada de Ferro São Luis – Teresina, mediante o uso de composições de transporte de passageiros e cargas movidas por máquinas a vapor, conhecidas popularmente como “Maria Fumaça”; por barcos e lanchas, utilizando o Rio Itapecuru; e, ainda, por automóveis e caminhões, pela estrada de chão batido que, no período de inverno, tornava-se praticamente  intrafegável.
Passados cinco anos da inauguração da estrada de rodagem, no dia 9 de agosto de 1948, acontecia a solenidade de inauguração da ponte flutuante sobre o Rio Itapecuru, obra realizada pela Associação Comercial de Itapecuru Mirim, com a colaboração do Governo estadual. A cerimônia, presidida pelo governador Sebastião Archer da Silva, teve a participação do presidente da Associação Comercial, José Alexandre de Oliveira, do prefeito Miguel Fiquene e de empresários e autoridades estaduais e municipais.
A ponte flutuante era um primor da engenharia militar desenvolvida durante a segunda Guerra Mundial. Tinha como suporte grandes batelões lacrados e unidos uns aos outros formando um lastro por onde se estendia a estrutura de madeira ou estrado. Esse estrado formava um tablado por onde os veículos de deslocavam vagarosamente, mas com segurança. Não há registro de acidentes gravas durante o período de operação do sistema.
Tive a oportunidade de na companhia de meu pai assistir a passagem de caminhões carregados sobre a ponte e de vê-la serpentear como uma enorme cobra sucuri até soltar a sua presa do outro lado do rio. Um espetáculo que se completava com a descida e subida dos caminhões pela Rampa Velha. Pena que só funcionava no verão quando as águas do rio se estabilizavam.
A ponte compunha um complexo de obras que envolvia a Rampa Velha, a Ponte Flutuante, um Ramal Ferroviário que ligava a margem oposta à rampa até a Estação do Trem, operada por um Bondinho puxado a Burro destinado ao transporte de passageiros e cargas da estação até a margem do rio e vice versa.
Quando tinha cinco anos, em companhia de minha mãe, tive a oportunidade de fazer esse trajeto no bondinho puxado a burro e isso foi tão marcante que mantenho nítidas em minha memória aquelas imagens tão longínquas.
A ponte flutuante prestou relevante contribuição ao desenvolvimento econômico e social da região e operou por oito longos anos, até o dia 30 de junho de 1956, quando foi desativada em razão da nova ponte de concreto, inaugurada em  01 de julho de 1956.
A última notícia sobre a Ponte Flutuante é datada de 3 de outubro de 1956 e dá conta de que o prefeito Cinéas Santos pede autorização à Câmara Municipal para vender em hasta pública a antiga ponte flutuante do Rio Itapecuru, desativada em face da inauguração da nova ponte de concreto.
Não consegui informações sobre quem adquiriu e para onde foi a bela Ponte Flutuante, mas com certeza, foi serpentear em outras águas... E nós aqui reconhecendo os relevantes serviços prestados agradecemos também pela beleza plástica que ela emprestava a esse pedaço do Rio Itapecuru, conforme pode ser visto no registro fotográfico mesmo empalidecido pelo tempo.
Neste mês de agosto registro os aniversários de nascimento de personalidades  que participam da Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes – AICLA, na condição de Patronos, e que merecem todo o nosso respeito e consideração em razão dos serviços prestados ao desenvolvimento cultural do nosso município. Rendo, em nome da AICLA, homenagens e agradecimentos a todos os seus familiares:
RAIMUNDO NONATO BUZAR, nascido em Itapecuru Mirim em 26 de agosto de 1932, destacou-se como músico, compositor e produtor musical, sendo um dos fundadores do movimento musical conhecido como Pilantragem. Faleceu  no Rio de Janeiro em 2 de fevereiro de 2014;
BERTULINO CAMPOS, folclorista popular, nascido em 24 de agosto de 1915. Faleceu em 23 de abril de 2012.

JOAQUIM HENRIQUE DE ARAÚJO,  músico, arranjador e alferes de Cavalaria, nascido em agosto de 1894. Faleceu em 29 de março de 1994. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário