terça-feira, 5 de janeiro de 2016

ONDE ESTÃO OS ITAPECURUENSES?



Por: Assenção Pessoa
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, tem uma estimativa de população para o município de Itapecuru Mirim em 2015, de 66.433 habitantes (dados da Diretoria de Pesquisas – DPE, e Coordenação de População e Indicadores Sociais - COPIS). Com esses dados Itapecuru Mirim torna-se a cidade mais populosa e com o maior PIB (Produto Interno Bruto) da Microrregião de Itapecuru Mirim e a 18º maior cidade do Estado do Maranhão.

Mas, onde estão esses itapecuruenses? No meu livro Itapecuru Mirim, sua gente, sua história, trata desse tema diretamente ligado à qualidade de vida e modos de ver, sentir e agir desse povo hospitaleiro e amigo. E aqui faço algumas ressalvas e registros.

 A zona urbana concentra-se a maior parte da população, distribuídas no centro, bairros e periferias. Muitas pessoas saem da zona rural na expectativa de melhorar de vida. É o que chamamos de Êxodo Rural. No entanto, o êxodo rural é prejudicial à cidade a aos imigrantes rurais que nem sempre encontra trabalho digno, e acabam morando em ambientes sem estrutura de moradia, em sua maioria são casas de taipas ou alvenarias mal acabadas, sem conforto, com deficiência de rede elétrica e água tratada, sem serviços de esgoto e até mesmo, sem escolas para os filhos. Assim se formam as “invasões” a terrenos aparentemente sem utilidade para seus respectivos donos.

Com isso a cidade fica superpopulosa, aumentado, os lixões a céu aberto, com um sistema de esgoto deficitário, o que causa indiscriminada proliferação de animais e insetos promotores de doenças, como as verminoses, as protozooses, viroses e as micoses. Para muitas famílias da periferia faltam fossa séptica adequada, filtros de água, mosquiteiros para que impeça a picada de mosquitos transmissores de doenças, faltam campanhas eficientes de combate a dengue, virose causada pelo mosquito Aedes aegypti (nomenclatura taxonômica para o mosquito que é popularmente conhecido como mosquito-da-dengue ou pernilongo-rajado). Falta um ambiente limpo e acolhedor. Isso se comprova quando se visita a Invasão do “Bairro da Maconha”, do Lago Encantado e periferias.

Já na zona rural, os costumes são bem diferentes da cidade, embora já haja algum progresso. Geralmente os moradores vivem dentro de fazendas que não são de sua propriedade, o que dificulta a vida no campo. Outras famílias já possuem seus próprios sítios e assim, retiram deles o próprio sustento. O sistema produtivo ainda é muito rudimentar, tendo na maioria apenas a roça de toco para sua sobrevivência e subsistência. Essa realidade ainda é pior na maioria das comunidades remanescente de quilombos e que não possuem nenhuma forma de incentivo dos governos. Nesse contexto maioria das escolas dos povoados e postos de saúdes são deficitários. As condições sanitárias dessas famílias são extremamente carentes, na maioria das casas, apenas uma casinha ao fundo dos quintais com um buraco ou a céu aberto, contaminando o solo. Contudo é muito interessante a vida no campo, além de ser muito importante a luta do trabalhador rural e das quebradeiras de coco, para subsistência de suas famílias.

Faço aqui um destaque às quebradeiras de coco babaçu que sofrem com o descaso das autoridades locais com relação a seus projetos, uma vez que essa atividade serve para contribuir na renda familiar e promover a independência e cidadania dessas mulheres.  A extração da amêndoa é feita de maneira convencional, o machado ainda é a principal ferramenta. O babaçu ainda é fonte de renda e dá origem ao azeite, que é ingrediente indispensável na alimentação do lavrador. A renda com o babaçu não é boa, pois, o produto não é valorizado. Mesmo assim, o dinheiro serve para que as mulheres ajudem os maridos na alimentação da família. “As mulheres das palmeiras”, como são chamadas as quebradeiras de coco têm no fruto do babaçu a garantia do sustento de suas famílias.

A história do coco da palmeira do babaçu é a história de toda a vida dessas mulheres do sertão do Maranhão e de Itapecuru Mirim. Aqui a palmeira do babaçu é livre, mas a terra não é das quebradeiras, embora elas possam entrar e sair quando quiserem para juntar os cocos ou outros elementos da palmeira. Essas mulheres, além do coco livre, conseguiram montar uma fábrica de sabonetes e uma padaria através de uma Cooperativa. A fábrica de sabonetes ainda está longe de dar lucro, mas faz parte do reconhecimento e crescimento profissional dessas mulheres. Quebrando o coco, para vender a castanha, trabalhando com a massa do mesocarpo, extraindo o óleo ou fabricando sabonetes essas mulheres lutam no dia-a-dia para vencer as adversidades que a profissão lhes impõe.

Mas é importante ressaltar que a zona rural é fundamental para o desenvolvimento econômico e sustentável de uma cidade. O campo e a cidade dependem um do outro. Dessa forma há que se pensar nas melhorias de condições de vida para a zona rural, bem como, melhores condições de trabalho e sobrevivência. As estradas vicinais devem ser prioridades para qualquer governante, além das condições de moradia, saúde, educação e lazer.


O texto foi extraído do livro Itapecuru Mirim, sua gente, sua história, de autoria da professora licenciada em Biologia, escritora e Membro

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