Orgulho-me
por ser, desde abril de 2017, o primeiro ocupante da cadeira de nº 24 da
Academia Ludovicense de Letras (ALL), que tem como Patrono Manuel Viriato
Correia Baima do Lago Filho ou simplesmente Viriato Corrêa.
Grande intelectual maranhense Viriato Corrêa, que,
além de escritor, foi jornalista, dramaturgo e político, nasceu em Pirapemas,
na época, povoado de Itapecuru Mirim, no
ano de 1884, tendo falecido no Rio de Janeiro, em 1967.
Filho de
Manuel Viriato Correia Baima e de Raimunda Silva Baima, ainda criança deixou a
cidade natal para fazer os cursos primário e secundário em São Luís do Maranhão.
Começou a escrever aos 16 anos os seus primeiros contos e poesias. Concluídos
os estudos básicos, mudou-se para Recife, cuja Faculdade de Direito frequentou
por três anos. Seus planos incluíam, porém, morar no Rio de Janeiro, e sob o
pretexto de terminar o curso jurídico na então capital federal foi juntar-se à
geração boêmia que marcou a intelectualidade brasileira no começo daquele
século.
Em 1903
saiu no Maranhão o seu primeiro livro de contos, “Minaretes”, marcando o aparecimento de Viriato Corrêa como
escritor. O livro, no entanto, não agradou muito a crítica literária da época.
Com ajuda
de Medeiros e Albuquerque, de quem se tornou amigo, Viriato Corrêa trabalhou
na “Gazeta de Notícias”,
iniciando carreira jornalística que se estenderia por longos anos e no
exercício da qual seria colunista do “Correio da Manhã”, do “Jornal do Brasil” e da “Folha do Dia”, além de fundador do “Fafazinho” e de “A Rua”. Colaborou também em “Careta”, “Ilustração
Brasileira”, “Cosmos”, “A Noite Ilustrada”, “Para Todos”, “O Malho” e “Tico-Tico”, entre outros.
Boa parte
de seus escritos consagrados em livro foram divulgados pela primeira vez em
páginas de periódicos. Assim ocorreu com os “Contos do sertão”, que foram publicadas primeiramente na “Gazeta de Notícias” e depois reunidos
em volume e publicados em 1912, redimindo Viriato Corrêa do insucesso de Minaretes.
Outros
livros de ficção viriam depois confirmar o sucesso do contista maranhense que
se inspirava no cotidiano burguês ou campestre em cenários exclusivamente
brasileiros.
Obteve
significativa notoriedade no campo da narrativa histórica, ao lado de Paulo
Setúbal, que também se dedicou ao gênero. Enquanto o escritor paulista deu
preferência ao romance, Viriato Corrêa optou pelas historietas e crônicas, com
o claro objetivo de alcançar o leitor comum. Escreveu no gênero mais de uma
dezena de títulos, entre os quais se destacam “Histórias da nossa História”
(1921), “Brasil dos meus avós” (1927)
e “Alcovas da História” (1934).
Com o
intuito de levar a História também ao público infantil, recorreu à figura do
afável ancião que reunia a garotada em sua chácara para a fixação de
ensinamentos escolares. As sugestivas “lições do vovô” encontram-se em livros
como “História do Brasil para
crianças” (1934) e “As
belas histórias da História do Brasil” (1948).
Viriato
deixou ainda muitas obras de ficção infantil, entre elas o famoso e célebre
romance “Cazuza” (1938),
um dos clássicos da nossa literatura infantil, em que descreve cenas de sua
meninice.
Viriato
Corrêa foi ainda um fecundo e festejado autor teatral. Escreveu perto de trinta
peças, entre dramas e comédias, que tratavam sobre ambientes sertanejos e
urbanos, vinculando-o à tradição do teatro de costumes que vêm de Martins Pena
e França Júnior.
Viriato Corrêa foi deputado estadual no Maranhão,
eleito em 1911, e deputado federal pelo nosso estado em 1927 e 1930. Por sua
significativa contribuição cultural para o país, foi eleito para a Academia
Brasileira de Letras em 1938.
Conseguiu conciliar, dessa forma, o lado político
com o de literato, enveredando pelo conto, crônica, romance e literatura
infantil, além do teatro, no qual se destacou de forma singular. Viriato Corrêa
é um exemplo de que é possível conciliar política e cultura, e é um imenso
orgulho ser o ocupante numero 1 da cadeira patroneada por ele.
Como
mencionei antes, um dos livros mais famosos do meu patrono na Academia
Ludovicense de Letras, Viriato Corrêa, foi um chamado “Cazuza”.
Houve
um artista na década em que nasci que teve esse apelido, não sei se foi
inspirado nas histórias de Viriato. Mas o Cazuza da década de 1980 criou uma
célebre frase em uma de suas mais famosas canções: “o tempo não para”. Na mesma
canção, o artista disse que via “o futuro repetir o passado” e via “um museu de
grandes novidades”.
Várias
interpretações podem ser feitas dessas sentenças. A que faço é a melhor
possível: é preciso saber preservar o passado; saber de onde viemos; valorizar
as tradições; a cultura; a arte; e a
história.
Dessa
maneira, poderemos garantir que no futuro os mesmos erros não sejam repetidos,
não sejam esquecidos ou apagados. Poderemos garantir que as coisas boas sejam
aprimoradas e que o progresso cultural, científico, histórico e até político da
nossa gente seja feito com base naquilo que foi vivenciado por nós
verdadeiramente.
Do livro Do livro Púcaro Literário II – Itapecuru Mirim,
200 anos (2018) pag. 123. Organizado por Jucey Santana e João Carlos Pimentel
Cantanhede.
Felipe
Costa Camarão, advogado, cronista e contista é Membro Efetivo da Academia Ludovicense de
Letras - ALL, Sócio Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão -
IHGMA e Sócio Correspondente da
Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes – AICLA.
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