Professor, jornalista e escritor
Jucey Santana
Newton de
Carvalho Neves nasceu em Codó no dia 14 de fevereiro de 1896, e faleceu no dia
16 de março de 1975. Filho de Raimundo Coriolano Ferreira Neves, pecuarista,
comerciante e político e de Amélia Dejanira de Carvalho Cantanhede Neves.
Seu pai determinou que ele fosse o
padre da família, e desde os 9 anos o encaminhou ao internato Ateneu
Piauiense, em Teresina; de lá foi para um Seminário em Fortaleza e em
1917 para o Seminário Santo
Antônio em São Luís (MA), onde se ordenou
em dezembro de 1918. Iniciou sua missão pastoral como capelão da Escola
de Catequistas e Casa dos Expostos da Paróquia de São Pantaleão. Foi vigário das paróquias de São João
Batista; Itapecuru Mirim, Araioses e Tutoia.
Em Itapecuru Mirim viveu o maior conflito pessoal de sua
vida. Apaixonou-se pela jovem Guilhermina Nogueira da Cruz. E, para não trair
seus votos sacerdotais, pediu ao seu confessor a transferência da paróquia,
sendo encaminhado para Tutóia. Se se sentindo dividido entre o amor à sua
igreja e à itapecuruense e pressionado pela família desta, retornou a Itapecuru
Mirim em 1924, e em outubro de 1925 casa-se com jovem Gulhermina. Foi expulso
da igreja, perseguido e excomungado.
Sofreu muito com o preconceito da população e a rejeição por parte da Igreja tendo de
suportar problemas de todas as ordens,
principalmente financeiro. Graças
a alguns comerciantes, especialmente os libaneses, com visão menos radical
sobre a questão religiosa, os quais encaminharam seus filhos para estudar com o
padre Newton. Iniciou sua escola na casa
do sogro Bento Nogueira da Cruz. Em 1925 fundou o teatro São José, e em 2 de
abril de 1926, fundou o Instituto
Rio Branco, que se tornou a
maior referência educacional na região. Em 1935 mudou-se para São Luís, transferindo
a direção do Instituto ao professor e
jornalista João Rodrigues. Na Capital, fundou no mesmo ano o Instituto São José, internato e
externato, que dirigiu até 1942.
Em São Luís, lecionou nos seguintes colégios: Arimatéa Cisne, Ateneu Teixeira Mendes,
Instituto Rosa Castro, Centro Caixeiral,
Academia do Comercio, Colégio de São Luís, Instituto Alves Cardoso e
Liceu Maranhense. Foi professor das seguintes disciplinas: português,
matemática, francês, literatura,
história, geografia, latim e filosofia.
De 1942 a 1943 foi nomeado prefeito de São José dos Matões
pelo interventor, Dr. Paulo Ramos.
Retornou a Capital para assumir a Diretoria do Serviço de Economia
Agrícola onde ficou até 1945. E continuou lecionando em São Luís.
Nomeado diretor de Educação de Estado, teve
como missão a expansão da rede educacional em todo o
Estado. Fundou e organizou muitas escolas da Campanha Nacional de Educandários
Gratuitos. Na Capital fundou o Colégio Getúlio Vargas e o Colégio Rio
Branco; em Colinas o Instituto Paulo Ramos; em Coroatá o Colégio Viriato Correa, em
Itapecuru Mirim o Ginásio João Lisboa; em
Imperatriz o Ginásio Bernardo Sayão, e outros estabelecimentos de ensino
em Rosário, Viana e Dom Pedro.
A professora Ariceya Moreira Lima da Silva, diretora da Campanha
Nacional de Escolas da Comunidade – CNEC, em seu pronunciamento
durante a inauguração do Colégio Getúlio Vargas, no bairro Lira, citou:
O Professor Newton Neves
é um idealista, planta escola movido pela bondade e pela educação, deixando por
onde passa, a sombra da cultura para abrigar os jovens do hoje e do amanhã. Possui uma rara, autêntica
e extraordinária vocação de mestre.
De 1953 a 1954, a convite do prefeito de São Luís, Eduardo
Viana Pereira, foi secretario de Educação do Município, sempre tendo por meta a
expansão e melhoria do ensino para, preparar os jovens para o futuro, dizia
o mestre.
Fez parte
da equipe redacional dos jornais, O
Globo, O Imparcial e O Combate,
escrevendo inúmeras crônicas em defesa da educação, da família, da religião e
crítica política.
No
campo da cultura, além do teatro e literatura
dedicou-se também à música. Era exímio tocador de flauta, deixando como legado o livreto de cantos litúrgicos, Lira
Cristã, (1953), e uma grande
quantidade de peças musicais
resgatadas durante o trabalho de
pesquisa do padre João Mohana que teve como resultado a publicação do livro A
Grande Música do Maranhão, (1974). Compôs músicas sacras e populares.
Muitas das suas partituras se encontram tombadas no acervo do Arquivo Público
do Estado do Maranhão. Deixou um livro inédito, Estudos de Português e Minhas
Epístolas.
Durante
toda a sua vida escreveu a Roma, implorando que lhe fosse retirada a excomunhão
e a liberação dos votos sacerdotais para enfim receber a bênção sacramental no
seu matrimônio. Somente em 1944 a igreja
se manifestou, de forma radical, exigindo que o mesmo se separasse da esposa, por estar “vivendo em
pecado”. Fiel à orientação dos dogmas
eclesiásticos, separou-se da família que voltou para Itapecuru Mirim. Ele
escreveu em seu diário: “Eu Newton de
Carvalho Neves, em 6 de março de 1944, por motivo de ordem espiritual, me
separei de Guilhermina Nogueira Neves”. Este episódio marcou a vida do
grande mestre. Talvez por ser tão honesto e íntegro, entrou em grande conflito
espiritual. Questionando seus valores morais, familiares e religiosos.
Viveu afastado dos
familiares durante cinco anos, dedicado exclusivamente ao trabalho, exilado na Igreja de Nossa Senhora do
Rosário dos Pretos em São Luís, onde
viveu duras penitências, adquirindo uma grave enfermidade, sendo resgatado pela
esposa e filhos, a conselho médico. A igreja retirou-lhe a excomunhão,
permitindo-lhe o casamento somente em 1965, depois de 40 anos de espera. O
consórcio religioso ocorreu em 21 de
outubro de 1965, em São Paulo.
Teve onze filhos: José Raimundo, José
Bento, José Cândido, José Trajano, José Edgard, José Newton, Maria Amélia,
Maria Raphinha, Maria Rita, Maria Judith e Maria do Carmo. Faleceu em 16 de março de 1975.
O professor
Newton Neves fez do ensino e da cultura um sacerdócio, iluminador de mentes. A
AICLA reconheceu-lhe os méritos e o imortalizou como patrono da cadeira nº 36.
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