domingo, 24 de fevereiro de 2019

SEBASTIÃO CABRAL





Fundador do Sindicato dos trabalhadores Rurais de Itapecuru
 
  



Jucey Santana

            Sebastião Cabral  nasceu no município de Rosário  em 5 de fevereiro de  1905, era filho de Tiago de Jesus Cabral e Romualda Cabral. Ainda muito jovem mudou-se para o Município de Nina Rodrigues e contraiu núpcias com a filha única do Major Horácio, importante líder político na região.  Sobre a primeira esposa os informes são precários, visto que o enlace se deu, na juventude de ambos e logo depois se separaram por imposição do Major. 

  Depois da separação mudou-se para o povoado de Gaiola Grande município de Vargem Grande se estabelecendo com um pequeno comércio e contraindo núpcias com  Odete dos Santos Cabral. O casal gerou dois filhos, Maria Ribamar em 1940 e Henrique, 1942. 

            Estava prosperando nos negócios quando em 1944 enviuvou e no ano seguinte foi morar em  Itapecuru Mirim. 

Em Itapecuru, foi acolhido pelo Senhor Luís Muniz, e depois foi apoiado por  famílias generosas que se compadeciam da situação daquele  homem, de espírito manso que não cogitava em hipótese alguma  separar-se filhos.  Passou muitas privações financeiras. Em  1952  casou-se com Raimunda Costa Cabral (Mundoca), do povoado de Santo Antônio dos Gundes.  Do matrimônio nasceram quatro filhos: Luís Gonzaga, Sebastiana da Conceição, Manoel de Jesus e José Henrique. 

Trajetória da luta de 1947 a 1962

 Sebastião Cabral juntou as parcas reservas financeiras e passou a viajar para as cidades banhadas pelo rio Mearim comprando peixes que salgava e vendia nos povoados. Nas suas andanças pelas comunidades rurais, começou a sentir de perto o sofrimento dos caboclos para manter suas pequenas propriedades. Suas roças que respondiam  pelo sustento de suas famílias, eram constantemente queimadas ou invadidas pelo gado.  As autoridades não resolviam as questões pelo fato de estarem ligados aos latifundiários, os sub-delegados (delegados da roça) ou inspetores de quarteirões, em sua maioria  eram proprietários, legislava em causa própria.

Para piorar a situação, o Doutor Santos Lima, advogado,  de Chapadinha que  instalou-se no Campo da Cruz em 1948, adquirindo grandes extensões de terra, deixava  os caboclos cada vez mais encurralados, e ameaçados. 

Eclodia em todo município esses episódios  quando Sebastião Cabral entrou em cena. Habilidoso no trato com as pessoas, passou a ser o porta voz  dos caboclos.  

A partir de 1947 ele começou a organizar os grupos de lavradores fomentando a questão agrária e seus direitos com vistas a da criação do sindicado, reunindo-se com os caboclos em cada povoado que visitava com as vendas de peixes. 

Em 1950 fundou de fato o sindicato de Itapecuru Mirim, que mesmo na ilegalidade, agregou um bom número de associados, pessoas simples, que acreditavam nos benefícios agregados a união da classe e a paz no campo.  A primeira diretoria eleita do sindicado constituída em 1950 tinha a seguinte composição: Presidente, Sebastião Cabral; tesoureiro Raimundo Álvaro Mendes (Mundiquinho Mendes) e o secretário, Luís Muniz.  Em 1952 já contava com mais de  300 associados, todos acreditando nas futuras vantagens e garantias sindicais. Porém a situação no campo não melhorou, continuaram as prisões, invasões de roças e  mortes e para piorar passou quase dois anos com gestores municipais  provisórios   pelo fato de João da Silva Rodrigues ter sido eleito em 1950 porém não assumiu  por força de um mandado de segurança  que apontava irregularidades na votação de Cantanhede. Com a transitoriedade, a situação na roça ficou insustentável. 

Em 1952, logo  depois da posse do Prefeito João Rodrigues,   mais de quarenta lavradores, sentados no muro da Prefeitura esperavam o novo gestor  para uma audiência, expondo as dificuldades,  pedindo a demarcação de suas terras  e solicitando que os criadores que prendessem as suas criações. Infelizmente o novo prefeito nada pode fazer. Os maiores dos criadores de gado na época eram: Cassiano Pereira, Chico Sitaro, Paulo Bogea, Manoel Mendes, Antônio Cordeiro, Neném do Sadico, Santos Lima e Manoel Coelho. 

Sebastião Cabral, foi muito perseguido, recebeu várias vezes intimação do delegado, porém sempre recebia apoio dos amigos, que intercedia a seu favor entre eles o Padre Albino, Abdalla Buzar e José Alexandre Oliveira, que sempre foram seus aliados. Sofreu também alguns atentados, emboscadas  mas sempre saía ileso.

            Em 1952, recebeu ordem de prisão. A esposa em adiantado  estado da primeira gestação e os filhos menores, começaram a chorar, implorando que deixassem o pai, então os soldados levaram todos para cadeia. Pela madrugada, os policiais retiraram a família e quando se encontrava sozinho na cela sofreu um atentado por parte do soldado conhecido por Dantas. Ao tomar conhecimento o juiz Pitágoras de Morais  a  cadeia (hoje Casa da Cultura), tendo encontrado o sindicalista gravemente ferido. Tenente Bastos Araújo o delegado, o delegado, recebeu ordem de soltá-lo imediatamente.
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Depois que sofreu o atentado o sindicalista resolveu organizar um grupo de lavradores para se entrevistar com o governador Eugênio Barros. Juntou  151 homens para acompanha-lo. Alguns empresários ajudaram com as passagens de trem e o Coronel José Alexandre os precedeu  para marcar a audiência  e espera-los na estação de trem em São Luís. O inusitado evento ficou muito tempo na memória da população.  Encontraram dificuldades no percurso, as pessoas não queriam transporta-los achando que eram arruaceiros, por estarem pobremente vestidos,  alguns até descalços. 

Chegando a São Luís, Sebastião Cabral e o José Alexandre foram recebido pelo governador, que ainda fez questão de falar com todos os lavradores encaminhando-os  ao quartel da policia militar para que fossem recepcionados com banhos, refeições, roupas limpas e   custeio das  passagens de volta, e prometendo analisar as questão e tentar ajudá-los.
De  volta a Itapecuru houve uma grande audiência, na casa de Jamil Mubarack, com lavradores e criadores, fazendeiros, onde foi selada a paz, com os devidos acordos.  Infelizmente isso não chegou a acontecer.

Alguns dos agricultores participantes da jornada: Vitório Gundes da Costa, Bernardo Rosa, Francisco Davi da Melo, Antônio Eduardo Ferreira, Raimundo Grosso, Amâncio de  Epifânio,  Gregório da Venância, e Brás Rodrigues. O governador ainda chegou a enviar  um trator para ajudar os trabalhadores, que ficou sob a guarda do sindicato.

O Governador  se tornou grande amigo de Sebastião Cabral tendo tentado afastá-lo do movimento oferecendo-lhe emprego  na Estrada de Ferro São Luís Teresina.  Segundo testemunho do seu filho Henrique  o sindicalista recusou-se dizendo: abandonar a luta, seria trair as pessoas que confiam em mim e vender a minha  dignidade. O governador foi padrinho do seu filho Luís Gonzaga,  batizado em 1959 quando Eugênio Barros já era senador. 

 Com o intuito de afastá-lo de Itapecuru  o governador enviou Sebastião Cabral em 1958  ao povoado Eugênio Barros na região de Presidente Dutra (futuro município “Governador Eugenio Barros”), para acompanhar a construção de uma escola. Terminado o trabalho, voltou imediatamente a Itapecuru. 

No final dos anos 50 passou a preparar Bernardo Rosa, que morava com ele para ser o seu sucessor sendo este  alfabetizado por sua filha  Maria Ribamar. 

Prestes a legalização do sindicato, já com grande número de associado, e com os papeis em andamento, no início de 1965 afastou-se definitivamente da presidência do sindicato passando a direção a Bernardo Careca, porém acompanhando toda a trajetória e  comemorando  a legalização do sindicato em 1969, com a sensação de dever cumprido.

Em 1977 sofreu um enfarto, passando 16 anos com dificuldade de locomoção. Faleceu em 11 de dezembro de 1993.

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