Fundador do Sindicato dos trabalhadores Rurais de Itapecuru
Jucey Santana
Sebastião Cabral
nasceu no município de Rosário em
5 de fevereiro de 1905, era filho de
Tiago de Jesus Cabral e Romualda Cabral. Ainda muito jovem mudou-se para o
Município de Nina Rodrigues e contraiu núpcias com a filha única do Major
Horácio, importante líder político na região. Sobre a primeira esposa os informes são
precários, visto que o enlace se deu, na juventude de ambos e logo depois se
separaram por imposição do Major.
Depois
da separação mudou-se para o povoado de Gaiola Grande município de Vargem
Grande se estabelecendo com um pequeno comércio e
contraindo núpcias com Odete dos Santos
Cabral. O casal gerou dois filhos, Maria Ribamar em 1940 e Henrique, 1942.
Estava prosperando nos negócios quando em 1944 enviuvou e
no ano seguinte foi morar em Itapecuru
Mirim.
Em
Itapecuru, foi acolhido pelo Senhor Luís Muniz, e depois foi apoiado por famílias generosas que se compadeciam da
situação daquele homem, de espírito
manso que não cogitava em hipótese alguma
separar-se filhos. Passou muitas
privações financeiras. Em 1952 casou-se com Raimunda Costa Cabral (Mundoca),
do povoado de Santo Antônio dos Gundes.
Do matrimônio nasceram quatro filhos: Luís Gonzaga, Sebastiana da
Conceição, Manoel de Jesus e José Henrique.
Trajetória da luta de 1947 a 1962
Sebastião Cabral juntou as parcas reservas
financeiras e passou a viajar para as cidades banhadas pelo rio Mearim
comprando peixes que salgava e vendia nos povoados. Nas suas andanças pelas
comunidades rurais, começou a sentir de perto o sofrimento dos caboclos para
manter suas pequenas propriedades. Suas roças que respondiam pelo sustento de suas famílias, eram
constantemente queimadas ou invadidas pelo gado. As autoridades não resolviam as questões pelo
fato de estarem ligados aos latifundiários, os sub-delegados (delegados da
roça) ou inspetores de quarteirões, em sua maioria eram proprietários, legislava em causa
própria.
Para
piorar a situação, o Doutor Santos Lima, advogado, de Chapadinha que instalou-se no Campo da Cruz em 1948, adquirindo
grandes extensões de terra, deixava os
caboclos cada vez mais encurralados, e ameaçados.
Eclodia
em todo município esses episódios quando
Sebastião Cabral entrou em cena. Habilidoso no trato com as pessoas, passou a
ser o porta voz dos caboclos.
A
partir de 1947 ele começou a organizar os grupos de lavradores fomentando a
questão agrária e seus direitos com vistas a da criação do sindicado,
reunindo-se com os caboclos em cada povoado que visitava com as vendas de
peixes.
Em 1950
fundou de fato o sindicato de Itapecuru Mirim, que mesmo na ilegalidade,
agregou um bom número de associados, pessoas simples, que acreditavam nos
benefícios agregados a união da classe e a paz no campo. A
primeira diretoria eleita do sindicado constituída em 1950 tinha a seguinte
composição: Presidente, Sebastião Cabral; tesoureiro Raimundo Álvaro Mendes
(Mundiquinho Mendes) e o secretário, Luís Muniz. Em 1952 já contava com mais de 300 associados, todos acreditando nas futuras
vantagens e garantias sindicais. Porém a situação no campo não melhorou,
continuaram as prisões, invasões de roças e
mortes e para piorar passou quase dois anos com gestores municipais provisórios
pelo fato de João da Silva Rodrigues ter sido eleito em 1950 porém não
assumiu por força de um mandado de
segurança que apontava irregularidades
na votação de Cantanhede. Com a transitoriedade, a situação na roça ficou
insustentável.
Em
1952, logo depois da posse do Prefeito
João Rodrigues, mais de quarenta
lavradores, sentados no muro da Prefeitura esperavam o novo gestor para uma audiência, expondo as
dificuldades, pedindo a demarcação de
suas terras e solicitando que os criadores
que prendessem as suas criações. Infelizmente o novo prefeito nada pode fazer.
Os maiores dos criadores de gado na época eram: Cassiano Pereira, Chico Sitaro,
Paulo Bogea, Manoel Mendes, Antônio Cordeiro, Neném do Sadico, Santos Lima e
Manoel Coelho.
Sebastião
Cabral, foi muito perseguido, recebeu várias vezes intimação do delegado, porém
sempre recebia apoio dos amigos, que intercedia a seu favor entre eles o Padre
Albino, Abdalla Buzar e José Alexandre Oliveira, que sempre foram seus aliados.
Sofreu também alguns atentados, emboscadas
mas sempre saía ileso.
Em 1952, recebeu ordem de prisão. A esposa em adiantado estado da primeira gestação e os filhos
menores, começaram a chorar, implorando que deixassem o pai, então os soldados
levaram todos para cadeia. Pela madrugada, os policiais retiraram a família e
quando se encontrava sozinho na cela sofreu um atentado por parte do soldado
conhecido por Dantas. Ao tomar conhecimento o juiz Pitágoras de Morais a
cadeia (hoje Casa da Cultura), tendo encontrado o sindicalista
gravemente ferido. Tenente Bastos Araújo o delegado, o delegado, recebeu ordem
de soltá-lo imediatamente.
.
Depois
que sofreu o atentado o sindicalista resolveu organizar um grupo de lavradores
para se entrevistar com o governador Eugênio Barros. Juntou 151 homens para acompanha-lo. Alguns
empresários ajudaram com as passagens de trem e o Coronel José Alexandre os
precedeu para marcar a audiência e espera-los na estação de trem em São Luís.
O inusitado evento ficou muito tempo na memória da população. Encontraram dificuldades no percurso, as
pessoas não queriam transporta-los achando que eram arruaceiros, por estarem
pobremente vestidos, alguns até
descalços.
Chegando
a São Luís, Sebastião Cabral e o José Alexandre foram recebido pelo governador,
que ainda fez questão de falar com todos os lavradores encaminhando-os ao quartel da policia militar para que fossem
recepcionados com banhos, refeições, roupas limpas e custeio das
passagens de volta, e prometendo analisar as questão e tentar ajudá-los.
De volta a Itapecuru houve uma grande audiência,
na casa de Jamil Mubarack, com lavradores e criadores, fazendeiros, onde foi
selada a paz, com os devidos acordos.
Infelizmente isso não chegou a acontecer.
Alguns
dos agricultores participantes da jornada: Vitório Gundes da Costa, Bernardo
Rosa, Francisco Davi da Melo, Antônio Eduardo Ferreira, Raimundo Grosso,
Amâncio de Epifânio, Gregório da Venância, e Brás Rodrigues. O
governador ainda chegou a enviar um
trator para ajudar os trabalhadores, que ficou sob a guarda do sindicato.
O
Governador se tornou grande amigo de
Sebastião Cabral tendo tentado afastá-lo do movimento oferecendo-lhe
emprego na Estrada de Ferro São Luís
Teresina. Segundo testemunho do seu
filho Henrique o sindicalista recusou-se
dizendo: abandonar a luta, seria trair as
pessoas que confiam em mim e vender a minha
dignidade. O governador foi padrinho do seu filho Luís Gonzaga, batizado em 1959 quando Eugênio Barros já era
senador.
Com o intuito de afastá-lo de Itapecuru o governador enviou Sebastião Cabral em
1958 ao povoado Eugênio Barros na região
de Presidente Dutra (futuro município “Governador Eugenio Barros”), para
acompanhar a construção de uma escola. Terminado o trabalho, voltou
imediatamente a Itapecuru.
No
final dos anos 50 passou a preparar Bernardo Rosa, que morava com ele para ser
o seu sucessor sendo este alfabetizado
por sua filha Maria Ribamar.
Prestes
a legalização do sindicato, já com grande número de associado, e com os papeis
em andamento, no início de 1965 afastou-se definitivamente da presidência do
sindicato passando a direção a Bernardo Careca, porém acompanhando toda a
trajetória e comemorando a legalização do sindicato em 1969, com a
sensação de dever cumprido.
Em 1977
sofreu um enfarto, passando 16 anos com dificuldade de locomoção. Faleceu em 11
de dezembro de 1993.
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