segunda-feira, 30 de setembro de 2019

A QUINTA VELHA



   

Atual Associação do Banco do Brasil – AABB

Jucey Santana
Segundo os habitantes mais antigos, a povoação de Itapecuru Mirim começou na Quinta Velha, propriedade dos padres jesuítas, desde o século XVII.

Os jesuítas tinham como objetivo a colonização e evangelização dos silvícolas. Eles eram também grandes negociantes. No local, ao lado direito do rio Itapecuru, instalaram uma feitoria para explorar as riquezas regionais, praticar negócios, escambos e criação de gado bovino, cavalar e caprino. A renda subsidiava o sustento da Companhia de Jesus e o trabalho missionário.

O historiador Jerônimo Viveiros, em História do Comércio do Maranhão, cita os jesuítas como proprietários de fazendas em várias localidades, inclusive em Itapecuru. Antônia Mota, em Família e fortuna no Maranhão Colonial (2006), afirma que mantinham um lucrativo negócio de exportação, possuíam salinas, olarias, fazendas e tinham até um porto para escoar a produção.

Desde 1615 os jesuítas já estavam na ribeira do Itapecuru, de acordo com o mapa da expansão jesuíta, do padre, Serafim Leite em História da Companhia de Jesus no Brasil (1938). A princípio a convivência foi perigosa, com vários ataques dos silvícolas da região.

Em 28 de agosto de 1649, os tapuias Uritis atacaram o acampamento dos jesuítas, matando os padres Francisco Pires, Manoel Muniz e o irmão Gaspar. Também houve massacres perpetrados pelos Guanarés e Ubirajaras, conhecidos por “Barbados”, como a chacina ao padre João Vilar em 1719, na aldeia de São Miguel. Os “Barbados” também foram protagonistas da emboscada em 1721, em que foram vítimas os missionários, liderados pelo padre Gabriel Malagrida, estando presentes vários índios Caicazes, amigos dos jesuítas. Todos foram trucidados, à exceção do padre Malagrida, que ficou gravemente ferido, ocorrência bastante lamentada pela sociedade e pelos irmãos da Ordem, pela importância do padre Malagrida junto ao governo e às autoridades eclesiásticas. 

Houve várias outras escaramuças contra os jesuítas.

        Histórias de tesouros enterrados

Em 1757, com a expulsão dos jesuítas de Portugal e de suas Colônias, no reinado de D. José I, por orientação do primeiro-ministro, o Marquês de Pombal, que os acusava, entre outras coisas, de praticarem comércio ilegal, não pagarem impostos e incitarem a população contra o governo português. Eles foram deportados e seus bens confiscados pelo governo colonial.

Enterrar os seus bens era um costume comum  entre as  pessoas de posse,  na época colonial, levando a crer que na pressa os padres não puderam transportar todos os pertences, ficando para trás muitos objetos pessoais, utensílios, acessórios litúrgicos e outras relíquias, que foram desenterrados muitos anos depois, em meio a misticismos e crendices de maldição,  por moradores em andanças noturnas clandestinas. É do conhecimento  de boa parte da população Itapecuruense, que  no início dos anos 50, época que ocorreu o desmatamento, para a construção de uma olaria, houve um importante achado  no local, motivo de muitos comentários.

Entrevistado, o comerciante Jamil Mubarack confirmou o fato e informou ainda que adquiriu uma moeda de ouro encontrada  na época da escavação. Na mesma entrevista, o veterano itapecuruense observou que em vários outros locais da cidade foram encontrados bens enterrados em potes ou em panelas, comprovando assim que a cidade de Itapecuru Mirim ainda tem muitas histórias a serem resgatadas. Os antigos moradores do Caminho Grande relatam fantásticas histórias de tesouros enterrados. 

Considerando os fatos relacionados com os jesuítas, o povoado de Kelru, Cantanhede e inúmeros outros documentos, conclui-se que a data da criação da freguesia em 1801 foi apenas de caráter legal, porque, de fato, ela já existia há um bom tempo e em plena expansão.

Importante é observar que a presença dos jesuítas em Itapecuru justifica a grande quantidade de imagens sacras do estilo jesuítico no acervo da Paróquia Nossa Senhora das Dores, que atualmente se encontram na condição de inventariadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional-IPHAN.

Do livro Sinopse da Historia de Itapecuru Mirim (2018), pag.52, de autoria de Jucey Santana.


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