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Jucey Santana
Segundo os
habitantes mais antigos, a povoação de Itapecuru Mirim começou na Quinta Velha,
propriedade dos padres jesuítas, desde o século XVII.
Os jesuítas
tinham como objetivo a colonização e evangelização dos silvícolas. Eles eram
também grandes negociantes. No local, ao lado direito do rio Itapecuru,
instalaram uma feitoria para explorar as riquezas regionais, praticar negócios,
escambos e criação de gado bovino, cavalar e caprino. A renda subsidiava o
sustento da Companhia de Jesus e o trabalho missionário.
O
historiador Jerônimo Viveiros, em História do Comércio do Maranhão, cita
os jesuítas como proprietários de fazendas em várias localidades, inclusive em
Itapecuru. Antônia Mota, em Família e fortuna no Maranhão Colonial
(2006), afirma que mantinham um lucrativo negócio de exportação, possuíam
salinas, olarias, fazendas e tinham até um porto para escoar a produção.
Desde 1615
os jesuítas já estavam na ribeira do Itapecuru, de acordo com o mapa da
expansão jesuíta, do padre, Serafim Leite em História da Companhia de Jesus
no Brasil (1938). A princípio a convivência foi perigosa, com vários
ataques dos silvícolas da região.
Em 28 de
agosto de 1649, os tapuias Uritis atacaram o acampamento dos jesuítas, matando
os padres Francisco Pires, Manoel Muniz e o irmão Gaspar. Também houve massacres
perpetrados pelos Guanarés e Ubirajaras, conhecidos por “Barbados”, como a
chacina ao padre João Vilar em 1719, na aldeia de São Miguel. Os “Barbados”
também foram protagonistas da emboscada em 1721, em que foram vítimas os
missionários, liderados pelo padre Gabriel Malagrida, estando presentes vários
índios Caicazes, amigos dos jesuítas. Todos foram trucidados, à exceção do
padre Malagrida, que ficou gravemente ferido, ocorrência bastante lamentada
pela sociedade e pelos irmãos da Ordem, pela importância do padre Malagrida
junto ao governo e às autoridades eclesiásticas.
Houve
várias outras escaramuças contra os jesuítas.
Histórias de tesouros enterrados
Em 1757,
com a expulsão dos jesuítas de Portugal e de suas Colônias, no reinado de D. José
I, por orientação do primeiro-ministro, o Marquês de Pombal, que os acusava,
entre outras coisas, de praticarem comércio ilegal, não pagarem impostos e
incitarem a população contra o governo português. Eles foram deportados e seus
bens confiscados pelo governo colonial.
Enterrar os
seus bens era um costume comum entre as pessoas de posse, na época colonial, levando a crer que na
pressa os padres não puderam transportar todos os pertences, ficando para trás
muitos objetos pessoais, utensílios, acessórios litúrgicos e outras relíquias,
que foram desenterrados muitos anos depois, em meio a misticismos e crendices
de maldição, por moradores em andanças
noturnas clandestinas. É do conhecimento de boa parte da população Itapecuruense,
que no início dos anos 50, época que
ocorreu o desmatamento, para a construção de uma olaria, houve um importante
achado no local, motivo de muitos
comentários.
Entrevistado,
o comerciante Jamil Mubarack confirmou o fato e informou ainda que adquiriu uma
moeda de ouro encontrada na época da
escavação. Na mesma entrevista, o veterano itapecuruense observou que em vários
outros locais da cidade foram encontrados bens enterrados em potes ou em
panelas, comprovando assim que a cidade de Itapecuru Mirim ainda tem muitas
histórias a serem resgatadas. Os antigos moradores do Caminho Grande relatam
fantásticas histórias de tesouros enterrados.
Considerando
os fatos relacionados com os jesuítas, o povoado de Kelru, Cantanhede e
inúmeros outros documentos, conclui-se que a data da criação da freguesia em
1801 foi apenas de caráter legal, porque, de fato, ela já existia há um bom
tempo e em plena expansão.
Importante
é observar que a presença dos jesuítas em Itapecuru justifica a grande
quantidade de imagens sacras do estilo jesuítico no acervo da Paróquia Nossa
Senhora das Dores, que atualmente se encontram na condição de inventariadas
pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional-IPHAN.
Do livro Sinopse da Historia de Itapecuru Mirim (2018), pag.52, de
autoria de Jucey Santana.
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