Mauro
Rêgo *
Dr.Nilton Lima Filho |
Transcorrido um mês do falecimento
do Dr. Nilton da Silva Lima Filho, ocorrido em 17 de julho último, ainda
estamos perplexos com o desfecho dessa angustiante situação. Juntamente com
outros amigos do falecido, ainda não nos acostumamos com essa trágica verdade.
Há poucos dias, inadvertidamente, liguei para o seu celular, como fazia
constantemente para ouvir e solicitar o envio de músicas, pois entre outras de
suas qualidades, estava o gosto refinado pela arte divina.
Ao recordar esse nosso
relacionamento ligado à música, quando ele me trazia de volta à minha
juventude, descobrindo aquelas que mais marcaram essa época, na interpretação
de Orlando Silva, Vicente Celestino, Carlos Galhardo, Anísio Silva, Nelson
Gonçalves e outros, lembro que demorou a encontrar a música de Eduardo Souto, “O despertar da Montanha”, que não era de
sua época, mas enviou-me mais tarde algumas versões, incluindo a execução, por
parte de nosso eterno Dilermando Reis, cuja reprodução compartilhei com alguns
amigos, saudosos do tempo da Voz de Anajatuba.
Sofreu ao meu lado com a
discriminação por parte dos que não entenderam a nossa luta pela preservação e
recuperação da Igreja Matriz construída pelo Padre Chiquinho e que
considerávamos o nosso maior patrimônio histórico e cultural, mas quando nada
mais havia a fazer, torceu com entusiasmo pela construção da nova igreja. Ao
receber as fotos da Festa de Nossa Senhora do Rosário em outubro de 2018, mesmo
já em tratamento, ele demonstrou muita alegria, pedindo, como sempre fazia
informações acerca do andamento das obras.
As nossas relações com a cidade de
Arari eram muito estreitas. Além do comércio de gêneros agrícolas,
partilhávamos os movimentos culturais como o teatro, a música, festividades cívicas
e religiosas e o futebol. Não havendo estradas, os nossos caminhos eram os
campos, quer a cavalo durante o verão ou de canoa, durante o inverno. Os pais
do Dr. Nilton eram de Arari. Nos primeiros anos da década de 1950, Nilton Lima,
seu pai, estabeleceu-se em Anajatuba com uma fábrica artesanal de sapatos.
Voltou para Arari para contrair matrimônio com D. Maria Fernandes Ericeira,
retornando logo após para nossa cidade. Quando chegou o tempo do nascimento do
primeiro filho, Nilton, foram novamente para Arari, devido as condições
precárias de nossa cidade, sem médico, nem enfermeiro, nem mesmo parteira leiga
treinada. Poucos dias depois retornaram para Anajatuba viajando em canoa
empurrada a vara, pois era inverno.
Não
tenho lembrança dele criança, pois quando ele nasceu, em 12 de maio de 1955, eu
já residia fora de Anajatuba e só tivemos contato quando ele já estava formado
em Medicina. Lembro de nosso encontro durante o Festival do Peixe que aconteceu
na Praça 7 de setembro, em frente à casa do Dr. Mazico, encontro cordial que
selou uma amizade que se prolongou até a sua morte.
Dr. Nilton era entusiasmado pelas
Bibliotecas Públicas e foi durante a sua gestão frente à Prefeitura Municipal
que obtivemos do Ministério da Cultura, o acervo e equipamentos para a
Biblioteca Saul Bogéa Rodrigues, instalada na rua Coelho Neto.
Médico dedicado e apaixonado pela
profissão, estava sempre sintonizado com os pacientes que o procuravam e que
atendia sem discriminação. No dizer de um amigo comum, “gostava de doentes”. Quando fui vítima de um câncer, nos primeiros
anos deste século, foi ele que me deu ânimo e, nas suas constantes visitas
durante meu tratamento em São Luís, colaborou muito com suas orientações para
que eu superasse a enfermidade. É essa a personalidade que todos guardamos
dele: o médico amigo e dedicado que atendia a todos em todos os momentos. Essa
dedicação foi, talvez, uma das causas dele ter se descuidado de sua própria
saúde para dedicar-se aos outros.
O povo de Anajatuba e dos municípios
adjacentes chorou muito a sua morte. Nunca se viu em Anajatuba um espetáculo de
solidariedade tão grande e espontâneo, que se estendeu desde o povoado Colombo
até a sede do município, chorando uma chuva de tristeza que, mercê de Deus,
parou exatamente quando o cortejo alcançou a entrada da cidade, para que todos
pudessem saudar, cheios de emoção, a passagem de seu caixão mortuário.
É movido pelo reconhecimento do
quanto sua vida significou para tantos, que deixo aqui o meu “adeus”, com a
esperança de que o seu exemplo de solidariedade e de amor à nossa terra se
eternize nos corações anajatubenses.
*
Mauro Rêgo é escritor, pedagogo, membro da Academia Anajatubense de
Letras,
Ciências e Artes (ALCA) e da Academia Itapecuruense de Ciências,
Letras e Artes (AICLA)
Nenhum comentário:
Postar um comentário