terça-feira, 2 de agosto de 2016

MARANHÃO: AME-O OU DEIXE-O


Por Benedito Buzar

Nada mais irritante do que ouvir de gente, supostamente culta, manifestações de hostilidade ou de desprezo ao Maranhão, como se fosse a terra mais desagradável do mundo e onde só acontecem coisas lamentáveis e incompatíveis com os tempos em que vivemos.

São manifestações absurdamente abomináveis, que chocam e devem ser repelidas pela falta de sustentação com a verdade e de sintonia com a realidade. A despeito de ser uma terra abençoada por Deus e bonita por natureza, carrega problemas econômicos e sociais crônicos, mas superados pela disponibilidade de recursos naturais, que, se bem aproveitados,  contribuirão para melhorar as condições de vida do nosso povo.

Quando ouço considerações desairosas sobre o Maranhão, como se aqui fosse o fim do mundo e o destino lhe reservasse apenas coisas desagradáveis e indesejáveis, reajo e não silencio diante de gritantes despautérios.
Para quem acha o Maranhão o pior Estado da Federação brasileira, nada melhor do que o conselho musical da dupla de compositores cearenses: ame-o ou deixe-o.
Apregoar patranhas de que o Maranhão não vai prá frente, é a terra do já teve, possui caveira de burro enterrada em seu solo, é fazer o jogo de quem tem interesse em macular a história do Maranhão, cuja trajetória, ao longo do tempo, alterna-se em ciclos de boa ou de má-fase, ditados, quase sempre, por circunstâncias independentes do povo maranhense.

Da fundação do Maranhão aos dias correntes, fácil constatar como os períodos de avançada prosperidade e os de abjeta pobreza se revezavam. O século XIX, por exemplo, apontado como esplendoroso, pela sua pujança econômica, monopolizada pelos produtores rurais, deixava muito a desejar.

Jornais que circulavam naquele tempo, como O Observador, edição de 7 de dezembro de 1849, em editorial, com  o título “Decadência e Desmoralização do Maranhão”, enfatizava: “Ninguém acreditará que o Maranhão, outrora, das mais importantes províncias do Império, esteja reduzido a esse tão deplorável estado de miséria e de desmoralização em que hoje o temos.

            “Seus habitantes viviam congraçados como membros de uma só família, e tinham grande fama de hospitaleiros, generosos, justiceiros, moralizados, religiosos e obedientes às leis e às autoridades constituídas. Preferiam o trabalho à carreira dos empregos públicos; desconheciam as intrigas políticas, a intolerância, as cabalas eleitorais, as atas falsas, o patronato e a prostituição do poder.

“Os nossos juízes e tribunais eram apontados como símbolo da justiça e da retidão”.

“Tínhamos um comércio, quer de importação, quer de exportação, bastante considerável; muitas embarcações de cabotagem e de longo curso, nacionais e estrangeiras.

“A moeda girava em nossa praça em profusão. A lavoura prosperava cada vez mais. Não lhe pesavam tantos impostos. Muita boa fé reinava nas transações mercantis.

E conclui: “O Maranhão era em suma uma terra em que se podia habitar, onde se ganhava facilmente a vida, onde se punia o crime, onde se guardava todo o respeito para com as leis, e as autoridades, para com a liberdade, a honra, a propriedade e seguranças individuais, e para com o exercício dos direitos políticos.

No mesmo editorial, o jornal ainda pedia explicações sobre a situação pela qual o Maranhão atravessava: “O que é feito desse estado de civilização, desse estado florescente e feliz em que vivíamos? Converteu-se em um estado de barbaridade, de desmoralização e de miséria.

“Com efeito, o povo maranhense vive hoje dividido em diversos grupos, que se hostilizam reciprocamente, e de uma maneira pouco conforme o espírito de civilização.

“Não se indaga se um candidato a um emprego tem ou não habilitações para ocupá-lo. O quer se quer dele é saber se pertence ao lado do Governo, se lhe pode servir de instrumento, se é protegido por um parente, amigo íntimo ou pessoa de influência local e eleitoral.

“A liberdade do voto consiste na completa exclusão dos contrários por meio de coações, medidas de terror ou por meio de cacetadas, pedradas, facadas, tiros, empregos de força pública, ameaças, prisões e processos por crimes imaginários.

“A administração da Justiça está em miserável estado. Um indivíduo comete um crime qualquer, introduz moeda falsa, reduz à escravidão pessoa livre, ataca a honra de alguém, fica impune ou é absolvido, desde que tenha fortuna, representação social, ou membro deste ou daquele partido, instrumento do Governo.

“A imprensa acha-se no maior desregramento possível. Prega-se abertamente a revolta, a carnificina e o saque, sem que a autoridade incompetente com isso se importe; os fatos da vida privada são trazidos à luz da publicidade e nem se respeita a moral pública, as convicções e o crédito alheio


Um comentário:

  1. Mestre Benedito Buzar provocando reflexões. Texto magistral. Obrigado por compartilhar.

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