Por Benedito Buzar
Nada mais irritante do que ouvir de gente, supostamente culta,
manifestações de hostilidade ou de desprezo ao Maranhão, como se fosse a terra
mais desagradável do mundo e onde só acontecem coisas lamentáveis e
incompatíveis com os tempos em que vivemos.
São manifestações absurdamente abomináveis, que chocam e devem ser
repelidas pela falta de sustentação com a verdade e de sintonia com a
realidade. A despeito de ser uma terra abençoada por Deus e bonita por
natureza, carrega problemas econômicos e sociais crônicos, mas superados pela
disponibilidade de recursos naturais, que, se bem aproveitados,
contribuirão para melhorar as condições de vida do nosso povo.
Quando ouço considerações desairosas sobre o Maranhão, como se aqui
fosse o fim do mundo e o destino lhe reservasse apenas coisas desagradáveis e
indesejáveis, reajo e não silencio diante de gritantes despautérios.
Para quem acha o Maranhão o pior Estado da Federação brasileira, nada
melhor do que o conselho musical da dupla de compositores cearenses: ame-o ou deixe-o.
Apregoar patranhas de que o Maranhão não vai prá frente, é a terra do já
teve, possui caveira de burro enterrada em seu solo, é fazer o jogo de quem tem
interesse em macular a história do Maranhão, cuja trajetória, ao longo do
tempo, alterna-se em ciclos de boa ou de má-fase, ditados, quase sempre, por
circunstâncias independentes do povo maranhense.
Da fundação do Maranhão aos dias correntes, fácil constatar como os
períodos de avançada prosperidade e os de abjeta pobreza se revezavam. O século
XIX, por exemplo, apontado como esplendoroso, pela sua pujança econômica,
monopolizada pelos produtores rurais, deixava muito a desejar.
Jornais que circulavam naquele tempo, como O Observador, edição de 7 de
dezembro de 1849, em editorial, com o título “Decadência e Desmoralização
do Maranhão”, enfatizava: “Ninguém acreditará que o Maranhão, outrora, das mais
importantes províncias do Império, esteja reduzido a esse tão deplorável estado
de miséria e de desmoralização em que hoje o temos.
“Seus habitantes viviam
congraçados como membros de uma só família, e tinham grande fama de
hospitaleiros, generosos, justiceiros, moralizados, religiosos e obedientes às
leis e às autoridades constituídas. Preferiam o trabalho à carreira dos
empregos públicos; desconheciam as intrigas políticas, a intolerância, as
cabalas eleitorais, as atas falsas, o patronato e a prostituição do poder.
“Os nossos juízes e tribunais eram apontados como símbolo da justiça e
da retidão”.
“Tínhamos um comércio, quer de importação, quer de exportação, bastante
considerável; muitas embarcações de cabotagem e de longo curso, nacionais e
estrangeiras.
“A moeda girava em nossa praça em profusão. A lavoura prosperava cada
vez mais. Não lhe pesavam tantos impostos. Muita boa fé reinava nas transações
mercantis.
E conclui: “O Maranhão era em suma uma terra em que se podia habitar,
onde se ganhava facilmente a vida, onde se punia o crime, onde se guardava todo
o respeito para com as leis, e as autoridades, para com a liberdade, a honra, a
propriedade e seguranças individuais, e para com o exercício dos direitos
políticos.
No mesmo editorial, o jornal ainda pedia explicações sobre a situação
pela qual o Maranhão atravessava: “O que é feito desse estado de civilização,
desse estado florescente e feliz em que vivíamos? Converteu-se em um estado de
barbaridade, de desmoralização e de miséria.
“Com efeito, o povo maranhense vive hoje dividido em diversos grupos,
que se hostilizam reciprocamente, e de uma maneira pouco conforme o espírito de
civilização.
“Não se indaga se um candidato a um emprego tem ou não habilitações para
ocupá-lo. O quer se quer dele é saber se pertence ao lado do Governo, se lhe
pode servir de instrumento, se é protegido por um parente, amigo íntimo ou
pessoa de influência local e eleitoral.
“A liberdade do voto consiste na completa exclusão dos contrários por
meio de coações, medidas de terror ou por meio de cacetadas, pedradas, facadas,
tiros, empregos de força pública, ameaças, prisões e processos por crimes
imaginários.
“A administração da Justiça está em miserável estado. Um indivíduo
comete um crime qualquer, introduz moeda falsa, reduz à escravidão pessoa
livre, ataca a honra de alguém, fica impune ou é absolvido, desde que tenha
fortuna, representação social, ou membro deste ou daquele partido, instrumento
do Governo.
“A imprensa acha-se no maior desregramento possível. Prega-se
abertamente a revolta, a carnificina e o saque, sem que a autoridade
incompetente com isso se importe; os fatos da vida privada são trazidos à luz
da publicidade e nem se respeita a moral pública, as convicções e o crédito
alheio
Mestre Benedito Buzar provocando reflexões. Texto magistral. Obrigado por compartilhar.
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