Por: Jucey Santana
Raymundo Alexandre Vale de Carvalho nasceu no povoado de
Cantanhede pertencente à Vila de Itapecuru Mirim em 17 de abril de 1831. Filho do Major Antônio
Lourenço de Carvalho, abastado lavrador da região e de
Anna Maria Duarte do Valle, de importante família maranhense. Ele
notabilizou-se como professor, político, magistrado, delegado e poeta.
Apesar
das perdas sucessivas da mãe em 5 de
março de 1840 do pai em 28 de abril de 1851 e de alguns irmãos nunca desanimou, sendo sempre o maior ponto
de equilíbrio e apoio da família e exemplo aos irmãos menores.
Estudou
no Colégio Dr. Perdigão e no Liceu Maranhense. Ao concluir o curso em 1848,
recebeu o prêmio de primeiro lugar, outorgado pela Inspetoria de Instrução
Pública do Maranhão. (Publicador
Maranhense, 14.2.1849).
No
inicio de 1849 partiu para Recife para cursar Ciências Sociais e Jurídicas. No
terceiro ano do curso de Direito, em 20 de dezembro de 1852, foi premiado por
deliberação unânime da Congregação da
Faculdade, com o melhor aproveitamento
acadêmico. Colou grau em 22 de novembro de 1854.
Atuação Profissional
De volta ao Maranhão em
23 de julho de 1855 foi nomeado promotor público da Capital pelo presidente da
Província e por Decreto Imperial de 28 de setembro do mesmo ano foi nomeado
Juiz de Órfãos e Ausentes, mesmo em meio a duras críticas da oposição que alegava inconstitucionalidade do ato pelo fato do
jovem magistrado ainda não ter completado um ano de formado (Publicador
Maranhense, 28.12.1855). Como juiz, foi
brilhante em seus despachos, sendo admirado até pelos colegas mais antigos e experientes.
Afastou-se da magistratura em 1856, por ter sido eleito para
Assembleia Provincial. Serviu a
legislatura até 1857. Como deputado teve uma brilhante atuação como presidente
de diversas comissões de importantes projetos como:
− Criação de uma fazenda Modelo
ou Escola Prática de Agricultura para o aperfeiçoamento agrícola de jovens maranhenses;
− Autorização à Santa Casa de Misericórdia para construir o Cemitério do
Gavião (O Observador, 16.7.1856);
− Concessão a particulares ou
empresas da construção de uma estrada de
ferro de Caxias à Teresina (PI);
− Elevação do número de
estudantes na Escola de Artífices, Asilo de Santa Teresa e Recolhimento de
Nossa Senhora da Anunciação e Remédios mantidos pela Província.
− Confecção de uma lápide de mármore para o jazigo de Eduardo Olímpio
Machado, presidente da Província (1851-1854),
falecido 14 de agosto de 1855.
− Projetos para melhoria do salário do médico dos presos e dos alunos
dos Asilos.
Foi
professor de gramática do Liceu Maranhense.
Pertenceu
a Associação Bancária Mercantil Maranhense (Diário
do Maranhão, 26.6.1857).
E
como acionista da Companhia de Navegação à Vapor Maranhense, fez parte do
projeto em 1856, da construção do canal Lajem Grande no rio Mearim, para melhoramento
da navegação, tendo sido incumbido pelo presidente da província Antônio Cruz
Machado para executar a obra o
engenheiro francês Visconde Henrique Saint-Amand. Através do Dr. Valle de
Carvalho, foi recrutados mais de mil homens (escravos e libertos), na ribeira
de Itapecuru para o trabalho no canal.
Sabe-se que a obra ficou inconclusa.
Em
4 de abril de 1858, foi nomeado delegado de polícia da capital, em substituição
à outro itapecuruense, Antônio Marcelino
Nunes Gonçalves o Visconde de São Luís, por ocasião da retirada deste
para assumir a província do Rio Grande do Norte (Vr. Nunes Gonçalves).
Em
26 de maio de 1858 reassumiu a função de Juiz de Órfãos e Ausentes,
justificando que seu estado de saúde não
lhe permitia exercer as funções de chefe de policia da Capital.
Em
1857 concorreu a uma vaga de deputado geral. Ficou na suplência, não chegando a
assumir o mandato. Casou-se em 12 de
dezembro de 1857 com a prima Clementina Rita Bayma de Carvalho. O casal não
teve filhos.
Atuação
Literária
Valle de Carvalho era apaixonado pela poesia desde os bancos
escolares. Ele foi membro e presidente de diversas instituições literárias,
Foi fundador da Sociedade Vinte e Oito de \Julho, criada em 30 de setembro de 1858,
com o principal objetivo: de sempre
tornar lembrado a data da Adesão da Província
a causa da Independência do
Brasil e inspirar a mocidade a um patriotismo verdadeiro.
Por
ocasião do falecimento do amigo e conterrâneo
Lisboa Serra, ele dedicou-lhe uma
crônica biográfica, “Uma lágrima à
memória do Exmo. Senhor Conselheiro João Duarte Lisboa Serra” publicada originalmente no Observador
de Lisboa em 14 de maio de 1855,e transcrita, na seção Necrologia do Pantheon. Valle de Carvalho nos
meios jornalísticos e literários era comparado à Lisboa Serra (Vr. Lisboa
Serra).
No
folhetim Parnaso Maranhense, do jornal A Imprensa de 2 de novembro de 186i foi
dedicado ao ilustre itapecuruense:
O nome
do Dr. R, Valle de Carvalho, (mais um maranhense distinto e morto em flor) ocupa o lugar honroso
nas páginas do Parnaso. São duas poesias que lá aparecem ambas muito apreciáveis. O soneto parodiando o de
Bocage que diz: Se é doce no recinto ameno
estio – está perfeito e estabelece verdadeiras antíteses nas suas imagens
tristes e imagens risonhas do autor da “Saudade Materna”...
O jornalista Francisco
Nunes Cascaes, amigo do magistrado assim se expressou depois do precoce
falecimento do amigo que disse conhecer desde a infância:
... Magistrado ainda no
albor da idade, encarregado dos órfãos ele se fez provecto. A mocidade não
perdeu um juiz, foi mais um pai e protetor dos órfãos. (A Imprensa, 20.3.1859).
Faleceu em 18 de março de 1859, aos 28 anos de idade de febre tifoide, causando grande
comoção em toda a sociedade maranhense. Foi sepultado no cemitério Senhor Bom
Jesus dos Passos. Na ocasião faleceram
dois escravos da sua propriedade com a mesma moléstia: Jesuína e Virgulino.
Abaixo
um texto de sua autoria:
O Imortal 7 de Setembro
Alça a fronte gentil e
soberana,
Exulta, ó meu Brasil
idolatrado!
Maldito o filho teu, que
não s ufana
De saldar este dia
abençoado.
Os tiranos julgaram-te um
escravo,
E eras um gigante que
dormia:
Despertastes afinal do
ono ignaro,
E por terra caiu a
tirania!
Neste dia surgistes
radiante,
No banquete dos
livres te sentaste;
E o destino bradou-te
avante, avante!
E avante seguro
caminhaste.
Eia, pois, meu Brasil,
rico, opulento,
Não temas exaurir a tua
vida,
Um brilhante passado te
sustenta,
Um risonho futuro te convida.
Roma foi o teatro de um
guerreiro,
E depois a nação os reis
do mundo!
O teu Rômulo foi Pedro
Primeiro,
O teu Numa será Pedro
Segundo.
Ergue-te vasto Império
Americano,
Avulta então as nações,
és grande, és forte,
O teu povo é um povo
soberano,
Liberdade é razão – eis o
teu norte.
Ganhaste com teu sangue a
liberdade,
Ganha com a liberdade a fama e glória;
Teu nome viverá na
eternidade,
O porvir passará na tua
história.
Alça a fronte gentil e soberana,
Exulta, ó meu Brasil
idolatrado!
Maldito o filho teu que
não se ufana
De saudar este dia
abençoado.
Jornal do Comércio, 7.9.1858.
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