Tiago Oliveira
Marcos
Goulart, aluno da UEMA de Itapecuru Mirim gosta de desfrutar das sombras de uma
bela mangueira bicentenária, que há nas proximidades da atual sede da
associação da CAEMA. Onde por quase três séculos existia a Igreja de Nossa do
Rosário dos Pretos; muito observador este por vezes fica calado imaginando
todas as estórias que já ouvira sobre aquele pequeno torrão, tais como: a
mística Maria da Rampa, a Guerra pela Independência e até mesmo o enforcamento
de Cosme Bento das Chagas, o Negro Cosme.
Certa vez, Marcos Goulart olhou ao meio dia para a antiga
Cadeia Pública desta cidade e percebeu que algo estava estranho, pois um velho
senhor estava encostado em sua parede mesmo com tamanho calor, e mantendo um
olhar fixo para o local onde outrora ficava Praça da Cruz. Porém, o mais
estranho de tudo, eram as suas vestes, que não correspondiam aos padrões do
século XXI. Contudo, nosso perspicaz observador logo se distraiu com as boas
conversas dos amigos e assim esquecera-se, do tal senhor. Já em sua casa, antes
de dormir ficou pensando em vários aspectos relacionados aquela grotesca
aparição e o que lhe veio à mente foi uma frase da escritora Mundinha Araújo,
autora do livro Em Busca de Dom Cosme Bento das Chagas: - “Quando comecei a
pesquisar, parecia que Cosme ia aparecendo e indicando as pistas a seguir”. Então,
o jovem acadêmico foi traído pelo sono.
Ao amanhecer, antes dos primeiros raios de sol a caminho
do mercado público em busca de bons peixes do Mearim, Marcos se depara com uma
nova aparição do enigmático personagem da Cadeia Velha, mas o que lhe causa
mais espanto é a ausência de uma cabeça sobre aquele corpo esquisito, que sustenta
acima do pescoço apenas um velho chapéu de palha. O medo, não o permite se
aproximar fazendo o seguir seu caminho, em silêncio a imaginar o que poderia
ser aquilo e ajuntar em sua mente todas as informações possíveis, sobre a morte
de Negro Cosme, que era a causa mais provável relacionada àquele sujeito. Já em
casa, após o café o jovem itapecuruense começa a rabiscar num papel tudo o que
sabia sobre o líder maior da insurreição de escravos do Maranhão: – Que ele era
Cearense de Sobral; – Que formou um quilombo com mais de três mil escravos em
Chapadinha, além de ser membro da irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos
Pretos; – Que foi julgado e condenado a morte, em 05 de abril de 1842 na antiga
Cadeia Pública de Itapecuru Mirim; – Que o seu enforcamento se deu em setembro,
de 1842 em dia ignorado; – Que ninguém sabe o destino do seu cadáver; – Que o
nome do carrasco responsável pelo seu enforcamento também é ignorado; Que Cosme
foi trabalhou como Capitão do Mato da Vila de Itapecuru Mirim.
Mas,
ainda faltava saber se, o ser místico que por vezes fora visto, em frente à
Cadeia Velha era o espirito deste grande líder negro; para isso o jovem Marcos
Goulart, recorreu a antigas publicações, disponíveis na Hemeroteca Digital, da
Biblioteca Nacional. E em uma passagem veiculada no Jornal Publicador Maranhense
de 21 de janeiro de 1897, lia-se o seguinte: Os moradores de Itapecuru Mirim
andam apavorados com as supostas aparições de uma alma penada em frente à
Cadeia Publica.
Noutra já nos idos dos anos 20 do século XX, desta vez no
Jornal A Gazeta, temos o seguinte: de quem será o espírito do meio
dia, que sempre está encostado nas seculares paredes da Cadeia Publica.
Tantas
informações ao mesmo tempo, mexiam com a sua mente, lhe dando um ar de medo e
uma gigantesca curiosidade. Então ele lembrou-se, que a imagem de devoção de
Cosme, estava atualmente na atual Igreja Matriz de Nossa Senhora das Dores:
Nossa Senhora do Rosário dos Pretos a mais bela, antiga e valiosa imagem de
todo o templo. Na mesma hora de um rompante só levantou-se da cadeira e foi
para lá, bisbilhotar para ver se encontrava algo; o templo estava aberto, mas
já passava das 11h da manhã. A imagem de Nossa do Rosário dos Pretos, está
localizada na nave esquerda da Matriz, sendo a principal deste altar; é toda em
madeira policromada, se aproximando do estilo barroco, de autor desconhecido,
mas com características do século XVII.
No altar, que guarda tamanha riqueza histórica bem no seu
sopé, Marcos viu uma inscrição curiosa: José
Vita, 1940. E ao lado dela uma pequena falha, porém perceptível no velho
altar, quando o mesmo empurrou um pouco descobriu, que no interior do altar
havia uma caixa de madeira antiga. Ele a puxou imediatamente, colocou a mesma
ao chão, pegou a chave de sua moto e forçando a lateral da mesma conseguiu
abrir, dentro desta um crânio velho e empoeirado e ao seu lado um pedaço de
papel com a inscrição: A resposta está
na Santa. Já ofegante com aquilo tudo e com medo de que fosse visto, se
dirigiu para a imagem e olhou, olhou e nada de resposta, até que resolveu olhar
o fundo da mesma, onde dentro de um orifício encontrou um texto velho, antigo e
bem enrolado. Neste estava grafado:
-
Nossa Rainha: - aqui está à cabeça de Pedro Jacob Martins, o carrasco de nosso
– Cosme. Oculum pro oculo, dentem pro dente.
Assinado,
Matroá
Tapuya Baima
Hemerência Bento das Chagas e outros.
O
jovem pegou os papeis guardou as caixas nos lugares e correu para a sua casa. Após,
o almoço voltou a se debruçar nos livros e ligar para os amigos em busca de
respostas para tais nomes, e assim descobre que: Matroá Tapuya Baima era o
velho índio, parceiro de Cosme e Hemerência Bento das Chagas a sua esposa. Já
Pedro Jacob Martins seria o Capitão do Mato da Vila do Itapecuru Mirim, que se
oferecera para ser o carrasco do Negro Cosme, pois nenhum dos presos da Vila
concordou em fazer tamanha maldade. Fato que levou a morte do dito Capitão
pelos membros da Irmandade de Nossa Rosário dos Pretos, assim que descobriram que
este era o algoz de seu líder maior. Sendo sua cabeça objeto de prêmio a sua
padroeira, enquanto o seu corpo ter-se-ia sido jogado nas águas do caudaloso
rio Itapecuru.
Agora,
as coisas ficaram claras. Porém, pairavam algumas interrogações. Se a cabeça do
tal carrasco fosse jogada nas águas do rio, as aparições do carrasco não
aconteceriam mais? Por que, Marcos conseguiu vê-lo? Contudo, o jovem acadêmico
deixou tudo como estava antes, para que outras pessoas sentisse o mesmo prazer
que ele ao viajar por nossa história.
Tiago
de Oliveira Ferreira é professor,
escritor, ambientalista, e membro efetivo da Academia Itapecuruense de
Ciências, Letras e Artes – AICLA.
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