Mauro Rego
Queria
que hoje
A
lua saísse mais tarde,
Depois
que a cidade se acalmasse,
Depois
que as casas se fechassem,
Depois
que todos dormissem
E a
paz reinasse sobre os campos!
Queria
que hoje
A
lua saísse mais tarde
Para
que, livre de todas as distrações,
Eu
pudesse contemplá-la surgindo atrás dos morros
Espargindo
sua luz sobre o campo
Espalhando
cores sobre o espelho das águas!
Eu
navegaria na calma desse campo imenso
Procurando
encontrar os fantasmas,
Querendo
conviver com os espíritos!
E
tu, canoeiro de outras águas,
Navegarias
comigo em busca do impossível,
Em
busca do cabrunco que tu nunca viste,
Ouvindo
os tambores de um passado distante
Que
tu não conheces!
E tu
silenciarias, canoeiro de longe,
Para
que eu pudesse ouvir a voz das coisas,
Gemidos
de almas penadas,
O
grito de Raimundo Gadeiro,
As
caixas do Divino subindo os morros
E o
rufar surdo dos tambores de crioula
As
caixas do Divino subindo os morros
E o
rufar surdo dos tambores de crioula
E de
São Benedito!
E se
os seres sobrenaturais quisessem navegar conosco,
Invisíveis
como tu, canoeiro encantado,
Eu
te entregaria a vara de angico
Para
que tu levasses o viajante
Até
a enseada verde
Onde
ele saltaria para sua morada escura!
Sentirias
comigo as bênçãos do infinito,
Afastarias
as maldições errantes
E
conhecerias, como eu, os mistérios do campo...
As
estrelas esmaeceriam
Sob
o brilho da lua que chegou mais tarde,
Até
que os galos cantassem
Desfazendo
os mistérios,
Mandando
que tu também partisses,
Canoeiro
de outras águas!
Queria
que hoje
A
lua saísse mais tarde
Para
ofuscar as luzes caminheiras
Que
espantam os viajantes da noite;
Para
que eu cavalgasse o cavalo encantado
Que
passa pela Rua do Fio
E se
perde na distância
Retinindo
seus arreios de moedas antigas
Se a
lua saísse mais tarde!
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