Benedito
Buzar
Na segunda metade do século passado, a vida social
em São Luís, no tocante à diversão e entretenimento, movia-se com bastante
fluidez e girava em torno de três expressivos clubes sociais – Grêmio Lítero
Recreativo Português, Cassino Maranhense e Clube Recreativo Jaguarema, bem
organizados e estruturados, com centenas de sócios – proprietários e
contribuintes, sedes próprias e programações festivas e recreativas variadas,
muitas das quais inesquecíveis, como as carnavalescas e as juninas.
Dos três clubes, apenas o Grêmio Lítero ainda
respira, mas sem a movimentação e o dinamismo dos anos dourados da sociedade
ludovicense. O Cassino Maranhense e o Clube Jaguarema há anos deixaram de
existir, mas ficaram na memória de gerações.
Se o Lítero Recreativo continua em atividade,
deve-se indiscutivelmente a uma figura de relevo, do ponto de vista humano,
intelectual e profissional, chamada Carlos Nina, que, à frente de um reduzido,
mas atuante grupo de raízes lusitanas, luta desesperadamente para não deixá-lo
soçobrar.
Com esse objetivo, vem promovendo eventos e
lançando projetos, para motivar os associados e mostrar à sociedade que o clube
saberá enfrentar as dificuldades e as incertezas.
Um dos projetos, com o nome de “Fênix”, destina-se
a resgatar a história do clube e dos portugueses e brasileiros que o
administraram, bem como de seus sócios que se distinguiram na vida política,
econômica ou cultural do Maranhão.
Nesse particular, o ex-senador José Sarney, em
artigo publicado no jornal O Estado do Maranhão, relatou que quando começou a
escrever versos, recitou, num sarau no Lítero, alguns poemas de sua autoria.
A minha geração, por exemplo, guarda do Grêmio
Lítero Recreativo Português as melhores e mais saudáveis recordações. Na sede
social do clube, desfrutamos, enquanto jovens, de momentos prazerosos e de
enlevo, que jamais olvidaremos.
São lembranças que afloram por conta da feliz
iniciativa da diretoria do clube de promover, na década de 1950, aos domingos,
excelentes festas dançantes, que começavam às primeiras horas da noite e
terminavam antes da zero hora.
Conhecidas, também, por tertúlias, destinavam-se a
um público eminentemente jovem. Durante bons anos, pontificaram na cidade,
tendo como grande incentivador o colunista social do Jornal do Povo,
Benito Neiva, o pioneiro em São Luís na arte de relatar, sem malícia, o que
acontecia nos salões do Grêmio Lítero.
As tertúlias tinham um ritual. Aos domingos, por
volta das 17 horas, moças e rapazes ocupavam a Avenida Pedro II, onde as moças
faziam o footing em torno do viaduto, e os rapazes, recostados na murada do
próprio viaduto, assistiam com os olhos bem abertos aquele desfile de elegância
e de beleza feminina.
Após o passeio vespertino, os jovens rumavam para a
sede social do Lítero, onde os diretores do clube os esperavam, mas exigiam a
apresentação de carteiras de associados. Os que não desfrutavam desse
privilégio, o acesso se dava por meio de convites, não tão fáceis de conquista.
Às 19 horas, o salão do clube estava literalmente
tomado por rapazes e moças. Algumas se faziam acompanhar das mães, que de olhos
bem abertos e fixos nos rapazes, procuravam intimidá-los a não avançar o sinal,
evitando, assim, os maledicentes sarros, como se dizia na época.
Sarros à parte, muitos romances construídos
naquelas tertúlias, chegaram a se materializar em noivados e casamentos. Alguns
bem-sucedidos, outros, nem tanto.
As tertúlias não eram animadas por som eletrônico,
mas por orquestras ou conjuntos musicais, destacando-se o de “Nonato e seu
conjunto”. Foi o Lítero que deu o passaporte para o jovem músico itapecuruense
se projetar no cenário artístico.
Quem costumava cantar naquelas festas era a garota
Alcione Nazaré, que dava show como vocalista da banda musical, da qual o seu
genitor, João Carlos, era o maestro. Do Lítero, Alcione partiu para o Rio de
Janeiro, onde, inicialmente, ganhou nome como cantora da noite. Mas, graças
ao talento e a magnífica voz, alcançou a glória merecida.
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