Mauro Rêgo *
O Brasil elegerá em outubro o seu
novo Presidente, fato que promove muitos debates, divulga muitas ideias,
permite que surjam novos salvadores da Pátria e nos coloca, e como, em situação
de alerta. Como no futebol que transforma muitos brasileiros em técnicos, o
momento histórico em que vivemos transforma muitos cidadãos em cientistas
políticos, pois cada brasileiro julga conhecer os caminhos mais certos para
tirar o País do caos em que vivemos. E eu, que já passei dos 80, coloco-me
entre os que se julgam sabedores de “como” sair desta situação, arvorando-me de
um conhecimento que nunca tive mas que julgava dominar.
Quando Getúlio Vargas sucumbiu e foi
levado ao suicídio, parecia o fim do mundo. Um dos personagens muito citados
além de Carlos Lacerda, era Gregório Fortunato, que os jovens de meu tempo
classificavam de traidor e eu falava com certa vaidade de tê-lo visto várias
vezes no Bar do Hotel Central, em São Luís. E a comoção custou mas passou.
Veio
a era de Juscelino, cujo “slogan” de campanha, quando candidato a Governador de
Minas Gerais, era “governar é abrir estradas”. O povo viveu seu momento de
glória com a inauguração de Brasília e as frases de efeito que pronunciava em
várias ocasiões. Mas as denúncias de corrupção que desembarcaram Vargas do Poder,
começaram a tomar conta do noticiário dos jornais.
Surgiu
aí o grande salvador da Pátria na figura de Jânio Quadros, cujo símbolo era a
“vassoura” que se opunha è “espada” do Marechal Henrique Teixeira Lott. O povo
se entusiasmou com a vassoura, cujos efeitos dominaram até as musicas
carnavalescas. E as vassouradas que se preocupavam até com as brigas de galo se
celebrizaram por governar através dos “bilhetes” que eram enviados aos
Ministros de Estado e terminaram por varrer o próprio Jânio Quadros que,
segundo diziam, renunciou num dia de intensa ressaca.
Vieram
os militares para moralizar o País. Sabemos dos muitos avanços que tomaram na
modernização do País, mas o povo brasileiro pagou um preço muito alto com as
torturas infligidas aos que eram taxados de comunistas, alguns dos quais nem
sabiam o que isso significava; prisioneiros que desapareceram e nunca foram
encontrados, o medo que tomava conta do povo diante de um simples “sargento”
que se transformava no mais cruel dos representantes do poder e essas
lembranças ainda nos deixa perplexos.
Um
outro “salvador” de que me lembro foi Color de Melo, o caçador de marajás e que
se revelou o maior deles e inaugurou o impeachment. Veio o “sociólogo” FHC,
também grande esperança do povo, que instituiu a reeleição na área do Poder
Executivo, responsável pelo declínio da administração pública já tão
enfraquecida. Note-se que a corrupção que foi inaugurada antes da chegada de D.
João VI, foi se alastrando pelo País e já era considerada “normal” no meio do
Poder Público.
Foi
nesse contexto que surgiu outro “salvador da Pátria”: O metalúrgico Luís Inácio
Lula da Silva que representava a ascensão do povo ao poder, representado pelo
sobrenome “Silva” que era da maioria das classes populares do Brasil. Não se
pode negar que muitos avanços sociais foram por ele implementados e que
representaram muitas conquistas para a classe mais pobre, fazendo com que, mesmo na cadeia, continue a ser um
grande líder. Mais uma vez, entretanto, essas conquistas custaram muito caro ao
povo brasileiro. Não foi a riqueza de origem duvidosa que o transformou no
maior latifundiário da Amazônia, entre outras coisas, mas o maior desastre foi
a “institucionalização da propina” que sujou todos órgãos públicos e atingiu
até mesmo a nossa Petrobrás que era o orgulho do País e se tornou símbolo das
falcatruas. E o governo que nos tirou do FMI, nos legou um déficit público sem
precedentes.
Atualmente
o título de “salvador da Pátria” ameaça ser entregue ao Sr. Jair Bolsonaro,
cuja tentativa de assassinato elevou a sua posição entre os presidenciáveis no
primeiro turno e cujo discurso descomprometido está entusiasmando jovens e
marginalizados que ele combate e ameaça, numa época em que o mundo inteiro
clama por paz. É que o povo brasileiro desesperado procura uma situação de
“fuga”. A mesma situação que fez Cacareco e Juruna serem eleitos. Alguns
esperam a liberação de armas, outros a eliminação de homossexuais e negros, mas
a verdade está no desabafo de um de seus eleitores: Não é para esculhambar? Então vamos esculhambar de vez”.
Mas
o estado democrático de direito permite que ele assuma a Presidência, se for
eleito. É mais um salvador da Pátria que ameaça concluir o lançamento do País
no “abismo” anunciado em séculos de nossa história. Nos meus 16 anos, lembro de
um outro “cientista político” do meu jaez, que dizia: Se o Brasil cair no
abismo, coitado do abismo.
Mauro Rêgo é escritor e
membro da Academia Anajatubense de Letras, Ciências e Artes (ALCA) e da
Academia Itapecuruense de Cências, Letras e Artes.
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