Benedito Buzar
O escritor Josué Montello costumava dizer, do alto
de seu conhecimento sobre São Luís, que, nesta cidade, tudo se sussurra, por
isso a boataria e a marocagem (neologismo criado em função de uma novela
da TV Globo) encontram campo para prosperar, ganhar vulto e disseminar-se
com espantosa facilidade.
Não à toa, nas décadas de 1940,1950 e 1960, havia
em São Luís uma poderosa organização, integrada por figuras ilustres (
comerciantes, políticos, intelectuais e servidores públicos), que se juntavam ,
no começo das noites, na Praça João Lisboa, para trocar figurinhas em torno de
fatos, atos e episódios que fervilhavam aqui e alhures.
Essa organização, de existência relativamente
prolongada, chamava-se DIVA – Departamento de Informação da Vida Alheia,
perdeu a vitalidade com o falecimento de seus membros cativos.
Como sucessora do DIVA surge outra
organização, que se reunia em frente da igreja do Carmo, com o objetivo,
também, de comentar e passar em revista o que ocorria na sociedade maranhense e
objeto de especulação. Essa organização, conhecida por Senado da Praça,
era presidida pelo advogado Michel Nazar, em torno do qual os assuntos de
natureza política pontificavam na pauta da discussão.
Lembrei-me do DIVA e do Senado da Praça
João Lisboa no momento em que no Brasil a Justiça Eleitoral, preocupada com as
mentiras, os boatos e as falsas notícias, modernamente chamadas de fake
news, veiculadas de modo assustador pela internet, chegam ao domínio da opinião
pública de forma arrasadora e contribuem para a deformação da imagem das
autoridades, dos partidos políticos e dos candidato aos cargos eletivos,
majoritários e proporcionais.
Esses fake news , pela velocidade e contundência
como são divulgados pelas redes sociais, estão sendo combatidos pela Justiça
Eleitoral, com o fito de evitar a deturpação da campanha política e o
desvirtuamento do processo eleitoral.
Com respeito à criação de boatos em tempos
pré-eleitorais, o Maranhão, nesse quesito, deu show. Hoje, por meio da
internet, ontem, pelos jornais, as mentiras e as intrigas sempre encontraram
espaço em São Luís para se propagar e fluir de boca em boca.
A Praça João Lisboa, hoje, entregue às moscas, no
passado e na fase que precedia às eleições, muitas vezes serviu de palco
para discussões acaloradas, quase sempre transformadas em cenas de pugilato,
por causa de notícias falsas ou de mentiras deslavadas.
Essa boataria vicejou intensamente entre nós no
regime ditatorial e teve seu momento de fastígio no Estado Novo, com Paulo
Ramos no exercício do cargo de interventor federal no Maranhão.
Irritado com a boataria reinante na cidade, que se
espalhava como um rastilho de pólvora da sua demissão pelo presidente Getúlio
Vargas, o interventor tomou uma providência autoritária, com vistas a
acabar de modo fulminante com aquelas falsas notícias, que o incomodavam e
quebravam a sua autoridade de governante.
Paulo Ramos ordenou o seu chefe de Polícia, coronel
José Faustino, a desenvolver ações vigorosas para identificar o local de onde
partiam tão fantasiosas notícias e prender os que se encarregavam de
difundi-las oralmente pela cidade.
A Polícia chegou ao extremo de organizar um
cadastro com nomes dos que frequentavam a Praça João Lisboa, fonte que produzia
os boatos. Se comprovado, pelos inquéritos, que os intimados estavam a
serviço da boataria, seriam presos e processados com base na Lei de
Segurança Nacional.
Durante algum tempo, a população de São Luís viveu
dias de apreensão diante das medidas repressivas anunciadas pela Polícia,
mas que não passaram de ameaças. Daquelas ações policialescas, apenas a
prisão de um funcionário público estadual, apontado como boateiro, mas solto à
falta de provas.
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