Capela de Mulundus |
Visitando Mulundus
Jucey Santana
O município de Vargem Grande tem muitas histórias. Sem dúvida a mais
importante é a história de Raimundo
Nonato dos Mulundus, o vaqueiro escravo que foi santificado pela fé popular do
povo iguaraense. Com certeza o maior
atrativo da região é a Festa (festejo), que atrai fiéis de todos o pais para pagar suas promessas no
dia 31 de agosto.
Sou apaixonada pela história do vagueiro santo. Muito pesquisei sua
história que se mistura a milagres, lendas e muitos testemunhos de curas
milagrosas.
Altar de Mulundus, construido pelo padre Bacelar |
O festejo tem uma programação pré-estabelecida,
muito organizada. Dia 22 de agosto acontece a
romaria até o povoado Paulica. Dia
25 de agosto ocorre a já tradicional Missa dos Vaqueiros. A referida celebração teve inicio em 2005, na capela do povoado
Paulica, como pagamento de promessa do
casal Diane Mota e Carlos da Silva (o Carlao). Atualmente a Missa dos Vagueiros
é realizada na antiga fazenda de Mulundus onde anteriormente era festejado o
Santo Vaqueiro.
Dia 29 sai a romaria de Itapecuru Mirim,
pernoitam em Paulica e as 7 horas da manha do dia 31 é realizada a tradicional
missa dos romeiros com milhares de fiéis. No dia 31 é decretado ponto
facultativo em Itapecuru Mirim, a cidade fica deserta, todos se deslocam para
Vargem Grande e Nina Rodrigues. Orgulho-me de já ter sido romeira, (2016), para
conhecer mais a fé do povo.
Academicas da AVLA com gibao de vaqueiro e o padre Antonio |
Mulundus
O
festejo era realizado em Mulundus até o ano de 1953, quando foi transferida a festa para
Vargem Grande por iniciativa do arcebispo, Dom José Medeiros Delgado.
Sempre tive curiosidade em
conhecer Mulundus. Este ano com a fundação
da Academia Vargem-grandense de Letras e Artes, fomos convidados pela confreira
poeta e escultura, Diane Mota, membro da AVLA. Vários membros da instituição estiveram
presentes, como: padre Antonio Carlos, Alice Pires, Sérgio Barros e outros.
Academicos da AVLA com o prefeito Carlos Barros e o padre Zezinho |
Apesar
de distante quase 30 km da sede e enfrentando muita poeira até chegar a
Mulundus, valeu a pena! A impressão que tive foi de que a sede de Vargem Grande
havia sido transferida para Mulundus.
Fiquei
encantada e aproveitei para aumentar minhas pesquisas sobre o santo milagreiro.
O padre Antonio Carlos, com seu espírito empreendedor realizou primoroso
trabalho durante os seus oito anos à frente da paróquia de São Sebastiao.
Reformou a capela e construiu um grande anexo que serve de apoio e alojamento
para os romeiros, e como intelectual e amante da cultura procurou manter a tradição
conservando e incentivando os hábitos do povo e suas crenças.
Jucey Santana falando sobre Mulundus |
Notei também muito conservado o
altar construído pelo padre Alfredo Bacelar nos idos de 1941/42. Conversei
com algumas senhoras que choraram ao confirmar a transferência do querido padre
para a cidade de São Mateus.
Algumas pesquisas sobre Mulundus
A informação mais antiga que
encontrei de Mulundus foi de 1805. César Marques, em seu imprescindível Dicionário Histórico e Geográfico
da Província do Maranhão, a respeito de Mulundus comenta sobre a
freguesia criada em Iguará de Nossa Senhora das Doras:
Freguesia – Na PR de 25 de set. 1801, disse o príncipe regente: “que tendo sido
objeto dos cuidados do bispo defunto e do seu paternal amor a extensão de
várias freguesias, e entre elas a de Icatu, que se podia dividir em duas (...) ordenava ao cabido da Santa Sé que
procedesse na conformidade da representação
do prelado de fazer a divisão dessa freguesia” / Por sentença firmada em 1º de mar. 1805, o bispo D. Luis de Brito
Homem “dividiu e desmembrou e separou desse dia para sempre todo o território que
fica ao S. da mesma freguesia (...) e
instituiu uma nova paróquia e vigararia perpétua sob a invocação de N.Srª das
Dores, devendo ser essa nova igreja edificada no lugar da Vargem Grande, e
enquanto não o fosse devia servir-se o novo pároco da capela de São Raimundo,
que se achava na fazenda chamada de Mulundus”.
Pelo
que entendi, depois de conversar com vários membros da AVLA de Nina Rodrigues,
que a igreja não foi construída, no entanto, foi recriada muito tempo
depois com nova padroeira, Nossa Senhora da Conceição. Porém, a capela de
Mulundus, era tão importante na época, que tinha até padre
fixo. Vale observar que Nossa Senhora das Dores era muito indicada na época
pelo clero, (1801), tendo sido escolhida para Itapecuru Mirim, Brejo e
outras. Incrível!
Encontrei várias outras
informações entre ela esta, sobre um importante Congresso em Mulundus dos
índios Tupinambas, muito anos antes do descobrimento do Brasil, referente ao
estudo arqueológico de um alemão:
“Mas a harmonia não ficou sempre intacta; por quaisquer motivo
desligaram-se os tupinambás da confederação e constituíram seu próprio
congresso, ao lado ocidental do Parnaíba, em Mulundús O
CONGRESSO DO MULUNDÚS dos índios tupinambás já eram grandes senhores, tinham
ocupado a maior parte do interior do Maranhão (...) e precisavam dum centro
nacional para conservar a unidade da nação dos tupinambás. Esse centro era
Mulundús, onde se reuniam todo ano os delegados de todas as regiões, ocupadas
pelos tupinambás. Nas cartas e relatórios do padre Antonio Vieira encontram-se
muitos indícios desses factos... Assim o
antigo congresso de Mulundús ficou transformado numa festa cristã, dedicada à
memória de São Raimundo, como ainda agora se faz. Sempre, porém, essa festa
conservou o caráter dum congresso popular, para onde vêem de longe, de Goiás,
Mato Grosso e Pará amigos, parentes e comerciantes daquelas regiões que
pertenciam antigamente ao grande domínio dos tupinambás”.
(Ludovico Schwennhagen SCHWENNHAGEN,
MINHAS PESQUISAS. Esse texto pode ser
encontrado na PACOTILHA, São Luis, 30 de maio de 1925).
Mulundus carece ainda de muitos estudos. Avantes meus Confrades e confreiras!
Mulundus carece ainda de muitos estudos. Avantes meus Confrades e confreiras!
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