domingo, 25 de agosto de 2019

15ª MISSA DOS VAQUEIROS - MULUNDUS

Capela de Mulundus
                                                     Visitando Mulundus

Jucey Santana

O município de Vargem Grande tem muitas histórias. Sem dúvida a mais importante  é a história de Raimundo Nonato dos Mulundus, o vaqueiro escravo que foi santificado pela fé popular do povo iguaraense.  Com certeza o maior atrativo da região é a Festa (festejo), que atrai fiéis  de todos o pais para pagar suas promessas no dia 31 de agosto.

Sou apaixonada pela história do vagueiro santo. Muito pesquisei sua história que se mistura a milagres, lendas e muitos testemunhos de curas milagrosas.
Altar de Mulundus, construido pelo padre Bacelar

            O festejo tem uma programação pré-estabelecida, muito organizada. Dia 22 de agosto acontece a romaria até o povoado Paulica.  Dia 25 de agosto ocorre a já tradicional Missa dos Vaqueiros.  A referida celebração  teve inicio em 2005, na capela do povoado Paulica,  como pagamento de promessa do casal Diane Mota e Carlos da Silva (o Carlao). Atualmente a Missa dos Vagueiros é realizada na antiga fazenda de Mulundus onde anteriormente era festejado o Santo Vaqueiro.

 Dia 29 sai a romaria de Itapecuru Mirim, pernoitam em Paulica e as 7 horas da manha do dia 31 é realizada a tradicional missa dos romeiros com milhares de fiéis. No dia 31 é decretado ponto facultativo em Itapecuru Mirim, a cidade fica deserta, todos se deslocam para Vargem Grande e Nina Rodrigues. Orgulho-me de já ter sido romeira, (2016), para conhecer mais a fé do povo.

Academicas da AVLA com gibao de vaqueiro e o padre Antonio

Mulundus

            O festejo era realizado em Mulundus até o ano de  1953, quando foi transferida a festa para Vargem Grande por iniciativa do arcebispo,  Dom José Medeiros Delgado.

Sempre tive curiosidade em conhecer Mulundus.  Este ano com a fundação da Academia Vargem-grandense de Letras e Artes, fomos convidados pela confreira poeta e escultura, Diane Mota, membro da AVLA. Vários membros da instituição estiveram presentes, como: padre Antonio Carlos, Alice Pires, Sérgio Barros e outros.

Academicos da AVLA com o prefeito Carlos Barros e o padre Zezinho

            Apesar de distante quase 30 km da sede e enfrentando muita poeira até chegar a Mulundus, valeu a pena! A impressão que tive foi de que a sede de Vargem Grande havia sido  transferida  para Mulundus. 

            Fiquei encantada e aproveitei para aumentar minhas pesquisas sobre o santo milagreiro. O padre Antonio Carlos, com seu espírito empreendedor realizou primoroso trabalho durante os seus oito anos à frente da paróquia de São Sebastiao. Reformou a capela e construiu um grande anexo que serve de apoio e alojamento para os romeiros, e como intelectual e amante da cultura procurou manter a tradição conservando e incentivando os hábitos do povo e suas crenças. 

Jucey Santana falando sobre Mulundus

Notei também muito conservado o altar construído pelo padre Alfredo Bacelar nos idos de 1941/42.   Conversei com algumas senhoras que choraram ao confirmar a transferência do querido padre para a cidade de São Mateus. 

 Algumas pesquisas sobre Mulundus

A informação mais antiga que encontrei de Mulundus foi de 1805. César Marques, em seu imprescindível Dicionário Histórico e Geográfico da Província do Maranhão, a respeito de Mulundus comenta sobre a freguesia criada em Iguará de Nossa Senhora das Doras:

Freguesia – Na PR de 25 de set. 1801, disse o príncipe regente: “que tendo sido objeto dos cuidados do bispo defunto e do seu paternal amor a extensão de várias freguesias, e entre elas a de Icatu, que se podia dividir em duas (...)  ordenava ao cabido da Santa Sé que procedesse  na conformidade da representação do prelado de fazer a divisão dessa freguesia” / Por sentença firmada  em 1º de mar. 1805, o bispo D. Luis de Brito Homem “dividiu e desmembrou e separou desse dia para sempre todo o território que fica ao S. da mesma freguesia (...)  e instituiu uma nova paróquia e vigararia perpétua sob a invocação de N.Srª das Dores, devendo ser essa nova igreja edificada no lugar da Vargem Grande, e enquanto não o fosse devia servir-se o novo pároco da capela de São Raimundo, que se achava na fazenda chamada de Mulundus”. 



Pelo que entendi, depois de conversar com vários membros da AVLA de Nina Rodrigues, que a igreja não foi construída, no entanto,  foi recriada muito tempo depois com nova padroeira, Nossa Senhora da Conceição. Porém,  a capela de Mulundus, era tão importante  na época, que  tinha até padre  fixo. Vale observar que Nossa Senhora das Dores era muito indicada na época pelo clero, (1801), tendo sido escolhida para Itapecuru Mirim, Brejo e outras.   Incrível!
Encontrei várias outras informações entre ela esta, sobre um importante Congresso em Mulundus  dos índios Tupinambas, muito anos antes do descobrimento do Brasil, referente ao estudo arqueológico de um alemão:

   
Mas a harmonia não ficou sempre intacta; por quaisquer motivo desligaram-se os tupinambás da confederação e constituíram seu próprio congresso, ao lado ocidental do Parnaíba, em Mulundús O CONGRESSO DO MULUNDÚS dos índios  tupinambás já eram grandes senhores, tinham ocupado a maior parte do interior do Maranhão (...) e precisavam dum centro nacional para conservar a unidade da nação dos tupinambás. Esse centro era Mulundús, onde se reuniam todo ano os delegados de todas as regiões, ocupadas pelos tupinambás. Nas cartas e relatórios do padre Antonio Vieira encontram-se muitos indícios desses factos...  Assim o antigo congresso de Mulundús ficou transformado numa festa cristã, dedicada à memória de São Raimundo, como ainda agora se faz. Sempre, porém, essa festa conservou o caráter dum congresso popular, para onde vêem de longe, de Goiás, Mato Grosso e Pará amigos, parentes e comerciantes daquelas regiões que pertenciam antigamente ao grande domínio dos tupinambás”.
(Ludovico Schwennhagen SCHWENNHAGEN,  MINHAS PESQUISAS. Esse texto pode ser encontrado na PACOTILHA, São Luis, 30 de maio de 1925).

Mulundus carece ainda de muitos estudos. Avantes meus Confrades e confreiras!

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