segunda-feira, 6 de julho de 2015

ANAJATUBA NA GUERRA DA INDEPENDÊNCIA

Por Mauro Rego
            A região maranhense, na Era Colonial, era uma Capitania diretamente ligada à Coroa portuguesa que exercia o Governo através de Capitães-Mores nomeados, dos quais Jerônimo de Albuquerque foi o primeiro. Era, portanto, um novo Estado Colonial, constituído de duas Capitanias Gerais: Maranhão e Grão-Pará. A Capitania do Maranhão era a “cabeça” desse Estado e compreendia, em seu distrito, as capitanias subsidiárias do Ceará, do Itapecuru, do Icatu e do Mearim, todas quatro pertencentes à Coroa. Em determinada época da História, foram as duas Capitanias Gerais reunidas em uma única sob a denominação de Capitania do Maranhão e do Grão Pará, com sede em Belém, mas novamente divididas.
            A situação geográfica do Maranhão que facilitava essa ligação direta com Lisboa, a afastava porém das regiões do Sul e Leste do País, com as quais não mantinha relações estreitas. Os nossos ancestrais eram portugueses na sua quase totalidade e os filhos das famílias mais abastadas eram educados em Portugal, França ou Inglaterra.
            Dessa forma, ligados diretamente a Lisboa, éramos uma região fiel à Coroa e apenas observávamos com certo desinteresse os acontecimentos políticos do Rio de Janeiro que culminaram com a Independência do Brasil. Quando, por exemplo, D. João VI elevou o Brasil à categoria de Reino, houve muita discussão em torno do fato do Maranhão fazer ou não parte da nova Nação, eis que, embora estivesse subordinado ao Governo instalado no Rio de Janeiro, continuava recebendo ordens diretamente de Lisboa.
            Nessa situação, o Maranhão era governado exclusivamente pelos portugueses, o quer fazia crescer um sentimento de hostilidade entre a população que, na época, só elegia para o seu Senado da Câmara os naturais da terra. Mas, enquanto o movimento pela Independência tomava corpo no Rio de Janeiro, no Maranhão, a 19 de agosto de 1821, durante solene missa na Catedral, fazia-se o juramento de observar as bases da Constituição Portuguesa que devolvia a D. João VI o poder totalitário, muito embora no dia 22 de abril do mesmo ano, quatro dias antes de retornar a Portugal, D. João VI tivesse nomeado o príncipe D. Pedro de Alcântara como Regente do Brasil, vaticinando que em breve o país ficaria independente e recomendando ao filho que tomasse a coroa antes que algum aventureiro a tomasse.
            Mas a falta de integração com o Sul fazia com que aqui se condenasse a revolta do Príncipe Regente contra o seu Rei e Pai D. João VI e quando ele, premido pelas ordens de regresso imediato a Lisboa – o que reduziria novamente o Brasil ao Estado Colonial – declarou a Independência no dia 7 de setembro de 1822, e o Maranhão pouca importância deu ao fato. Somente em novembro desse ano, quando a Vila de São João da Barra do Parnaíba sublevou-se e aderiu à Independência, seguida pelo Ceará, é que as autoridades começaram a preocupar-se com o problema. Note-se que até os constituintes maranhenses na Assembleia de Lisboa, não seguiam a luta desencadeada pelos brasileiros do sul.  Entretanto, os maranhenses que iam estudar na Europa, influenciados pelas ideias da Revolução Francesa, pelo Iluminismo, pelas lições de Fisiocracia e os ensinamentos do Enciclopedismo ali reinantes, eram os poucos que iam tentando influenciar a opinião pública para a necessidade de adesão ao Império, eis que o contrário significaria o retorno aos grilhões coloniais.
            Na luta pela independência, no Maranhão, os portugueses eram comandados pelo Major Fidié, enquanto as tropas nacionais tinham em Salvador Cardoso de Oliveira o grande comandante do interior. A guerra da independência começou no Piauí, veio avançando no rumo da Capital e chegava ao Itapecuru, onde os nacionais repeliram o duro ataque dos portugueses àquela Vila, interceptados que foram os acessos pela estrada do Porto das Gambarras, Jacu, Barriguda e Guanaré.
Os portugueses fizeram do Porto das Gabarras o ponto de resistência para defender a Capital de ataques pela Baia de São Marcos e em 19 de junho de 1823 colocaram defronte daquele povoado uma flotilha com duas canoeiras.
            A Junta Geral já havia até se decidido pela adesão ao Império, mas faltava a concordância do Comandante das Armas, Marechal Agostinho de Farias quando, na noite de 13 para 14 de julho, um grupo de nacionais comandados pelos Tenentes de 1ª. Linha Francisco Antônio da Costa Barradas, José Cursino Raposo e do Alferes de Milícia Joaquim José dos Reis tentaram tomar de assalto a sua residência, tentativa frustrada que, aliada à notícia de chegada de escunas de guerra, galeras e sumacas vindas da Bahia, fez abortar essa proclamação. O Tenente Raposo era pai de Raimundo Cursino Soares Raposo, Secretário da Junta Paroquial em 1859 e integrante da Junta de Qualificação da Freguesia e Vila de Santa Maria de Anajatuba em 18.01.1863.
            A luta pela Independência prosseguiu e Salvador de Oliveira mandou que João Ferreira Couto ocupasse o Porto das Gabarras, vedando o acesso dos portugueses ao interior. Por esse tempo já a Câmara de Itapecuru-Mirim tomava a decisão de prestar juramento solene de adesão e fidelidade ao Império e organizou o Governo Provisório de toda a Província, elegendo então a Junta Governativa Provisória Constitucional integrada por sete membros, dos quais três, incluindo a presidência, seriam designados pela Câmara de São Luís. Mas somente no dia 28 de julho de 1823, após a capitulação da Vila de Caxias, é que foi oficialmente proclamada a Adesão do Maranhão ao Império.
            Dessa forma, Anajatuba cuja sede atual era um simples lugarejo acossado pelos índios, participou da luta tendo o Porto das Gabarras como um dos baluartes do novo Império e o Tte. José Cursino Raposo como um dos seus chefes.
 O texto faz parte do livro inédito: As Crônicas de Anajatuba de autoria de Mauro Bastos Rego

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