sábado, 18 de julho de 2015

ASTOR SERRA

Por Jucey Santana
ASTOR CRUZ SERRA, Itapecuruense, insigne professor e poeta, filho do comandante de barco a vapor, Raimundo Elesbão Raposo e Mariana Cruz Serra, nasceu em 16 de julho de 1920 e faleceu em 17 de junho de 2002.
O pequeno Astor morava em uma casinha de palha, em frente a Cadeia Pública de Itapecuru-Mirim, com a mãe e irmãos.  Começou estudar em Itapecuru-Mirim, no Instituto Rio Branco do professor Newton de Carvalho Neves, assistindo as aulas das janelas por não possuir uniforme adequado e principalmente por não ter o consentimento do pai, que desenvolveu uma pública animosidade contra o dedicado mestre. O professor descobrindo o grande interesse do garoto pelos estudos, que segundo ele, “havia   sido agraciado por Deus com o dom da inteligência”, recorreu aos amigos de Caxias, Codó, São Luís e Parnaíba, sem que o menino e seus familiares soubessem, solicitando encaminhamento da criança aos estudos. Finalmente em 1932, o Diretor do Ateneu Teixeira Mendes, Solano Rodrigues, o acolheu sem ônus, como interno da instituição.
Ao embarque, na Estação de Trem, para a Capital, o Padre Newton se despediu do menino dizendo-lhes: - Astor, ouve bem o que vou te dizer: Verdade sempre, mentira nunca! Ouviste?  Vai com Deus!

                            O PROFESSOR ASTOR SERRA

Como interno do Ateneu Teixeira Mendes, além cumprir os afazeres que lhes eram incutidos, ele estudava com afinco. O   seu benfeitor sempre o visitava com motivação, para perseverança nos estudos.
Como estudante, sempre desempenhou muito bem suas tarefas, sendo sempre destaque nas disciplinas.  Ainda na adolescência, já ensinava matemática na ausência de algum professor. Também se distinguiu nos meios esportivos, coordenando eventos de competição escolares e acompanhando delegações para participarem de campeonatos futebolísticos interestaduais em virtude de sua responsabilidade precoce. Foi também campeão de xadrez nos torneios anuais da Sociedade Recreativa Maranhense. Como enxadrista, fez parte da Diretoria da Federação Maranhense de Xadrez, que tinha como Presidente o industrial Alberto Aboud (Político e Desportista). Do seu perfil de competidor mereceu o seguinte comentário de um cronista esportivo: “Muito tranquilo, calmo e fiel observador da ética esportiva”. (Combate. 11.4.1946).

Representava o Diretor do Ateneu Teixeira Mendes, o professor Solano Rodrigues, nas solenidades públicas e se tornou muito popular nos meios educacionais, com muitos admiradores.
Ensinava Matemática, português e inglês. Chegou a ter entre seus alunos o matemático itapecuruense Benedito Raposo, um dos fundadores da Faculdade de Engenharia Civil da UEMA e seu sobrinho.
Disputou em 1939, uma maratona de Matemática/Português, da região Norte e Nordeste, tendo sido um dos finalistas.
Lecionou nas seguintes instituições educacionais: Ateneu Teixeira Mendes, Colégio Estadual, Ginásio Rosa Castro, Colégio das Irmãs Dorotéia e em Itapecuru-Mirim, no Ginásio Bandeirante e no Colégio Leonel Amorim.
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                                     NO BANCO DO BRASIL

Casou-se com Maria José de Sá Vale Serra, em 12 de setembro de 1942, filha do proeminente professor José Ribeiro de Sá Vale, autor dos livros de História e Geografia do Maranhão, indicados pelas escolas nos anos 40, 50 e 60.
A sua esposa era de origem nobre. Bisneta do Visconde do Desterro, pelo lado materno e também tinha parentesco com o Barão de Grajaú.  Tiveram sete filhos: Fernando José, Laura Maria, Astor (filho), Heloisa Helena, Roseana, Maysa, e Maria Laura.
Em 1945, passou em primeiro lugar no concurso do Banco do Brasil. Logo que assumiu o cargo foi encarregado da tradução inglesa da correspondência do banco. No banco ele fez uma bela carreira e conquistou amigos, sem nunca deixar o mister educacional, que era a sua grande vocação.
Em 21 de dezembro de 1955, Astor Serra assumiu a gerencia da agencia de Codó, ficando até 1958 naquela cidade, quando foi requisitado de volta a São Luis.
Antiga reivindicação da Associação Comercial, Industrial e Agrícola   de Itapecuru-Mirim a instalação da agencia do Banco do Brasil, no município. O Diretor Regional na época, o senhor Agenor Fernandes atendeu além das reivindicações da Associação o apelo do Padre José Albino Campos para que seus gerentes fosses itapecuruense. Atendido o pleito, em 18 de maio de 1964, foi instalado com grande festa a agencia sendo designado Astor Cruz Serra como gerente e Walace Mota subgerente.
Presentes ao evento festivo, o gerente regional do Banco do Brasil, Ribamar Galiza, do Banco do Estado do Maranhão Aldemir Silva, o Presidente da Associação Comercial do Maranhão Rui Abreu e muitas outras autoridades.
 Antigos moradores lembram que um dos primeiros clientes a abrir uma conta, foi o comerciante libanês João Buzar que carregando um saco de estopa cheio de dinheiro, ocupou dois funcionários para a contagem.
TRAJETÓRIA LITERÁRIA
Astor Serra foi peta e cronista, chegando a colaborar com alguns jornais. Apaixonado por literatura traduzia inúmeras obras inglesas. Também lia e escrevia alemão.  Chegou a fazer algumas traduções do alemão para português entre elas consta a tradução do famoso poema “Rei dos Alamos” de Johann Wolfgang von Goethe.
Foi um dos fundadores, em setembro de 1938, da Academia Estudantil Maranhense, juntamente com Raymundo Rodrigues Bogea (futuro deputado, Manduca Bogea), e Pedro Braga Filho, (fundador da cadeira 39 da Academia Maranhense de Letras), tendo como Presidente de Honra o jornalista e imortal da Academia Maranhense de Letras, Nascimento Morais.  A cadeira de Astor era patroneada pelo poeta Raimundo Correa. Como poeta ele assinava “Astor Raposo”, usando o sobrenome do pai.  Abaixo alguns poemas da sua lavra.
MORCEGO
Astor Raposo.
Via-te sempre no meu quarto voando,
Como a fugir das fúrias hibernais,
Jamais saber buscara, sim jamais,
Se era o destino teu nobre ou nefando.

Contra ti revoltavam os meus pais,
Eu era criança. E assim tudo ignorando,
Como podia compreender, e quando,
A causa mater., de repulsas tais?

Hoje, porém, morcego desgraçado!
Após de muito haver em ti pensado
É que esta ideia sobre ti me veio:

Em teu voejar inquieto e impaciente,
Encarnas o papel de muita gente
Que vive de sugar o sangue alheio.

Agosto, 1940

PAPAI NOEL
Astor Raposo
Papai Noel, eu sonho que você,
Gosta de dar presentes de crianças,
Pois bem: eu quero que você de me dê,
Um brinquedo de sonhos e esperanças.

Você não sabe o que é ser triste ... eu penso,
E talvez não me engane... nunca viu,
A deusa amada lhe agita um lenço...
O seu sonho de amor nunca fugiu.

Mesmo de barbas níveas, dentro embora,
De um infinito outono – o coração,
Que você tem nunca chorou, nem chora,
E jamais lamentou a solidão.

Eu não: mesmo que em linda primavera,
Tenho a alma toda intensa, mesmo assim
Sou mártir de uma dor que me lacera,
De uma saudade que não tem mais fim.

Você sabe que sinto: Você vê!
Papai Noel, assim como as crianças,
Quero um presente quero que dê,
Um brinquedo de sonho e esperança

Junho, 1938


ANTES DA PARTIDA
Astor Raposo
Vais partir minha amiga, misteriosa,
Para longe de mim, pobre poeta,
Que vaga pela vida tormentosa,
Tendo a alma de quimeras mil  repleta.
Vais deixa-me sozinho, a alma saudosa,
Imerso  numa  dor grande e repleta,
Sem teu olhar, sem tua voz maviosa,
No abandono... no exilio...pobre poeta!

Ambos os olhos tenho rasos d´agua,
Já me corta o punhal da grande mágoa,
Da despedida inevitavel, crua.

E o que mais me crucia e me espezinha,
É que já tens a propria vida minha,
E eu meu siguer uma lembrança tua.

Outubro, 1938
CINZAS
Astor Raposo
Cinzas... E nada mais...  Eis tudo o que nos resta,
Do falecido amor, dessa extinta amizade,
Que nos uniu outrora ao céu da Mocidade,
E nos faz gorgear pela mesma floresta.

Hoje, teu triste olhar me odeia e detesta,
Perdeu a antiga luz, a velha claridade,
Do tempo que passou nas asas da Saudade
Das horas em que tive o coração em festa.

Mesmo assim: censurando o meu viver de artista,
Inda chamas  por mim, inda ti encanta a vista,
Meu constrangido olhar de chamais vesperais,

Ignoras  a razão desse curioso fato?
São os restos do Amor eternizado  e ingrato
Que outrora nos uniu: são cinzas nada mais.

Novembro 1938

MISTÉRIO
Astor Raposo
Desfalecido já, e assassinado,
Pelo punhal de Ingratidão, agora,
Para o túmulo se que o desgraçado,
Amor que  nos unia, a um mundo outrora.

O pranto leva o coração magoado
Que pulsa no teu peito e, vida afora,
Meu coração também apaixonado
Geme, lacrimeja, e se debate e chora.

Já me  não queres ver, pérola rara!
Já não posso fitar-te, anjo adorado...
Tudo que nos unia  nos separa

E nesse abismo que entre nós existe,
Juro por Deus, por tudo o que é sagrado,
Não sei qual de nós dois anda mais triste!

Novembro, 1938,


3 comentários:

  1. Muito grato pela atenção dedicada ao tio Astor, espirito de luz que na família Serra encarnou e desencadeou deixando rastro de persistência e sabedoria. Sinto - me muito orgulhoso e feliz.

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  2. Muito grato pela atenção dedicada ao tio Astor, espirito de luz que na família Serra encarnou e desencadeou deixando rastro de persistência e sabedoria. Sinto - me muito orgulhoso e feliz.

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  3. PROFESSOR ASTOR ME DEU POSSE NO BB ITAPECURU-MIRIM EM MAIO DE 1972.
    QUE DA NOSSA PÁTRIA DE ORIGEM SUA LUZ CONTINUE A BRILHAR SOBRE TODOS NÓS!

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