Por
Jucey Santana
ASTOR
CRUZ SERRA, Itapecuruense, insigne professor e poeta, filho do
comandante de barco a vapor, Raimundo Elesbão Raposo e Mariana Cruz Serra,
nasceu em 16 de julho de 1920 e faleceu em 17 de junho de 2002.
O pequeno Astor morava em uma
casinha de palha, em frente a Cadeia Pública de Itapecuru-Mirim, com a mãe e
irmãos. Começou estudar em Itapecuru-Mirim,
no Instituto Rio Branco do professor Newton de Carvalho Neves, assistindo as
aulas das janelas por não possuir uniforme adequado e principalmente por não ter
o consentimento do pai, que desenvolveu uma pública animosidade contra o
dedicado mestre. O professor descobrindo o grande interesse do garoto pelos estudos,
que segundo ele, “havia sido agraciado
por Deus com o dom da inteligência”, recorreu aos amigos de Caxias, Codó, São
Luís e Parnaíba, sem que o menino e seus familiares soubessem, solicitando
encaminhamento da criança aos estudos. Finalmente em 1932, o Diretor do Ateneu
Teixeira Mendes, Solano Rodrigues, o acolheu sem ônus, como interno da
instituição.
Ao embarque, na Estação de Trem,
para a Capital, o Padre Newton se despediu do menino dizendo-lhes: - Astor,
ouve bem o que vou te dizer: Verdade sempre, mentira nunca! Ouviste? Vai com Deus!
O PROFESSOR ASTOR SERRA
Como interno do Ateneu Teixeira
Mendes, além cumprir os afazeres que lhes eram incutidos, ele estudava com
afinco. O seu benfeitor sempre o
visitava com motivação, para perseverança nos estudos.
Como estudante, sempre
desempenhou muito bem suas tarefas, sendo sempre destaque nas disciplinas. Ainda na adolescência, já ensinava matemática
na ausência de algum professor. Também se distinguiu nos meios esportivos,
coordenando eventos de competição escolares e acompanhando delegações para
participarem de campeonatos futebolísticos interestaduais em virtude de sua
responsabilidade precoce. Foi também campeão de xadrez nos torneios anuais da
Sociedade Recreativa Maranhense. Como enxadrista, fez parte da Diretoria da
Federação Maranhense de Xadrez, que tinha como Presidente o industrial Alberto
Aboud (Político e Desportista). Do seu perfil de competidor mereceu o seguinte
comentário de um cronista esportivo: “Muito tranquilo, calmo e fiel observador
da ética esportiva”. (Combate.
11.4.1946).
Representava o Diretor do Ateneu
Teixeira Mendes, o professor Solano Rodrigues, nas solenidades públicas e se
tornou muito popular nos meios educacionais, com muitos admiradores.
Ensinava Matemática, português e
inglês. Chegou a ter entre seus alunos o matemático itapecuruense Benedito
Raposo, um dos fundadores da Faculdade de Engenharia Civil da UEMA e seu
sobrinho.
Disputou em 1939, uma maratona
de Matemática/Português, da região Norte e Nordeste, tendo sido um dos
finalistas.
Lecionou nas seguintes
instituições educacionais: Ateneu Teixeira Mendes, Colégio Estadual, Ginásio
Rosa Castro, Colégio das Irmãs Dorotéia e em Itapecuru-Mirim, no Ginásio
Bandeirante e no Colégio Leonel Amorim.
.
NO BANCO DO BRASIL
Casou-se com Maria José de Sá
Vale Serra, em 12 de setembro de 1942, filha do proeminente professor José
Ribeiro de Sá Vale, autor dos livros de História e Geografia do Maranhão,
indicados pelas escolas nos anos 40, 50 e 60.
A sua esposa era de origem
nobre. Bisneta do Visconde do Desterro, pelo lado materno e também tinha
parentesco com o Barão de Grajaú.
Tiveram sete filhos: Fernando José, Laura Maria, Astor (filho), Heloisa
Helena, Roseana, Maysa, e Maria Laura.
Em 1945, passou em primeiro
lugar no concurso do Banco do Brasil. Logo que assumiu o cargo foi encarregado
da tradução inglesa da correspondência do banco. No banco ele fez uma bela
carreira e conquistou amigos, sem nunca deixar o mister educacional, que era a
sua grande vocação.
Em 21 de dezembro de 19 55,
Astor Serra assumiu a gerencia da agencia de Codó, ficando até 1958 naquela
cidade, quando foi requisitado de volta a São Luis.
Antiga reivindicação da Associação Comercial, Industrial e
Agrícola de Itapecuru-Mirim a
instalação da agencia do Banco do Brasil, no município. O Diretor Regional na época,
o senhor Agenor Fernandes atendeu além das reivindicações da Associação o apelo
do Padre José Albino Campos para que seus gerentes fosses itapecuruense.
Atendido o pleito, em 18 de maio de 1964, foi instalado com grande
festa a agencia sendo designado
Astor Cruz Serra como gerente e Walace Mota subgerente.
Presentes ao evento festivo, o gerente
regional do Banco do Brasil, Ribamar Galiza, do Banco do Estado do Maranhão
Aldemir Silva, o Presidente da Associação Comercial do Maranhão Rui Abreu e
muitas outras autoridades.
Antigos
moradores lembram que um dos primeiros clientes a abrir uma conta, foi o
comerciante libanês João Buzar que carregando um saco de estopa cheio de
dinheiro, ocupou dois funcionários para a contagem.
TRAJETÓRIA LITERÁRIA
Astor Serra foi peta e cronista, chegando a
colaborar com alguns jornais. Apaixonado por literatura traduzia inúmeras obras
inglesas. Também lia e escrevia alemão. Chegou a fazer algumas traduções do alemão
para português entre elas consta a tradução do famoso poema “Rei dos Alamos” de
Johann Wolfgang von
Goethe.
Foi um
dos fundadores, em setembro de 1938, da Academia Estudantil Maranhense,
juntamente com Raymundo Rodrigues Bogea (futuro deputado, Manduca Bogea), e
Pedro Braga Filho, (fundador da cadeira 39 da Academia Maranhense de Letras),
tendo como Presidente de Honra o jornalista e imortal da Academia Maranhense de
Letras, Nascimento Morais. A cadeira de Astor
era patroneada pelo poeta Raimundo Correa. Como poeta ele assinava “Astor
Raposo”, usando o sobrenome do pai.
Abaixo alguns poemas da sua lavra.
MORCEGO
Astor Raposo.
Via-te sempre no meu quarto
voando,
Como a fugir das fúrias
hibernais,
Jamais saber buscara, sim
jamais,
Se era o destino teu nobre ou
nefando.
Contra ti revoltavam os meus
pais,
Eu era criança. E assim tudo
ignorando,
Como podia compreender, e
quando,
A causa mater., de repulsas
tais?
Hoje, porém, morcego desgraçado!
Após de muito haver em ti
pensado
É que esta ideia sobre ti me
veio:
Em teu voejar inquieto e
impaciente,
Encarnas o papel de muita gente
Que vive de sugar o sangue
alheio.
Agosto, 1940
PAPAI
NOEL
Astor Raposo
Papai Noel, eu sonho que você,
Gosta de dar presentes de
crianças,
Pois bem: eu quero que você de
me dê,
Um brinquedo de sonhos e
esperanças.
Você não sabe o que é ser triste
... eu penso,
E talvez não me engane... nunca
viu,
A deusa amada lhe agita um
lenço...
O seu sonho de amor nunca fugiu.
Mesmo de barbas níveas, dentro
embora,
De um infinito outono – o
coração,
Que você tem nunca chorou, nem
chora,
E jamais lamentou a solidão.
Eu não: mesmo que em linda
primavera,
Tenho a alma toda intensa, mesmo
assim
Sou mártir de uma dor que me
lacera,
De uma saudade que não tem mais
fim.
Você sabe que sinto: Você vê!
Papai Noel, assim como as
crianças,
Quero um presente quero que dê,
Um brinquedo de sonho e
esperança
Junho, 1938
ANTES DA PARTIDA
Astor Raposo
Vais partir minha amiga, misteriosa,
Para longe de mim, pobre poeta,
Que vaga pela vida tormentosa,
Tendo a
alma de quimeras mil repleta.
Vais deixa-me sozinho, a alma saudosa,
Imerso
numa dor grande e repleta,
Sem teu olhar, sem tua voz maviosa,
No abandono... no exilio...pobre poeta!
Ambos os olhos tenho rasos d´agua,
Já me corta o punhal da grande mágoa,
Da despedida inevitavel, crua.
E o que mais me crucia e me espezinha,
É que já tens a propria vida minha,
E eu meu siguer uma lembrança tua.
Outubro,
1938
CINZAS
Astor
Raposo
Cinzas... E nada mais...
Eis tudo o que nos resta,
Do falecido amor, dessa extinta amizade,
Que nos uniu outrora ao céu da Mocidade,
E nos faz gorgear pela mesma floresta.
Hoje, teu triste olhar me odeia e detesta,
Perdeu a antiga luz, a velha claridade,
Do tempo que passou nas asas da Saudade
Das horas em que tive o coração em festa.
Mesmo assim: censurando o meu viver de artista,
Inda chamas por
mim, inda ti encanta a vista,
Meu constrangido olhar de chamais vesperais,
Ignoras a razão
desse curioso fato?
São os restos do Amor eternizado e ingrato
Que outrora nos uniu: são cinzas nada mais.
Novembro 1938
MISTÉRIO
Astor Raposo
Desfalecido já, e
assassinado,
Pelo punhal de Ingratidão,
agora,
Para o túmulo se que o
desgraçado,
Amor que nos unia, a um mundo outrora.
O pranto leva o coração
magoado
Que pulsa no teu peito e,
vida afora,
Meu coração também
apaixonado
Geme, lacrimeja, e se
debate e chora.
Já me não queres ver, pérola rara!
Já não posso fitar-te,
anjo adorado...
Tudo que nos unia nos separa
E nesse abismo que entre
nós existe,
Juro por Deus, por tudo o
que é sagrado,
Não sei qual de nós dois
anda mais triste!
Novembro, 1938,
Muito grato pela atenção dedicada ao tio Astor, espirito de luz que na família Serra encarnou e desencadeou deixando rastro de persistência e sabedoria. Sinto - me muito orgulhoso e feliz.
ResponderExcluirMuito grato pela atenção dedicada ao tio Astor, espirito de luz que na família Serra encarnou e desencadeou deixando rastro de persistência e sabedoria. Sinto - me muito orgulhoso e feliz.
ResponderExcluirPROFESSOR ASTOR ME DEU POSSE NO BB ITAPECURU-MIRIM EM MAIO DE 1972.
ResponderExcluirQUE DA NOSSA PÁTRIA DE ORIGEM SUA LUZ CONTINUE A BRILHAR SOBRE TODOS NÓS!