Por: Mauro Rego
A
ADESÃO DO Maranhão à Independência e ao Império do Brasil, embora oficialmente
decretada em 28.07.1823, não foi consolidada de imediato, tendo em vista as
lutas pelo poder político deflagradas entre as famílias Bruce, Burgo e Belfort
que Mário Meireles chamou de “guerra dos três bês”.
Essa
disputa valeu demissões, prisões e deportações de membros da Junta Governativa
Provisória e do Comandante das Armas José Félix Pereira Burgos e ainda durou
cerca de dois anos. Acusados os litigantes ora de Republicanos ora de
partidários de Lisboa, na verdade não havia nenhuma ideologia entre os
protagonistas cuja única ambição era governar.
A
chegada do Tenente Coronel José Félix Pereira Burgos do Rio de Janeiro em
19.04.1923 que havia sido deposto do cargo de Comandante das Armas em 15.09.823
ao qual fora reconduzido por decreto imperial, iniciaria essa “guerra”, eis que
Burgos resolveu tomar desforra dos que haviam participado de sua deposição.
Entre provocações que iam da falta de recepção condigna à ausência dos Capitães
Salvador de Oliveira e José Cursino Raposo que foram retirados de seu comando a
pretexto de serviços no interior, Burgos exercia o cargo de maneira prepotente,
arbitrária e violenta, aliando contra si os Bruce e os Belfort.
Os
acontecimentos culminaram com a dissolução da Junta Governativa Provisória
presidida por Freire Bruce e, entre as razões para tal ato estavam as atitudes
de revolta do Capitão José Cursino Raposo nas Vilas do Icatu e do
Itapecuru-Mirim. Esse ancestral de ilustre família anajatubense, juntamente com
José Francisco da Silva, comandava essa contra revolução iniciada em 5 de junho
de 1824, resultando na fuga do Comandante das Armas para Caxias, sendo os
membros depostos libertados e reconduzidos aos cargos enquanto o advogado Miguel
Inácio dos Santos Freire Bruce assumia a Presidência da Junta, mesmo acusado de
ideias republicanas, iniciando um novo período na História do Maranhão que não
foi muito diferente do anterior.
Foi
então que os Capitães Salvador Cardoso de Oliveira e José Cursino Raposo
estabeleceram o seu Quartel General na Vila de Itapecuru-Mirim e iniciaram um
novo movimento contra as três famílias que queriam mandar no Maranhão. Criaram
imediatamente a Força Armada contra o Despotismo substituída depois pela
Comissão Expedicionária de Itapecuru-Mirim que em 6 de julho. Dirigiu uma
proclamação aos “camaradas” de São Luís, cujo texto terminava assim: “Correi às armas, não para sustentar um
punhado de déspotas, mas para voar cada qual ao encontro do Amigo, do Pai, do
Filho e do Irmão e marchar de comum acordo entre as aclamações do povo contra
os tiranos que tentam escravizar-nos”.
A guerra civil grassava e a cidade de São Luís estava sitiada. O
Presidente Bruce mandou que todos os presos, criminosos de toda espécie, fossem
libertados e se juntassem às tropas que lhe eram fiéis. Iniciou-se então uma
verdadeira carnificina que foi chamada “a
era das brucinadas”, em que os adversários eram surrados a cacetes. Só à
custa de sangue, Bruce ia mantendo a sua autoridade. Demitiu todos os chefes
revolucionários.
Mas
a 9 de novembro a nau Pedro I aportou em São Luís sob o comando de Lord
Cochrane que acabara de esmagar a Confederação do Equador. Logo no dia seguinte
um abaixo-assinado de 78 damas da sociedade maranhense lhe chegava às mãos e
nesse documento o Presidente Bruce era acusado de provocar a guerra civil para
manter-se no poder de forma cruel e arbitrária. Cochrane acreditou no seu
conteúdo e conclamou a todos que suspendessem as hostilidades e depusessem as
armas, no que foi prontamente atendido pela Comissão Expedicionária. Bruce
aproveitou a situação para massacrar mais ainda os seus adversários,
reacendendo a luta no interior de forma tão intensa que o cônsul inglês e o
vice-cônsul francês dirigiram-se a Cochrane pedindo providências contra os
crimes do Presidente da Província.
Assim,
mais uma vez, um dos nossos ancestrais comandava uma revolução a favor do povo
e os Burgo, os Belfort e os Bruce foram destituídos dos cargos que exerciam.
Mas o destino roubou a Salvador de Oliveira e José Cursino Raposo a glória de
haverem levado a efeito a capitulação de São Luís. Esses dois ilustres
maranhenses já haviam vencido os nossos opressores quando Cochrane, um
marinheiro de má índole, intitulou-se libertador do Maranhão
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