Memória,
arte e religião na Matriz de N.S. das Dores.
Quando chegava o domingo, eu levantava
cedo, aliás, eu sempre levantava cedo. Mas no domingo era especial, era dia de
missa. As badaladas do sino me chamavam e alegravam o meu espírito.
Ao entrar na Matriz de Nossa Senhora das
Dores, parecia que eu estava num sonho: o sino, os cânticos, a voz marcante do
padre Benedito e a multidão de pessoas que gradativamente preenchiam todos os
bancos da igreja.
Eu ficava em êxtase com tudo aquilo, meus
olhos percorriam todos os espaços da igreja, os bancos de madeira, as paredes,
o ladrilho do piso, o forro, e finalmente, os três altares: os dois laterais e
o imponente altar-mor.
Durante esse passeio visual pelos
altares, meus olhos normalmente se demoravam mais na apreciação de duas
imagens: a de um anjo vestido como soldado segurando uma espada e uma balança;
e uma santa com uma adaga enfiada no peito e uma coroa na cabeça. Eu era apenas
um garoto, tinha acho que doze anos de idade, mas aquelas imagens nunca saíram
da minha memória.
Décadas depois, investigando inventários
do IPHAN descobri que o santo soldado é São Miguel Arcanjo e a santa é Nossa
Senhora das Dores. Essas duas imagens, juntamente com as de Nossa Senhora do
Rosário, São Francisco Xavier e Santa Rita de Cássia, todas localizadas nos
altares da Matriz de Itapecuru-Mirim, formam um precioso conjunto de esculturas
remanescentes do século XVIII, em madeira policromada, oriundas das antigas
missões/igrejas jesuítas na região de Itapecuru.
Essas missões contribuíram
significativamente para o desenvolvimento da nossa região construindo igrejas,
colégios para colonos e indígenas, pacificando povos indígenas, fazendo lavouras
e criando rebanhos, e unindo as pessoas pela fé em lugares e tempos tão
adversos como era a Ribeira do Itapicuru trezentos anos atrás.
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