Por:
Benedito Buzar
Eu, na
condição de Itapecuruense, lamento Dilma Rousseff não ocupar a Presidência da
República do Brasil na década de 1940, não porque desejasse vê-la à frente de
nossos destinos, numa época em que, desgraçadamente, o país estava sob a égide
da ditadura, chefiado pelo gaúcho Getúlio Vargas.
Gostaria
de, naqueles idos, Dilma chegasse ao comando supremo da nação brasileira, só
por um motivo: a certeza de que não permitiria a desativação da usina de
álcool, que o governo federal projetara para montar Itapecuru, usando a
mandioca como matéria prima, que ela considera “uma das maiores conquistas do
país”.
A
história da construção dessa usina, que tanto esperança deu à população
itapecuruense, começa em 1943, quando o interventor Paulo Ramos recebe a
informação de que no Maranhão a União instalaria uma fábrica para a produção de
40 mil litros anuais de álcool.
O
interventor tentou levar o projeto para Caxias, sua terra natal, mas os
técnicos acharam que a cidade de Itapecuru-Mirim seria melhor e a mais adequada
à instalação da usina, por estar mais próxima da capital do Estado, em que os
equipamentos, vindos do exterior por via marítima, seriam descarregados e
transportados pela estrada de ferro ao local do empreendimento.
As
tratativas para execução da obra se iniciam em 1944, com a assinatura de um
convênio entre a CEPM-Comissão Executiva dos Produtos da Mandioca e o Governo
do Maranhão, com este contraindo um empréstimo no Banco do Brasil, no valor de
sete milhões de cruzeiros (em moeda da época), destinado ao levantamento dos
prédios, aquisição de equipamentos e outros procedimentos, a cargo da empresa
carioca, Construpan, que, contratada para tal fim, aprovou de imediato o
terreno doado pela prefeitura e localizado na Rua do Fio, para a montagem da
fábrica.
Começadas
as obras, vieram à tona problemas que fizeram a construtora a interromper os
trabalhos em execução pelos seguintes fatores: o rigoroso inverno que atacou o
interior do Maranhão e fez subir significativamente as águas do rio Itapecuru;
a deficiência do transporte ferroviário, que não entregava com presteza os
materiais e equipamentos; a ausência de pessoal qualificado para realizar
adequadamente os serviços de construção civil; e a pequena produção de telhas e
tijolos que a construção carecia.
Sanados,
ainda que parcialmente os obstáculos, nos meados de 1946, os trabalhos e
serviços de construção civil foram novamente interrompidos. Desta feita, por
falta de recursos. Um novo empréstimo, também, contraído entre o Governo do
Estado e o Banco do Brasil foi assinado, no valor de três milhões e quinhentos mil
cruzeiros, para ser resgatado nas mesmas condições do anterior, ou seja, em 10
anos, com 7% de juros ao ano.
Com a
retomada dos trabalhos da destilaria, paralelamente, a CEPM iniciou o movimento
para estimular os agricultores de Itapecuru e das cidades vizinhas, para a
necessidade de plantar e cultivar a mandioca em grandes escala, matéria prima
que usina precisaria para a produção de álcool. Nesse sentido, foram
oferecidos aos lavradores financiamento para o cultivo da planta, compra de
instrumentos agrícolas e transporte do produto para a fábrica, que estaria
preparada para, diariamente, consumir 35 toneladas de raízes da planta.
Mas os
recursos advindos do recente empréstimo, que deveriam ser aplicados na obra e
no financiamento da produção agrícola, foram desperdiçados e tomaram o destino
da corrupção. Resultado: a construção da fábrica, no final de 1946, enveredou
no rumo da desativação dos trabalhos e da operação.
Mas não
foi apenas isso o que aconteceu. Sem que os governantes federais e estaduais, a
CEPM e a Construpan se manifestassem quanto ao destino da usina, os prédios
construídos e os equipamentos instalados, viram-se destruídos, não apenas pela
ação inclemente do sol e da chuva a que estavam expostos, mas, também, pela
vontade criminosa de malfeitores, que de lá levaram tudo o que puderam.
Vítimas,
também, desse projeto mal conduzido: os pobres agricultores que, iludidos com
promessas mirabolantes, endividaram-se e viram os seus esforços rolaram por
águas abaixo, levando de roldão as esperanças de dias melhores.
Sem que
os responsáveis por toda aquela situação tenham sido molestados ou investigados
por qualquer autoridade policial ou jurídica, excetuando-se a imprensa que
sempre clamava por explicações das autoridades ou pedia a punição dos
criminosos, o sonho dos itapecuruenses de contar com uma fábrica para empregar
mão de obra local e incentivar a produção agrícola regional, só não se
desmoronou por completo por que a Associação Comercial e Industrial de
Itapecuru, tendo à frente o incansável José Alexandre de Oliveira, fez várias
tentativas para o projeto ser reativado, mas todas em vão, a despeito da
solidariedade de alguns políticos.
Por tudo
que comentei acima, acho que Dilma chegou tardiamente à Presidência da
República e ocupou o palácio errado. O Palácio do Catete seria bem mais
confortável do que o Palácio do Planalto, onde vive um inferno astral. Se
tivesse optado pela década de 1940, a minha terra, quem sabe, poderia ser hoje
um polo industrial, graças à mandioca, descoberta por ela e considerada “uma
das maiores conquistas do país”.
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