Jean
Carlos dos Santos
“A
natureza, especialmente em nosso tempo, está tão integrada nas dinâmicas
sociais e culturais que quase já não constitui uma variável independente” (Papa
Bento XVI)
1. Apelo
do Papa Francisco
Na
atualidade o mundo passa por uma transformação profunda. Essa se revela nos
mais variados campos da existência, inclusive na perspectiva humana. As
mudanças são inevitáveis e surgem como possibilidades de readequação na maneira
do relacionamento do ser humano consigo mesmo e com o outro, o diferente. A
dificuldade é grande para se ter essa compreensão, pois há mecanismos que
interpelam o agir humano dificultando uma melhor reflexão sobre as
consequências de sua ação. É necessário dizer que a economia, enquanto ação na
perspectiva de acúmulo e lucro delineia uma nova ordem social e cria relações
de domínio e poder exclusivista.
Nestes
últimos tempos, por outro lado, tem-se desenvolvido uma consciência planetária
de interdependência da vida, expressa em múltiplas formas, com o cosmo. Muitos
grupos sociais têm se movimentado para que o planeta tenha um olhar sobre si
mesmo e que surjam ações positivas que o ajudem a ser uma “casa comum”..
O
Papa Francisco chamou a atenção do mundo em 2015 lançando uma Encíclica que
volta sua preocupação para o nosso relacionamento com o meio ambiente, em
especial com o planeta terra. Ele reflete que a nossa terra esta maltratada e
que a causa de tudo isso é o nosso mau uso dela. Afirma Francisco: “Esta irmã
clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso
dos bens que Deus nela colocou. Crescemos pensando que éramos seus
proprietários e dominadores, autorizados a saqueá-la”[2].
Essa
constatação de que somos responsáveis pelo mau uso do planeta em sua
biodiversidade é o ponto de partida para compreender a urgência de uma tomada
de consciência a respeito do nosso ser e estar no mundo. O Papa elenca duas
motivações importantes para que haja um
debruçar-se sobre a nova consciência planetária.
Para
isso ele menciona, em primeiro lugar, que o “urgente desafio de proteger a
nossa casa comum inclui a preocupação de unir toda a família humana na busca de
um desenvolvimento sustentável e integral”[3]. Em
segundo lugar, é aberto um convite para “renovar o diálogo sobre a maneira como
estamos construindo o futuro do planeta”[4]. Estas
duas motivações ajudam a criar um espaço de abertura para um debate mais
proveitoso a partir da consciência de pertença do ser humano e este planeta e
também do cuidado que o mesmo deve ter para com ele.
2. Olhando
a realidade do ambiente
Depois
de se ter abordado sobre o convite do Papa Francisco para refletir mais a
respeito do nosso agir no mundo dentro do aspecto do cuidado com a vida do
planeta. É importante que se diga que esse clamor franciscano é unido às muitas
vozes que ecoam seus gritos em defesa do meio ambiente pelo mundo inteiro. Já
há muito suor derramado nesta luta. No entanto, devido a situação real de hoje,
não é permitido que paremos os clamores e nas tentativas de ações promovam uma
consciência ecológica.
Para
isso devemos olhar mais quais os aspectos que são fortes e que incidem sobre a
realidade no que diz respeito à agressão do meio ambiente. Entre tantos,
pode-se destacar: a poluição que afeta diariamente as pessoas; a cultura do
descarte, na qual não se aproveita nada do que já foi utilizado, mas apenas se
descarta como lixo.
Tudo
isso leva a uma série de consequências. Essas consequências se traduzem em
mudanças climáticas que geram graves implicações ambientais, sociais,
econômicas, distributivas e políticas, constituindo atualmente um dos
principais desafios para a humanidade[5]. O ser
humano e as outras espécies fazem múltiplas imigrações e novas adaptações.
Muitas vezes estas adaptações são com sucesso e outras vezes não. Isso ocasiona
até extinção de inúmeras formas de vida do planeta.
Ademais,
temos um aspecto relevante que gera disputas e confusões dentro dos recursos
naturais. É o elemento “água”, tão fundamental para a vida. Na reflexão da
Encíclica ao abordar a temática água, ela sustenta que a água potável e limpa é
de suma importância porque é “indispensável para a vida humana e para sustentar
os ecossistemas terrestres e aquáticos”[6].
Aqui
entra um termo que revoluciona toda a ação humana no seu entendimento como
parte integrante deste planeta e sua relação com o próprio meio. É a questão a
da sustentabilidade. Ela mexe com a visão antropológica do ser humano como
aquele que intervém saudavelmente na natureza, portanto com a mística do
cuidado, ou como aquele apenas vê a natureza apenas como fonte de riqueza e lucro
desenfreado.
A
água é um desses recursos do qual se tem a visão que deve ser explorado na
perspectiva micro e macro econômica, gerando lucro para alguns e deixando toda
uma gama de pessoas a margem do uso desse recurso vital. Essas pessoas são os
pobres que vivem diante do caos de não poderem usufruir da água boa para o
consumo e tem que pagar até com as próprias vidas. São vítimas de várias
doenças oriundas do manuseio da água não adequada para o ser humano[7]. Essa é
uma realidade que afeta milhões de pessoas pelo mundo e que só agrava cada vez
mais.
3. Igreja
do Brasil: perspectiva propositiva
A
Igreja Católica no Brasil todo ano lança no período quaresmal a Campanha da
Fraternidade a qual sempre reflete um tema que aborda uma temática social. Este
ano ela fez eco à voz do Papa Francisco sobre o cuidado com a casa comum. O
tema proposto para que os cristãos e cristãs, também os homens e mulheres de
boa vontade, possam refletir sobre os “biomas brasileiros e defesa da vida”.
Essa
Campanha da Fraternidade tem como objetivo: “Cuidar da criação, de modo
especial dos biomas brasileiros, dons de Deus, e promover relações fraternas
com a vida e a cultura dos povos, à luz do Evangelho”[8].
É uma preocupação para trazer à sociedade uma reflexão que ajude a olharmos e
entendermos os nossos biomas: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica,
Pantanal e Pampas. Também ver qual é a nossa relação íntima com eles enquanto
parte constitucional e relacional com os mesmo e, quais as influências que
sofremos deles e temos sobre eles.
Nós
aqui no Vale do Itapecuru estamos inseridos no bioma da “Amazônia legal”,
embora sendo da região nordeste do país. As nossas preocupações com o bioma
amazônico devem ser uma grande tarefa. A bacia amazônica é a maior bacia
hidrográfica do mundo: cobre cerca de 6 milhões de km² e tem 1.100 afluentes. Seu principal rio é o
Amazonas, que corta a região para desaguar no Oceano Atlântico e lança ao mar
cerca de 175 milhões de litros d’água a cada segundo. Ele carrega uma
quantidade imensa de material orgânico e sedimentos lançados no oceano. Isso gera uma
biodiversidade marinha e contribui para o equilíbrio da temperatura do planeta[9].
Baseado
nestes dados já se percebe toda a magnitude deste bioma e da extrema relevância
que o mesmo tem como objeto de nosso cuidado. Cuidar deste e dos outros biomas
é uma questão de necessidade e de sobrevivência para o capital da
biodiversidade. Qualquer descuido ou negligência neste aspecto servirá como
potencialização de consequências desastrosas e danosas para todos, como de fato
já vem acontecendo no percurso histórico.
4.
Breve conclusão
Tentando refletir um pouco sobre a
questão da criação de uma consciência ecológica, a partir da perspectiva da
Encíclica “Laudato si”, do Papa Francisco. Observou-se que a preocupação com a
situação da casa onde moramos, a qual é denominada de casa comum é a fator
motriz de tudo o que vem depois nesta abordagem.
Pode-se compreender que trazer essa
reflexão para o meio social é relevante, mas também muito desgastante. Pois
mexe com muitos poderes e interesses grandiosos. Mas se pode partir da própria
realidade local. No caso, aqui em nossa cidade. Deve-se refletir, a princípio,
analisando os fatores que possibilitam iniciativas que favorecem ações que
mudam a nossa consciência sobre o mundo e nosso habitat.
Portanto, a preocupação com ecologia e,
consequentemente, com os nossos biomas, devem criar um novo jeito de olhar e
agir. Somos interdependentes com eles.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
BENTO
XVI. Carta Encíclica Caritas in veritate – Sobre o desenvolvimento humano na
caridade e na verdade. Documentos do Magistério. 5ª ed. São Paulo: Edições
Loyola, 2011
CNBB.
Campanha da Fraternidade 2017: Texto-Base. Brasília: Edições CNBB, 2016.
FRANCISCO.
Carta Encíclica Laudato si – Sobre o cuidado da Casa Comum. Documentos Pontifícios 22. Brasília: Edições CNBB,
2015.
Do livro
Púcaro Literário (2017) organizado por Jucey Santana e João Carlos Pimentel Cantanhede.
Jean
Carlos dos Santos sacerdote da Igreja
Católica. Nasceu em 1977 em Cantanhede (MA) e foi ordenado em 2006. Desde então
trabalha em Itapecuru Mirim como Vigário Paroquial. Estudou Filosofia no Iesma
(São Luís-Ma) e Teologia no IFTESAM (União da Vitória-Pr). Pertence ao clero
diocesano de Coroatá. É Representante do Clero atualmente.
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