Pintura de Beto Diniz
146 Anos da Poetisa
Jucey
Santana
.
A poetisa itapecuruense Mariana Gonçalves da Luz foi uma das figuras
mais expressivas na literatura maranhense, do final do século XIX e da primeira
metade do século XX, com uma produção literária de primeira grandeza.
Era filha do tabelião do 1º Ofício de
Itapecuru Mirim, João Francisco da Luz, e de Fortunata Gonçalves da Luz.
Recebeu na infância o carinhoso apelido de “Sianica”. Nasceu no dia 10 de
dezembro de 1871, e faleceu em 14 de setembro de 1960. Foi professora, poetisa, teatróloga, musicista,
oradora e escritora.
Mariana Luz era versátil, empreendedora e ousada, que transmitia a sua
paixão pelas letras e pelas artes mesmo
nas horas de maior adversidade.
Mariana
viveu na vanguarda do seu tempo, que na
época, já vislumbrava uma prefiguração da mulher dos tempos atuais. Ela não
temia quebrar as regras de uma sociedade preconceituosa para impor o seu trabalho e talento. A exemplo de dedicar-se ao magistério por quase
80 anos, como a um sacerdócio; ajudar na educação de gerações e gerações de
maranhenses; ser pioneira em trabalhos artísticos e artesanais; fundar escolas;
ajudar na construção da igreja; fundar teatro; participar de grêmios
literários; fazer parte dos principais acontecimentos históricos, culturais e
sociais do Maranhão e se projetar como renomada poetisa,
angariando respeito em toda uma classe
literária, ao lado de gigantes da intelectualidade que criaram o fenômeno da Atenas Brasileira no cenário estadual.
Mariana Luz
fez o seu primeiro poema aos dez anos. Sendo descoberta pelo pai que a proibiu
de escrever por achar que não era uma atitude apropriada à mulher, então,
continuou a produzir a sua arte literária escondida no pseudônimo de homem, “Hector Moret”. Aos 11 anos
já tinha uma escolinha de primeiras letras na casa de seus pais, começando
ensinar os filhos de vizinhos.
Em 1875, aos
treze anos, já era uma artista plástica requisitada na sociedade, pelos seus
trabalhos artisticos e artesanais, comprovado por vários
em jornais da época.
A obra de Mariana Luz, ficou muito tempo na obscuridade,
por falta de condições financeiras da autora, para sua publicação. Recorreu aos
conterrâneos, a governadores do Maranhão, (Godofredo Viana e Antônio Dino), e
até a Adhemar de Barros, então
governador São Paulo, em 1951, sem
êxito. No final da década de 40, organizou artesanalmente um livro com o título
de “Murmúrios” e se candidatou à
Academia Maranhense de Letras sendo eleita no dia 24 de julho de 1948, como a
segunda mulher a ter assento naquela secular instituição cultural, na qual foi
fundadora da cadeira 32, tendo por patrono o poeta caxiense Vespasiano Ramos.
Em 10 de maio de 1949 tomou posse em meio a grande festa
e repercussão nacional. Foi convidada para ser hóspede oficial do então
governador do Estado Sebastião Archer. Infelizmente faleceu sem ter realizado o
sonho de ter seus versos publicados em livro.
A Poetisa
Apesar
da sua poesia ter sido muito voltada
para o foco da tristeza, sofrimento e
morte, sendo conhecida como a Poetisa
dos Versos Tristes, são encontrados
outros aspectos temáticos em sua obra, às vezes versando sobre: amor, mocidade, crianças, risos, jovens, amanhecer, cenas da vida, esperança, ou sobre, morte, sofrimento, dor, etc.
− Sofrimento, solidão e tristeza − são os temas muito explorados
pela autora. Uma tristeza vaga,
indefinida / Esta vida falaz e amargurada. / Angústia, o mal a que ninguém se exime. Em entrevista a poetisa
confirma: Prefiro a Escola Antiga, porque
me parece agradar mais ao coração. Está mais condizente com a minha alma
sofredora.
− Amor impossível – As
doces ilusões, que tanto amei /... Morrer!... E vou morrer sem ter vivido / Tu
não podes viver sem meu amparo. Eu não posso viver sem teu carinho.
− Religiosidade – A espiritualidade e a sua fé estavam presentes em
sua obra: Minhas culpas, meu pai,
meus pecados / Senhor. Levaram-te sem dó ao Calvário da
dor/ Eu creio em ti, meu Deus, no teu
poder infinito.
− Beleza, natureza − retratada através das paisagens, jardins, crepúsculo, flores,
por do sol, tarde, pássaros, folhas,
sorrisos...
− Dor e Morte – temas bastante explorados em seus escritos,
com mensagens cheias de reflexões sobre vida, morte, cadáveres e dor, como
exemplo: Suprema Dor / Morte de Almira /
Morta, Entre o Berço e o Túmulo / Gracinha Junto ao Féretro da Mãe, Este caixão teu derradeiro leito/ Eu sinto
qual cadáver regelado.
− Escravidão – um texto escrito em comemoração ao Jubileu de
Prata da libertação dos escravos em 1927, com o título “Salve, 13 de Maio”...agora irradiam novos horizontes na
sacrossanta asa da liberdade.
− Homenagens – Escreveu homenagens, como: A
Gomes de Sousa, Gonçalves Dias, Coelho
Neto, Padre Possidônio, João Rodrigues, Américo César, Getúlio Vargas, Francisco Félix de Sousa, Hermes Rangel e
muitos outros.
. Infelizmente
grande parte do seu acervo literário foi perdido, por falta de acondicionamento
ou corroído por cupins.
A Teatróloga
Mariana Luz
tinha um grupo teatral que se apresentava em sua residência. Em 30 de julho de
1933, fundou a sua casa de espetáculos, o Teatro Santo Antônio, na Rua Cayana
atual Avenida Brasil de Itapecuru Mirim. Encenava peças que traduziam costumes,
humor e formação moral de gente campesina, satirizava a condição da mulher na
sociedade e o mau desempenho dos
políticos.
Suas peças
fizeram muito sucesso na época, sendo requisitadas para serem encenadas em
várias cidades do interior e na capital do Estado, como: A Casa
do Tio Pedro, Quem Tudo quer Tudo Perde, A Herança de Benvinda, Casada
Desabusada, Por Causa do Ouro, Eu também
sou Eleitora e Miss Semana entre
outras. Ela participava de todas as etapas da encenação: produzia, dirigia,
atuava, cantava e dançava.
Mariana Luz passou por muitas privações financeiras na
velhice. Ela não teve filhos biológicos, porém ajudou a criar muitas crianças e
jovens itapecuruenses. O seu filho adotivo Francisco Félix, enfermeiro do
Exército a ajudava a custear suas despesas. Somente em 1941, na administração
de Felício Cassas, já com mais de 70 anos de idade, a educadora Mariana Luz conseguiu
seu primeiro emprego, uma nomeação como professora municipal, lotada na Escola Getúlio Vargas.
Ela participou de muitas associações literárias. Foi correspondente da
Revista Lyrio de Recife, colaboradora dos jornais, A Pacotilha e Diário do Maranhão,
sócia da Sociedade Literária Nova Athenas e Associação de Imprensa
do Maranhão, sócia colaboradora
da Revista
Maranhense, sócia honorária da Oficina dos Novos e sócia
correspondente do Congresso Maranhense da Letras. Publicou seus textos em diversos jornais e revistas do País.
A obra de Mariana Luz está distribuída em crônicas, poemas, composições
musicais. Em 2014 foi lançado o livro, Marianna
Luz: vida e obra e coisas de Itapecuru Mirim de autoria de Jucey
Santana. O livro resgate a vida e a obra
da poetisa que é apresentada a em 5
livros:
− I Livro - suas crônicas, crônicas dos amigos sobre ela
e discursos;
− II Livro - Folhas
Soltas, poemas de diversas épocas e estilos;
− III Livro –
Murmúrios, poemas de características simbolistas;
− IV Livro – Orações
para diversas ocasiões;
− V Livro - Cantos Litúrgicos.
A poetisa Mariana Luz é Patrona
da nº 1 da Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes, a qual foi
batizada como “Casa de Mariana Luz”.
Do livro Itapecuruenses Notáveis,
(2016) pag.108, de autoria de Jucey Santana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário