domingo, 10 de dezembro de 2017

MARIANA LUZ



        


Pintura de Beto Diniz
  
146 Anos da Poetisa

Jucey Santana
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          A poetisa itapecuruense  Mariana Gonçalves da Luz foi uma das figuras mais expressivas na literatura maranhense, do final do século XIX e da primeira metade do século XX, com uma produção literária de primeira grandeza.

        Era filha do tabelião do 1º Ofício de Itapecuru Mirim, João Francisco da Luz, e de Fortunata Gonçalves da Luz. Recebeu na infância o carinhoso apelido de “Sianica”. Nasceu no dia 10 de dezembro de 1871, e faleceu em 14 de setembro de 1960. Foi  professora, poetisa, teatróloga, musicista, oradora e escritora.

 Mariana Luz era versátil,  empreendedora e ousada, que transmitia a sua paixão pelas  letras e pelas artes mesmo nas horas de maior adversidade.
Mariana viveu na vanguarda  do seu tempo, que na época, já vislumbrava uma prefiguração da mulher dos tempos atuais. Ela não temia quebrar as regras de uma sociedade preconceituosa para impor o seu   trabalho e talento. A  exemplo de dedicar-se ao magistério por quase 80 anos, como a um sacerdócio; ajudar na educação de gerações e gerações de maranhenses; ser pioneira em trabalhos artísticos e artesanais; fundar escolas; ajudar na construção da igreja; fundar teatro; participar de grêmios literários; fazer parte dos principais acontecimentos históricos, culturais e sociais do Maranhão   e se projetar como renomada poetisa, angariando   respeito em toda uma classe literária, ao lado de gigantes da intelectualidade que criaram o fenômeno da Atenas Brasileira  no cenário estadual.
Mariana Luz fez o seu primeiro poema aos dez anos. Sendo descoberta pelo pai que a proibiu de escrever por achar que não era uma atitude apropriada à mulher, então, continuou a produzir a sua arte literária escondida no  pseudônimo de homem, “Hector Moret”.  Aos 11 anos já tinha uma escolinha de primeiras letras na casa de seus pais, começando ensinar os filhos de vizinhos.
Em 1875, aos treze anos, já era uma artista plástica requisitada na sociedade, pelos seus trabalhos artisticos e artesanais, comprovado por  vários  em jornais da época. 
            A obra de Mariana Luz, ficou muito tempo na obscuridade, por falta de condições financeiras da autora, para sua publicação. Recorreu aos conterrâneos, a governadores do Maranhão, (Godofredo Viana e Antônio Dino), e até a  Adhemar de Barros, então governador  São Paulo, em 1951, sem êxito. No final da década de 40, organizou artesanalmente um livro com o título de “Murmúrios” e se candidatou à Academia Maranhense de Letras sendo eleita no dia 24 de julho de 1948, como a segunda mulher a ter assento naquela secular instituição cultural, na qual foi fundadora da cadeira 32, tendo por patrono o poeta caxiense Vespasiano Ramos. 

            Em 10 de maio de 1949 tomou posse em meio a grande festa e repercussão nacional. Foi convidada para ser hóspede oficial do então governador do Estado Sebastião Archer. Infelizmente faleceu sem ter realizado o sonho de ter seus versos publicados em livro.  

                                                     A Poetisa

        Apesar da sua  poesia ter sido muito voltada para o  foco da tristeza, sofrimento e morte, sendo  conhecida  como a Poetisa dos Versos Tristes,   são encontrados outros  aspectos temáticos em  sua obra, às vezes  versando sobre: amor,  mocidade, crianças, risos,  jovens, amanhecer, cenas da vida,  esperança, ou sobre,  morte, sofrimento, dor, etc.

    Sofrimento, solidão e tristeza − são os temas muito explorados pela autora. Uma tristeza vaga, indefinida / Esta vida falaz e amargurada. / Angústia, o mal a que ninguém se exime. Em entrevista a poetisa confirma: Prefiro a Escola Antiga, porque me parece agradar mais ao coração. Está mais condizente com a minha alma sofredora.

   Amor impossível – As doces ilusões, que tanto amei /... Morrer!... E vou morrer sem ter vivido / Tu não podes viver sem meu amparo. Eu não posso viver sem teu carinho.

    Religiosidade – A espiritualidade e a sua fé estavam  presentes em  sua obra: Minhas culpas, meu pai, meus pecados /  Senhor. Levaram-te sem dó ao Calvário da dor/  Eu creio em ti, meu Deus, no teu poder infinito.

  − Beleza, natureza retratada através das paisagens, jardins, crepúsculo, flores, por do sol, tarde,  pássaros, folhas, sorrisos...

   Dor e Morte – temas bastante explorados em seus escritos, com mensagens cheias de reflexões sobre vida, morte, cadáveres e dor, como exemplo: Suprema Dor / Morte de Almira /  Morta, Entre o Berço e o Túmulo / Gracinha Junto ao Féretro da Mãe, Este caixão teu derradeiro leito/ Eu sinto qual cadáver regelado.

   Escravidão – um texto escrito em comemoração ao Jubileu de Prata da libertação dos escravos em 1927, com o título “Salve, 13 de Maio”...agora irradiam novos horizontes na sacrossanta asa da liberdade.

  − Homenagens – Escreveu homenagens, como: A Gomes de Sousa, Gonçalves Dias,  Coelho Neto, Padre Possidônio, João Rodrigues, Américo César,  Getúlio Vargas,  Francisco Félix de Sousa, Hermes Rangel e muitos outros.

.           Infelizmente grande parte do seu acervo literário foi perdido, por falta de acondicionamento ou corroído por cupins.
A Teatróloga

Mariana Luz tinha um grupo teatral que se apresentava em sua residência. Em 30 de julho de 1933, fundou a sua casa de espetáculos, o Teatro Santo Antônio, na Rua Cayana atual Avenida Brasil de Itapecuru Mirim. Encenava peças que traduziam costumes, humor e formação moral de gente campesina, satirizava a condição da mulher na sociedade e o  mau desempenho dos políticos. 

Suas peças fizeram muito sucesso na época, sendo requisitadas para serem encenadas em várias cidades do interior e na capital do Estado, como:  A Casa do Tio Pedro, Quem Tudo quer Tudo Perde, A Herança de Benvinda,  Casada Desabusada,  Por Causa do Ouro, Eu também sou Eleitora e Miss Semana entre outras. Ela participava de todas as etapas da encenação: produzia, dirigia, atuava, cantava e dançava. 

Mariana Luz passou por muitas privações financeiras na velhice. Ela não teve filhos biológicos, porém ajudou a criar muitas crianças e jovens itapecuruenses. O seu filho adotivo Francisco Félix, enfermeiro do Exército a ajudava a custear suas despesas. Somente em 1941, na administração de Felício Cassas, já com mais de 70 anos de idade, a educadora Mariana Luz conseguiu seu primeiro emprego, uma nomeação como professora municipal, lotada  na Escola Getúlio Vargas.   

Ela participou de muitas associações literárias. Foi correspondente da Revista Lyrio de Recife, colaboradora dos jornais, A Pacotilha e Diário do Maranhão, sócia da Sociedade Literária Nova Athenas e Associação de Imprensa do Maranhão,  sócia colaboradora da Revista Maranhense, sócia honorária da Oficina dos Novos e sócia correspondente do Congresso Maranhense da Letras. Publicou seus textos em diversos jornais e revistas do País.

A obra de Mariana Luz está distribuída em crônicas, poemas, composições musicais. Em 2014 foi lançado o livro, Marianna Luz: vida e obra e coisas de Itapecuru Mirim de autoria de Jucey Santana.  O livro resgate a vida e a obra da poetisa que é apresentada a   em 5 livros:

I Livro -   suas crônicas, crônicas dos amigos sobre ela e discursos;
− II Livro - Folhas Soltas, poemas de diversas épocas e estilos;
− III Livro – Murmúrios, poemas de características simbolistas;
− IV Livro – Orações para diversas ocasiões;
− V  Livro -  Cantos Litúrgicos.

             A poetisa Mariana Luz é Patrona da nº 1 da Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes, a qual foi batizada como “Casa de Mariana Luz”.

                        Do livro Itapecuruenses Notáveis, (2016) pag.108, de autoria de Jucey Santana.

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