domingo, 29 de julho de 2018

MANOEL DOS SANTOS




 
Manoel Germano dos Santos
      Jucey Santana


Manoel Germano dos  Santos nasceu no povoado Leite de Itapecuru Mirim em 18 de maio de 1905.  Filho do libanês Domingos dos Santos Jorge, conhecido como Domingos  Italiano pela dificuldade de dominar a língua portuguesa, e da cearense Luiza Sampaio dos Santos. 

            O pai que tinha o nome original de Domingos dos Santos  Karam  Jorge chegou  no Brasil com mais dois amigos, aportando em Belém (PA) no ano de 1901 e mudou-se para Itapecuru Mirim em 1902. Sob os auspícios do governo com vantajosas atrações para atrair os imigrantes, “para trazer novos elementos às indústrias e explorar as riquezas que encerra este solo abençoado (...), concedendo terra devolutas, distribuídas em lotes aos colonos imigrantes ...”, (José Bento de Araújo, presidente da Província do Maranhão de 1886-1888).  Domingos Italiano se instalou no povoado Leite, tendo antes solicitado  ao Conselho de Intendência de Itapecuru Mirim aforamento das terras na localização Malassado. Instalou-se com lavoura de cana de açúcar e plantio de arroz , algodão e criação de gado.

            Conheceu e se casou com Luiza Sampaio. A família Sampaio oriunda de Baturité (CE), já estava instalada no povoado Leite desde 1890, quando chegaram  do Ceará, como retirantes da seca do Nordeste. O casal teve quatro filhos, Anna, Maria Petronília, Manoel e Teresa de Jesus.
                        O Casarão.

            Já com certa prosperidade e para encaminhar os filhos aos estudos o casal construiu uma ampla casa na  Rua do Egito, na sede do município,  ao lado da antiga  cadeia pública.

No local montou um estabelecimento comercial com usina de beneficiamento de arroz e algodão.  O salão do casarão de oito portas e várias janelas, era constantemente  cedido pela mãe (Mãe Liza),  às  companhias  de cinemas para  projetarem os primeiros filmes  (mudos), que foram vistos  na década de 30 e 40 em Itapecuru Mirim e para  encenações de peças teatrais e circenses,  apresentados no salão  do prédio, nos dias de chuvosos. Depois que ficou viúva, Luiza Sampaio ficou à frente dos negócios até o seu falecimento em 1949. Os filhos sobreviventes, Manoel e Teresa alugaram o casarão  para servir de Silo de Armazenagem de Grãos, de acordo com informes da Senhora Maria do Rosário Nogueira da Cruz Tajra, lembrando que seu esposo, funcionário do Ministério da Agricultura, administrava o  SILO.  Passou algum tempo fechado se tornando conhecido como “Furna da Onça”. Foi adquirido por  José Félix de Sousa “Cabocal” que em 1954 o  mandou demolir, sendo contratados para o serviço o irmão  José Félix e o pedreiro  Domingos Preto. O material do casarão foi vendido para construção de três casas e as telhas ainda podem ser vistas na residência do Senhor Jamil Mubarack, na Avenida Brasil.

            Chegada dos outros parentes

A convite de Domingos dos Santos, pai de Manoel dos Santos, chegaram a Itapecuru Mirim, nos idos de 1914, oriundo do país do cedro, dois primos seus, também primos entre si,  Jorge Assef  Farat e Miguel Ahid Jorge. Os recém-chegados se associaram em um empório na Rua do Sol, tendo ambos se tornado genros do de Domingos dos Santos. Jorge Assef casou-se com Maria Petronília e Miguel Ahid com Anna. Depois de desfeito o consórcio comercial (1918) ambos  passaram a administrar  seus negócios próprios se tornando figuras de destaque na sociedade itapecuruense.  Em 1923 Miguel Ahid mudou-se para a cidade de Coroatá (MA).   Anna dos Santos Ahid, esposa de Miguel Ahid Jorge faleceu em 3 de novembro de 1927. Jorge Assef  e Maria tiveram duas filhas: Sadine e   Nancy.  Sadine Assef foi dotada de muita beleza chegando ser eleita em 1944, Rainha da Primavera, em evento beneficente, para arrecadação de fundos para construção da casa da poetisa Mariana Luz. Depois do falecimento precoce do casal Assef as filhas foram criadas pela avó Luiza e o tio Manoel dos Santos. 

A irmã mais nova de  Manoel dos Santos,  Teresa de Jesus casou-se em 1928 com o Promotor Público itapecuruense, Antônio Altair Montello Raposo. Do consórcio nasceram os seguintes filhos: Altair (militar), Aldacy  (Vr.  Aldacy Raposo), José Ribamar, funcionário público, Benedito (Vr. Benedito Raposo), Arlindo, economista e político e as professoras Ana e Maria da Graça. 

          Manoel dos Santos e os Estudos 

Manoel Germano dos Santos sempre  foi muito curioso e  inteligente. Iniciou seus estudos em Itapecuru Mirim com as professoras Mariana Luz e Zulmira Sanches Fonseca. Para dar vazão a sua criatividade seus pais o encaminharam para aprender algumas profissões. Manoel fez oficinas de alfaiataria, funilaria, carpintaria, sapataria, marcenaria, forjaria e outros aprendizados comuns na época para aprender os “ofícios”.  Enfim tudo  ele aprendeu um pouco. 

Por força de uma promessa assumida com seus santos de devoção, a mãe Luiza Sampaio convenceu o esposo a fazer padre o filho único.  Em 5 de março de 1918, com apenas 13 anos de idade, Manoel  ingressou no Seminário de Santo Antônio, pelas mãos do seu tio Jorge Assef, que passou a intermediar os interesses do jovem entre o seminário e a família.   

No seminário estudou Humanidade e clássicos, equivalente ao ginásio e ainda residindo no seminário ingressou no Liceu Maranhense no final de 1921 (A Pacotilha, 16.12.1921).

Ao concluir o Liceu em 1924  chegou a conclusão que não tinha vocação suficiente para seguir a vida clerical. Na época com o falecimento do pai Manoel   retornou a Itapecuru Mirim para auxiliar a mãe nos negócios da família.

Trajetória Profissional

Depois de viúva a mãe de Manoel passou a gerir o comércio e a casa e o engenho no Leite.
 Manoel logo entendeu que não tinha aptidão para ficar atrás do balcão preso no armazém então, passou a intermediar as compras para o abastecimento do comércio adquirindo grande quantidade de animais (burros) para o transporte das mercadorias  adquiridas diretamente com os lavradores. Preferia está em contato com o povo simples do meio rural.  

Em 1925 aos 20 anos de idade, requereu à Câmara Municipal de Itapecuru Mirim aforamento uma grande extensão de terras devolutas para instalação de um engenho à vapor. Muito lhe favoreceu os inúmeros ofícios aprendidos na infância e os conhecimentos adquiridos nos bancos da escola que o tornaram apto a trabalhar com todo tipo de máquinas, engenhocas, um expert em consertar, montar,  construir, fabricar e diagnosticar problemas. Era uma espécie de engenheiro leigo. Se tornou um grande líder entre os caboclos para inquietação da família que não via com simpatia,  essa opção  de vida. 

Instalou engenho de cana de açúcar e passou a explorar negócio próprio, próximo a sede do município, depois do riacho Cova. Por volta de 1935 adquiriu as terras do povoado Paulo Mina e instalou outro engenho e criação de gado, bovino e caprino além de investir em plantaçãode arroz e começou experimentar o cultivo de café e cacau. 

Em Paulo Mina conheceu a jovem Margarida, filha de um casal de moradores, o cearense Honório Barbosa e a afrodescendente Maria Pereira. Casou-se em 1941 ela com apenas 13 nos e ele com 36 anos de idade. O casal teve os seguintes filhos: Jandira, Jacira, José de Ribamar, Jucelina, Jucey, José Domingos, Jurandir, Jacy, Jovelina e Janira. 

            Nos anos 40 foi nomeado pelo delegado, Feliciano Lopes, o Barão, para o cargo de Sub-delegado de toda a região com a prerrogativa de nomear os inspetores de quarteirões para auxiliá-lo nas pequenas contendas de cada povoado, descentralizando o poder de polícia da região. 

            Foi um dos fundadores da Cooperativa Industrial Agrícola em 24 de maio de 1953, com a finalidade de amparar pequenos empreendedores, agricultores e os funcionários da Usina de Álcool de Mandioca. (que nunca funcionou). Manoel dos Santos chegou a ser beneficiado com financiamentos da Cooperativa (vr. Padre Albino).

                 Professor e Construtor de Pontes

Em Paulo Mina, Manoel dos Santos instalou uma escola gratuita para alfabetização de adultos. A escola funcionava no salão da casa grande e era dirigida aos colaboradores do engenho e agregados do lugar. Ensinou ler também todos os inúmeros afilhados, cunhados e a jovem esposa. 

Precisava se afastar com frequência para auxiliar a sua mãe, já idosa e visitar outras comunidades por força da função,  deixando à frente dos  negócios a jovem esposa sem experiência. O negócio gradativamente entrou em decadência, tendo que deixar Paulo Mina em busca de outras oportunidades. 

Em Itapecuru  Mirim de 1947 a 1948 foi contratado pelo prefeito Miguel Fiquene para construir as  pontes dos riachos Covas e Passarinhas. Ainda com o apoio do prefeito Miguel Fiquene mudou-se para a localidade  Caixa D’água para fundar um escola no local, que funcionou até 1953. 

Em 1954 mudou-se para o antigo Caminho da Boiada, (Caminho Grande). No local teve por vizinho a família Mendes, (Antônio, Biné e Manoel). Passou a ser parceiro de Biné Mendes, (Benedito Braúlio Mendes) nos negócios do comércio e da usina de beneficiar arroz. Juntos construíram pontes de madeira em vários rios e riachos, como: Iguará, Paulica e Riachão. Manoel dos Santos era o engenheiro, que fazia os cálculos estruturais e o transporte da madeira. A questão do pessoal para o trabalho ficava por conta de Biné Mendes.

O trabalho exaustivo, exigindo muito esforço físico fez que adquirisse uma tuberculose pulmonar.  A doença abateu o seu corpo franzino obrigando-o a se  afastar do trabalho em 1958.   Foi tratar-se em São Luís, e de lá não voltou mais para Itapecuru Mirim. Depois de curado ficou trabalhando na Capital.  Montou  uma granja depois  criou  uma pequena fábrica de sabão. De  1959 a 1960 trabalhou no IBGE, com o sobrinho e afilhado José Ribamar dos Santos Raposo, diretor da instituição. Assim conseguia com dificuldades,  custear as despesas dos filhos menores que ficaram em Itapecuru Mirim.

Em 1960, mesmo combalido depois de ter sofrido dois enfartos do miocárdio, veio a Itapecuru Mirim ajudar na campanha da amiga Graciete Cassas,  para prefeita. 

Comprazia-se com a educação dos filhos e sobrinhos. Era um contador de histórias. Não era permitido pronunciar nenhuma palavra errada perto dele, que se sentava para explicar a origem daquele vocábulo, o seu significado e toda a derivação, etc (na época os  filhos achavam chato). Falava latim, francês e lia com fluência, outras línguas de origem latina. 

Quando chegava a Itapecuru Mirim um missionário evangélico os moradores o levavam até  Manoel dos Santos que,  era o homem mais sabido da bíblia,  depois do padre”.  Apesar de não ser político era chamado para orientar  nos discursos e no apoio às eleições pela liderança que exercia na zona rural.

Manoel dos Santos e Cabocal Felix foram os pioneiros no uso de bicicletas em Itapecuru Mirim no final dos anos 30. 

Nunca é muito traçar o perfil de Manoel dos Santos como inigualável ser humano. Paciente por índole, um sábio,   destituído de vocação empreendedora, de ambições políticas ou financeiras. De caráter inquestionável. O sentimento “Amor” brotava espontâneo do seu cerne, quer fraternal quer filial ou paterno.  Seu inquestionável dom de doar-se, seu caráter incorruptível e sua arte de fazer o bem comum com ética, alegria, transparência  sem nunca exigir nada em troca. 

Meu pai, minha referencia, meu orgulho. O seu exemplo é a nossa herança. Faleceu em 10 de março de 1961, aos 55 anos deixando vários filhos na orfandade.

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