domingo, 10 de novembro de 2019

ITAPECURU-MIRIM



 

Nascimento Araújo

Dentro do peito guardo a minha Terra,
Assim, como se guarda avaramente,
Insondável tesouro em que se encerra
A mais bela das gemas encontradas
Em meio às urzes – palmilhado ingente –
Nas longas e difíceis caminhadas.

Na história dessa gente abençoada,
Há dramas, alegrias e comédias,
Como, também, há lutas e tragédias,
A comtemplar-se em grande revoada,
Quais andorinhas alto esvoaçando,
A festejar o tempo perpassando.

No ritmo de vidas esplendentes
Há galardões imensos no arrebol
Dos muitos que passaram; dessas gentes,
Cuja honra tenaz ainda reboa,
Ora como o luzir de uma coroa,
Ora como o fulgir de um lindo sol.

Eis que um jorro de Luz – Luz ofuscante –
Da velha Europa as glórias eternais,
Ultrapassa o fulgor tonitruante.
Foi, com certeza, exuberante cousa,
O gênio, a fama, o brilho colossais,
Desse filho ideal – Gomes de Sousa!

Na grandeza, de um astro, de primeira,
Que o jornalismo máximo apregoa,
Existe a voz impávida, altaneira,
Da pena modelar de João Lisboa
No seu Timon, que dardejando a luz,
A nossa geração ainda conduz.

Quando devo trazer à Luz rima,
Os louros desse filho, também nato
Da Terra em que nasci tudo me anima,
A cantar e exaltar talento e veia,
Das Letras Brasileiras – Viriato –
Que eternizou, em glórias, os Correia.

Ergo sublime a taça deste encanto,
A brindar com respeito e devoção,
O talento invulgar de um beletrista;
De um portento cultor – de um estilista –
Dessa Terra: é José Sampaio Simão,
O General, que inspira-me este canto.

Todo um sonho de amor e de beleza
Houve sempre por bem enaltecer
O valor deste filho um – Menestrel –
Um doce sabiá do entardecer –
A rimar dessa gleba a natureza,
Em versos magistrais – Hermes Rangel.

Tudo encanta o viver de minha Terra
Através desses grandes que deixaram
Policromia réstia que conduz
Ao mundo da poesia e ali descerra
Os belos versos que imortalizaram
A poetisa Mariana Luz.

Assim se multiplicam muitos filhos,
A honrar o fulgor de minha Terra.
É aqui Tiago Ribeiro, o professor,
De jovens; esperança que se encerra
No paladino esforço promissor,
Rompendo a velha guarda dos empecilhos.

No magistério, tantas gerações,
Fruíram, certo, um magno esplendor,
E quantas almas, de nobreza e amor,
Tenho a exaltar – e disto não me fujo –
Na competência e grandes gerações
Das professoras Santos Araújo.

Nos pród romos dos grandes vicejaram
Muitas e muitas frondes farfalheiras,
Quando frutos opimos sazonaram
No sangue vigoroso dos Nogueiras,
E assim cresceram filhos dedicados,
Aumentando o valor dos já passados.

Dentre os vultos e nomes do alicerce
Desse Itapecuru-Mirim querido,
E de notar-se um outro quer merece
Engrandecer e honrar com mais um elo
A esse povo jamais, nunca esquecido.
Ei-los quem são: os Bandeira de Melo.

Recordo bem, eu era ainda mocinho
Quando. Em noites saudosas, a cismar,
Ouvia-se um cantor – não eram raros –
Era a voz tão bonita do Dominho,
Erguendo, em honras lindas de luar,
A simpatia e o nome dos Sitaros.

Os derradeiros sons – quanto se ouvira –
Ainda reboam longe, em soledade,
Do mavioso canto!... E foi Zulmira
Fonseca, alegre espirito de escol.
Recordo sempre... e sempre com saudades...
A voz desse bondoso Rouxinol.

É-me grato cantar a minha Terra,
Revendo a história e a fama desses Sóis
Que tantos louros sua vida encerra.
Recordar é viver, e, a recordar,
Sinto na alma o esplendor dos arrebóis
De tanta luz em lindo espadanar!

Perdoa, ó minha Gleba, se este canto
Não corresponde ao tanto que devia;
Se porventura omisso, assim, pequei!
Tudo fiz, com certeza, no entanto,
Para dar-te o melhor que possuía,
De coração rimado o que rimei!

Há de bastar-me como ingente gozo,
Ver tanta gente que te honrou profundo,
Eternizada nestes versos meus;
Há de ser minha voz, de alguém ditoso,
Ao menos pela sorte, neste mundo,
De ter sido menor dos filhos teus.

   Do livro, Castália Iluminada (1967), pag. 16 do poeta trovador Juvenal Nascimento  Araújo, patrono da cadeira nº 15 da Academia Itapecuruense de Ciencias, Letras e Artes, representada por Romeu Silvio Bandeira de Melo.


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