quinta-feira, 14 de novembro de 2019

MANOEL COBRA




 Jucey Santana

As cobras eram assuntos frequentes nas histórias das crianças no município:  as picadas, os perigos e os benzedores. E as jiboias que os comerciantes soltavam nos armazéns para devorarem os ratos.  Eram as cobras-gatos! Existiam cobras que não queriam ser chamadas de vovó; outras davam chicotadas com o rabo;  as que não gostavam de fogo e outras astutas, que aproveitavam quando a mãe dormia e mamava no lugar da criança enquanto enganava esta com o rabo. As Sucurijus que engoliam tudo que encontravam cabritos, porcos, gente e até bois, as de esporão no rabo,  as traiçoeiras, que ficavam à espreita dos incautos viajantes; o abraço mortal das jiboias e tantas histórias que povoavam os  sonhos das criança. Quantos pesadelos!
Como sempre fui apavorada com cobras, como a maioria das crianças, sempre tive a curiosidade despertada para um “certo” Manoel Cobra que viveu em Itapecuru Mirim, que  resolvi investigar.
Manoel Caetano Martins, conhecido por Manoel Cobra, foi um rico comerciante português que viveu em Itapecuru Mirim na segunda metade do XIX.  Era proprietário de negócios no ramo de importações e exportações, barcos a vapor e criação de gado. (Jornal do Maranhão, 21.12.1893). O português foi um grande benemérito da cidade. Tendo sido incansável no socorro às vítimas da grande enchente do rio Itapecuru no ano de 1895, quando teve grande prejuízo por ter seu comércio na Beira-Rio completamente invadido pela  água.
Como era dono de barcos de passageiros e promovia eventos como festivais anuais de músicas e patrocinava os grandes festejos religiosos, mantinha e fazia a manutenção da rampa do rio ao lado do seu comércio, para facilitar a descarga de mercadorias e o acesso dos passageiros e turistas. A rampa ficou conhecida como “Rampa do Manoel Cobra”.
Tendo perdido um irmão, vitimado por mordedura de serpente, lançou uma campanha para acabar com os répteis peçonhentos da cidade, comprando ao preço  de uma “pataca” (moeda da época) todas as cobras que lhe levassem, vivas ou mortas. Foi um festival de cobras!
O português Manoel não conseguiu seu intento, porém reuniu, em suas prateleiras, grande variedade de coloridas cobras engarrafadas e conservadas no álcool, que ,segundo  os “antigos”, serviam de antídoto para as picadas mortais.
O citado português criou e educou o desembargador itapecuruense Raimundo Públio Bandeira de Melo, encaminhando-o  a  Recife e posteriormente ao Rio de Janeiro para conclusão do curso de Direito. Em homenagem ao seu benfeitor, o desembargador batizou o primeiro filho com o   nome de Manoel Caetano.
Convém registrar que Manoel Caetano, (1918-2008) o filho do desembargador itapecuruense, fazendo jus ao referencial de inteligência da família Bandeira de Melo, de Itapecuru Mirim, foi advogado, escritor, poeta e ensaísta, tendo sido ocupante da cadeira número 11 da Academia Maranhense de Letras, patroneada por outro itapecuruense, João  Lisboa.




 Do livro Itapecuruenses Notáveis, 2ª edição (2018), pag. 92, de autoria de Jucey Santana
                        

     

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