domingo, 10 de novembro de 2019

OS CINEMAS DE SÃO LUÍS

  

      

Benedito Buzar

Na semana passada, o Caderno Cidade de O Estado do Maranhão, publicou interessante matéria sobre os cinemas de São Luís, que tiveram seu esplendor no século XX.

O autor da ampla e bem concatenada reportagem, o repórter Tiago Bastos, fez uma viagem no tempo para mostrar às novas gerações maranhenses os cinemas que existiam na cidade – Éden, Roxy, Rival, Rialto, Rex, Anil, Passeio e Monte Castelo, que pertenciam ao empresário Moisés Tajra, e o Cine Teatro, propriedade do Governo do Estado e arrendado à empresa Duailibe.

Além dessas informações, o brilhante jornalista, através de trabalho de pesquisa, trouxe outras notícias a respeito da localização das casas cinematográficas e como funcionavam para oferecer divertimento a uma população reduzida de opções para enternecem o corpo e a alma.
A reportagem de Tiago fez com que eu retornasse aos meus tempos de juventude, nos bons anos de 1950 e 1960, quando os caminhos do entretenimento se dirigiam aos cinemas, nos quais a sociedade maranhense marcava presença de maneira eloquente e prazerosa, pois era a forma que encontrava para a vida não ser tão monótona.     

 Nessa volta ao passado, vale a pena recordar fatos e atos que fazem parte da história dos cinemas de São Luís, que escaparam da investigação do jornalista, a saber: o Éden, o Roxy e o Cine Teatro, por serem os mais frequentados e localizados no centro da cidade, serviam aos políticos para realizarem as convenções partidárias. Foram neles que os candidatos ao Governo do Estado, José Sarney, Renato Archer e Costa Rodrigues homologaram as suas candidaturas às eleições de 1965.

Nas tardes do tríduo momesco, o Éden deixava de ser cinema para se transformar num amplo salão de festas, ao qual compareciam moças e rapazes não associados aos principais clubes da cidade.

Foi no Éden, que se apresentou a famosa vedete Elvira Pagã, que por se mostrar em traje sumário à época (roupa de duas peças), levou o arcebispo Dom José Delgado a pedir para a população não comparecer ao cinema e fez um apelo à Polícia para proibir o show, mas o prelado não foi atendido e o Éden foi pequeno para abrigar tanta gente, a grande maioria constituída de homens.    

O Cine Teatro, também, nos domingos de carnaval, realizava festa carnavalesca de gala e animada pelas principais orquestras da cidade: Alcino Bílio e Vianense. A festa, de caráter beneficente, era capitaneada pela primeira-dama do Estado, em prol de obras sociais. Nessa noite, os clubes Jaguarema, Lítero e Cassino Maranhense não funcionavam e a sociedade participava em massa.
De acordo com o contrato assinado com o Governo do Estado, sempre que vinham a São Luís companhias de teatro, a Empresa Duailibe se obrigava a desativar o cinema, para permitir a encenação de peças e apresentações de shows de cantores famosos. 

Por conta dessa prerrogativa contratual, eu e muitos maranhenses assistimos espetáculos teatrais de sucesso no Rio de Janeiro, como “Esta noite choveu prata”, com Procópio Ferreira, “As mãos de Eurídice”, com Rodolfo Mayer, bem como atores brilhantes do porte de Milton Carneiro e Raul Roulien, e a Orquestra de Ruy Rey.  A apresentação que marcou época foi a do frade José Mojica, ator e cantor mexicano que trocou a cena artística pela vida religiosa. 

Enquanto as sessões cinematográficas no Éden e no Roxy se realizavam às 16 e 20 horas, as do Cine-Teatro ocorriam às 15, 17 e 20 horas.  Entre as duas empresas, havia um interessante diferencial:  só o Cine-Teatro promovia sessões matinais e dedicadas especialmente aos estudantes, fato bastante combatido pelos diretores dos colégios, sob a justificativa de incitar alunos à gazetagem (falta às aulas), principalmente quando exibiam filmes brasileiros, as inesquecíveis chanchadas, com Oscarito, Grande Otelo, Anselmo Duarte, Eliana, Cill Farney, José Lewgoy, Renata Fronzi, Adelaide Chiozzo, Ivon Cury, Fada Santoro, Zé Trindade e outros. 

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