Benedito Buzar
Há séculos remotos, a Rua Grande chamava-se Caminho
Grande, através do qual a cidade se comunicava com a zona rural.
Anos depois, pela sua posição estratégica,
tornou-se a principal artéria da cidade, ao longo da qual instalaram-se
renomados estabelecimentos comerciais, em cujos altos moravam importantes
famílias.
No começo do século XX, a Rua Grande ganha o nome
de Osvaldo Cruz, em homenagem ao notável cientista brasileiro, mas continua
sendo conhecida até hoje pela nomenclatura primitiva.
Ao longo do tempo, sofreu várias reformas, dentre
as quais as executadas no governo de Eduardo Olímpio Machado, quando recebe
calçamento; na interventoria de Paulo Ramos, passa por total remodelação; na
gestão do governador José Sarney, os paralelepípedos são substituídos por
camadas de asfalto; na administração do prefeito Jackson Lago, as pedras de
paralelepípedos a ela retornam.
De todas as reformas, nenhuma foi mais ampla,
completa e inovadora da realizada recentemente pelo Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional, dirigido por Kátia Bogéa e com recursos do PAC
das Cidades Históricas, que a fizeram mudar sensivelmente, com a retirada de
paralelepípedos, o desaparecimento de calçadas esburacadas, a substituição de
postes de iluminação e de outros penduricalhos, sem os quais a antiga artéria
ganhou novo e moderno visual, mais conforto e melhor acessibilidade.
Depois de inaugurada, fiz questão de percorrê-la em
toda a sua extensão, para ver a majestosa obra realizada pelo IPHAN, bem como
cotejá-la com a do meu tempo de juventude, quando se dividia em dois espaços.
Um, começava na Praça João Lisboa e terminava no cruzamento da Rua Cândido
Ribeiro, ocupada essencialmente pelo comércio, o outro, ia da Rua Cândido
Ribeiro à Rua do Passeio, predominantemente residencial e povoado por figuras
de destaque da sociedade.
Não só quanto ao aspecto espacial, se diferenciava
a Rua Grande de ontem e de hoje. Havia, também, acentuada discrepância quando
se comparava a origem dos comerciantes e o tipo de comércio que
praticavam.
Os comerciantes que hoje dominam a Rua Grande de
ponta a ponta, são oriundos de estados nordestinos ou egressos de países
orientais, que se notabilizam pelo exercício de um mesmo comércio, ou seja, à
base de produtos eletrônicos, brinquedos, bijuterias, cosméticos e peças de
vestuário, destinados especialmente às classes de menor poder aquisitivo.
Esses comerciantes sofrem uma concorrência desleal
dos chamados camelôs, que ocupam as ruas transversais e oferecem quinquilharias
de origem duvidosa e a preços convidativos.
Esse quadro atual, contrasta sobremodo com o da
minha mocidade, quando a Rua Grande, do ponto de vista comercial, era ocupada
por maranhenses, geralmente descendentes de portugueses e libaneses, que, com
as suas organizadas lojas, esmeravam-se em oferecer aos consumidores produtos
variados e de boa qualidade, alguns importados porque o processo de
industrialização de bens de consumo ainda não havia sido deflagrado no Brasil.
À guisa de ilustração, vejamos as lojas que
pontificavam na Rua Grande e os tipos de produtos que comercializavam. Tecidos,
nas lojas Rianil, Exposição, Sadick Nahuz, e Pernambucanas; joias, nas Garimpo
e Garantia do Povo; cosméticos, na Casas Paris, Olímpia e White; sapatos, na
Principal, Cleópatra e Belém; produtos alimentícios, nas mercearias Neves
e Lusitana, salões de beleza de Madame Guedes e de Dona América Serra de
Castro, móveis, na Movelaria das Noivas, pães e similares, na Padaria Cristal,
remédios, na Farmácia Garrido, armarinho, na Loja Otomana, que continua
no mesmo lugar, livros, na Galeria dos Livros, bebidas, no Bar do
Narciso, famoso pela cerveja bem gelada; os bazares, Valentim Maia, Quatro e
Quatrocentos e Tabuleiro da Baiana, semelhantes às lojas de departamentos.
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