MORTE DO PAPAGAIO

César Borralho

Inquieto pássaro, mimético e de cor forte.

Perde o próprio voo para tirar um passaporte

e acumular erros e roupas das quais não

precisa na bagagem. 

Captor cuja captura escapa a si mesmo

nas paisagens cotidianas que deslumbram

com a beleza da má sorte.

Vigorosa ave em busca de rapina,

uma menina de olhar acelerado e batom forte.

Cobiçando o capcioso regalo que viria,

deixou-se abater em agonia num caixote.

Morreu, coitado!

No transcurso do passeio,

com a boca entreaberta

buscando o ar que não lhe veio.

Não era pássaro, não voava.

Apenas corria implume

sem saber pela força do costume

pra onde iria. 

Não abnego a morte nem o

Velho de Assis, mas a vida tardia

que ele quis doeu-me no peito

muito forte.

 Sou César Borralho, natural de Codó (MA), 1979, porém, vivo em São Luís do Maranhão desde 1979. Sou professor, mestre em Cultura e Sociedade, especialista em Filosofia da Arte e graduado em Filosofia. Escrever poesia é dar ritmo às imagens que crio na eterna luta para que o papel não fique obscuro e nem tão vazio. Poesia é o vento que leva o barco quando barco não há. Nunca aspirei publicar um livro para me tornar poeta, mas se um dia me tornar poeta, publicarei um livro.