*Roberto
Franklin
Enquanto aguardava a hora da minha esposa ser atendida, na emergência do
Hospital UDI, comecei assim como tantos que estavam à espera do atendimento a
verificar as postagens no Face e do WhatsApp, quando me deparei com algumas
fotografias da década de sessenta da nossa amada São Luís, dentre outras a que
me chamou mais a tenção e levou-me a recordações de uma época da minha
adolescência mostrava na praça Deodoro a imagem do nosso saudoso bonde, que em
nome de uma falsa evolução dos tempos foi retirado de nossas rua pelo então prefeito
Epitácio Cafeteira em 1966.
Antes de descrever as emoções e lembranças de uma
época para mim maravilhosa descreverei um pouco da história do bonde em São
Luís. Fazendo uma pesquisa a respeito do assunto encontrei uma matéria no
Jornal O Imparcial intitulada “ A história dos saudosos bondes de São Luís”
escrita por Samartony Martins, nela o repórter afirma
que por volta de 1872 São Luís assim como as grandes cidades históricas do
mundo inaugurava seu sistema de transportes por meio de bondes movida à tração
animal, sendo a primeira rota seria da praça Pedro II, com isso nossa cidade
teria sua primeira ferrovia inaugurada e uma das primeiras do Brasil. Depois
foram criadas as linhas do Largo dos Remédios, Rua Grande e a terceira ia do
Largo do Palácio ao Cemitério do Gavião, a última linha seria uma de 11
quilômetros que ia da Rua Grande até o final do Cutim no Anil , esta inaugurada
por volta de 1873.
Pois bem após breve
história a respeito do nosso saudoso bonde, afirmamos que muitos Ludovicense
até hoje sentem saudades desse meio de transporte, sua retirada foi uma dura
atitude da prefeitura que a pretexto da evolução dos transportes acabou do o
serviço como já afirmamos em 1966.
As lembranças são
muitas, pensar que poderíamos pegar o bonde no centro de São Luís e percorrer
vários bairros centrais seria uma verdadeira viagem ao passado, passar pela Rua
de São João próximo a igreja do mesmos nome passando pela igreja de Santo
Antonio até a estação ferroviária percorrer toda a Beira-Mar vendo e sentindo a
brisa que nos agraciava a baia de São Marcos era apreciável, poderíamos também
pegar o bonde que ia para a praça Gonçalves Dias parando em frente a Igreja dos
Remédios, esta linha tinha uma característica que ao pararmos o motorneiro mudava a direção da lança então o que era a
frente se tornava a traseira do bonde e assim como a traseira de tornava a
frente, pois não havia trilho para contornar e voltar.
Sonho meu e de muitos
da época era andar de bonde no estribo que nada mais era que uma espécie de
degrau que ajudava as pessoas a subir, assim como em caso do bonde estar cheio
de ir em pé, isso dava uma ar de ser adulto, lembro-me também de outra
característica que jamais poderia ser encontrada nos dias violentos de hoje o
sistema de cobrança da passagem era realizada pelo cobrador devidamente fardado
com sua roupa caqui e um quepe, portava
uma bolsa de couro transpassada no peito
e na mão um punhado de dinheiro devidamente arrumado entre os dedos e na outra
mão as moedas que eram balançadas avisando a hora de pagar a passagem. Alguns
jovens desprovidos do dinheiro da passagem eram obrigados a driblar o cobrador,
ou seja, se ele vinha pela a esquerda então eles atravessavam e se pendurava no
estribo da direita se ele vinha pela frente eles saltavam do bonde e o pegavam
atrás.
Uma outra lembrança
que ainda guardo era na época de Julho quando das nossas férias além de muitas
atividades de lazer empinávamos papagaios e para lancear, que seria uma espécie
de luta em pleno ar nós teríamos de moer vidros até virar pó e misturar com uma
goma caseira a essa mistura chamava-se de cerol e afirmavam os mais adeptos que
o melhor cerol era feito com o vidro azul do Leite de Magnésio Phillips, assim
para não ficarmos socando o vidro que era muito duro e grosso por horas colocávamos pedaços de vidro sobre o trilho
do bonde, que quando não era visto pelos motorneiros passavam por cima
transformando-os em pó, e assim ficava mais rápido a mistura. Tenho ainda muitas
lembranças de uma época que vivi e que tenho saudades.
O inconformismo da
retira dos bondes pela alegação de um suposto desenvolvimento da nossa cidade,
faz-me lembrar que outras cidades da Europa e dos Estados Unidos ainda hoje
dispõe deste sistema de transporte, então não justifica o que em 1966
argumentara a Prefeitura de São Luís.
Assim segue a saudade
de uma época que encontro em minhas lembranças e nas fotografias.
* Roberto
Franklin Falcão da Costa, cirurgião dentista, escritor e poeta, membro efetivo da
Academia Ludovicense de Letras – ALL, membro da AMCL e
Acadêmico correspondente da ALTA.
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