terça-feira, 23 de junho de 2015

FRAGMENTOS HISTORIOGRÁFICOS SOBRE ITAPECURU-MIRIM

Por João Carlos Pimentel
A transcrição ou cópia digitalizada de alguns fragmentos historiográficos que podem contribuir para o registro da história de Itapecuru-Mirim.  O primeiro deles é de autoria do Major Francisco de Paula Ribeiro.
Esse militar português recebeu a incumbência de estabelecer a divisão limítrofe entre as capitanias de Goiás e do Maranhão. Ao longo dessa missão, Francisco de Paula Ribeiro produziu memórias significativas sobre o Maranhão, publicadas postumamente na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, nos anos de 1848 e 1849. A transcrição que fazemos aqui é de uma edição mais recente publicada na coleção Maranhão Sempre com a seguinte referência: RIBEIRO, Francisco de Paula. Memórias dos sertões maranhenses. Reunidas aos cuidados de Manoel de Jesus Barros Martins. São Paulo: Siciliano, 2002.
O capítulo que trás informações sobre Itapecuru-Mirim tem como título: Roteiro da viagem que fez o Capitão Francisco de Paula Ribeiro às fronteiras da Capitania do Maranhão e da de Goiás, no ano de 1815, em serviço de S.M. Fidelíssima.
Paula Ribeiro chegou à Itapecuru-Mirim no dia 4 de março 1815. Abaixo transcrevemos as suas impressões sobre a localidade:
Itapucuru-Mirim, segundo lugar notável deste mesmo rio [o primeiro era Caxias – grifo nosso], é fundado na sua margem leste. Está 3º e 45’ na latitude sul, e na longitude pouco mais de 30’ a oeste do que o porto do Maranhão. Tem pouco mais ou menos 320 fogos [casas – grifo nosso].
São térreos os seus edifícios, feitos de madeira e barro, cobertos de telhas alguns, e os mais cobertos de palha de palmeira, a que chamam de pindoba. As ruas não são bem reguladas, porém em melhor arrumação do que as do lugar do Rosário, e tem unicamente uma capela ainda não bem acabada.
São europeus pela maior parte os seus habitantes estabelecidos ali com lojas de fazendas secas ou molhadas: todo o resto é gente pobre, e vive miseravelmente. Não tem espécie alguma de lavoura, ainda mesmo entre os últimos, para manter-se, assim por natural indolência sua, como porque a natureza estéril daquele pedaço de terreno arenoso a ela não os convida. Vivem como os da freguesia do Rosário de tudo que lhe vem do Maranhão [São Luís – grifo nosso], 30 léguas distantes, à exceção do artigo carnes verdes, ou ainda secas, durante o tempo em que descem os gados dos sertões da capitania.
Neste lugar se ajuntam todos os anos, desde janeiro até julho, as boiadas que desta capitania e da do Piauí vêm a vender-se em feira aos contratadores do talho público da capital, ou aos lavradores do Itapucuru, que para o sustento das suas escravaturas compram a maior parte.
A causa por que é de muito comércio provém da feira acima dita, em cuja ocasião e sempre sucede deixarem os boiadeiros (nome que eles dão aos que conduzem o gado) o produto dos seus bois trocados em fazendas, que dali levam para gasto das suas famílias, ou para tornar a vender por outros bois, que ao depois ali conduzem. Exporta muito algodão para a sua capital, e o recebe dos lavradores do centro e dos da beira-rio em retorno dos gêneros que lhes fornecem para seu arranjo e maneio.

É o ponto principal da freguesia do mesmo nome, a qual se extrema para o norte na fazenda da Barriguda com a freguesia do Rosário, e para o sul na Cachoeira Grande com a da vila de Caxias. Também extrema ao centro pela parte de leste com a Iguará ou Mirim, distrito aquele pelo qual é a estrada por terra para a dita vila de Caxias; e pela parte de oeste se estende até aos primeiros despovoados das vertentes do rio Mearim, como em o seu lugar competente se vê do referido mapa incluso, descrito a n. 11 e debaixo das suas respectivas marcas. (RIBEIRO, 2002, pp. 72/73).

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