sexta-feira, 12 de junho de 2015

POBRE DO POBRE

           Mauro Rêgo
            Há alguns meses pensei em escrever alguma coisa sobre a exploração do pobre orquestrada pelo Governo Federal que se diz o defensor dos humildes e marginalizados, mas sempre que ouvia o comentário dos jornais acerca do assunto, ia deixando para depois.  Essa ideia ressurgiu quando do conhecimento de que os sorteios das Loterias foram se multiplicando até chegar à situação atual em que todos os dias há sorteios, sendo um, como a Quina, realizado diariamente.
            Falava-se outrora do “ópio do povo”, apontado como sendo a religiosidade. Na situação atual, o ópio tornou-se a esperança de acertar os números mágicos dos sorteios diversos através dos quais O Governo Federal consegue arrecadar milhões de reais diariamente, os quais “em tese” devem ser aplicados na educação, nos esportes e na saúde pública, mas também engordam as possibilidades para os mensalões, os petrolões, etc.
            E o pobre brasileiro, sabendo que acertar os números é a única oportunidade que tem para pagar dívidas e melhorar a situação de sua família, passa mais necessidades, reduz a ajuda na educação dos filhos e desleixa a sua saúde, para tirar alguns minguados reais para tentar a loteria.
            E mais uma vez, constatamos que aqueles que menos têm são os que engordam os cofres públicos. Já é um absurdo explorar os pobres com loterias diárias, e essa situação foi agravada recentemente, pois o valor das apostas aumentou em até 50%, e isso sem haver aviso, sem haver discussão, sem noticiário escandaloso da imprensa. O apostador, na quase totalidade, só teve conhecimento quando se aproximou do guichê. Alguns passaram vergonha.
            Se os dirigentes da Caixa Econômica elevaram o valor das apostas dessa forma criminosa, o fizeram com o apoio da Presidência da República e dos Ministros que deviam defender o povo, mas que, na ganância de lucros cada vez maiores, sujeitaram os pobres a diminuir as suas condições de vida, pois o “ópio” da loterias é tão oneroso quanto o uso do crack, da maconha e de outras substâncias que grassam no meio dos mais pobres.
            Sabemos que muitas pessoas de recursos gastam muito dinheiro nas apostas, mas a maior de todas as contribuições vem mesmo das camadas pobres que, com o valor mínimo continua sonhando com a liberdade financeira.
Pobre do pobre brasileiro, explorado até nas suas pouca esperanças. Lembro-me de um soneto de Camões em que ele reclama: “só não pode tirar-me a esperança, pois mal me tirará o que não tenho”.

A Presidente, os ministros e os dirigentes da Caixa jamais lerão esta crônica, que aparentemente é inútil, mas fica aqui um brado vindo do interior, que não será certamente “retumbante”.

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