por: Jucey Santana
As
cobras eram assuntos frequentes nas histórias das crianças: as picadas, os
perigos e os benzedores. E as jiboias que os comerciantes soltavam nos armazéns
para devorarem os ratos. Eram as
cobras-gatos! Existiam cobras que não queriam ser chamadas de velhas, de vovó;
outras davam chicotadas com o rabo; tinham as que não gostavam de fogo; outras
astutas, que aproveitavam quando a mãe dormia, tiravam o bebê do peito e mamava
enquanto enganava a criança que ficava chupando o rabo da cobra. As
Sucurijus que engoliam tudo que encontravam cabritos, porcos, gente e até bois.
Tinham
as com esporão no rabo; as traiçoeiras, que ficavam à espreita dos incautos
viajantes; o abraço mortal das jiboias e tantas histórias que povoavam os
nossos sonhos de criança. Quantos pesadelos!
Tratando-se
de cobras, vale lembrar que na última metade do século XIX, morava em Itapecuru
Mirim, um rico comerciante português, chamado Manoel Caetano Martins, conhecido
como “Manoel Cobra”, proprietário de negócios no ramo de importações e
exportações, barcos a vapor e criação de gado. (Jornal do Maranhão, 21.12.1893). O português foi um grande benemérito da cidade. Tendo sido incansável no
socorro às vítimas da grande enchente do rio Itapecuru no ano de 1895.
Tendo
perdido um irmão vitimado por mordedura de serpente, lançou uma campanha para
acabar com os répteis peçonhentos da cidade, comprando ao valor de uma “pataca”
(moeda) todas as cobras que lhes levassem, vivas ou mortas. Foi um festival de
cobras!
O
português Manoel não conseguiu seu intento, porém reuniu em suas prateleiras,
grande variedade de coloridas cobras engarrafadas no álcool, que segundo eles,
serviam de antídoto para as picadas mortais.
O
citado português criou e educou o desembargador Itapecuruense
Raimundo Públio Bandeira de Melo, encaminhando-o à Recife e posteriormente ao Rio de Janeiro
para conclusão do curso de Direito. Em homenagem ao seu benfeitor, o desembargador
batizou o primeiro filho com o nome de
Manoel Caetano.
Convém registrar que Manoel
Caetano, (1918-2008) o filho do desembargador itapecuruense, fazendo jus ao
referencial de inteligência da família Bandeira de Melo, de Itapecuru Mirim,
foi advogado, escritor, poeta e ensaísta, tendo sido ocupante da cadeira número
11 da Academia Maranhense de Letras, patroneada por outro Itapecuruense, João
Francisco Lisboa.
Do livro Marianna Luz, vida
e obra, e Coisas de Itapecuru Mirim de Jucey Santana
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