Por Jucey Santana
O jornalista José Cândido
de Morais e Silva, nasceu aos 21 de setembro de 1807 no Sítio Juçara, da
Freguesia de Itapucuru Mirim, atual município de Itapecuru Mirim. Filho do
farmacêutico português Joaquim Esteves da Silva e de dona Maria Querubina de
Morais Rego
José Cândido foi um mártir do jornalismo. Em sua curta trajetória fundou o primeiro
órgão liberal do Maranhão. Foi defensor da constituição, da cidadania e da
educação. Denunciou, criticou, e sofreu perseguições pelos seus artigos, em consequência perdeu a vida cedo.
Aos nove anos ficou órfão com cinco irmãs. As irmãs foram morar com o avô, em São Luís
e José Candido recebeu a proteção do Comendador Antônio José Meireles, rico
comerciante português que o
encaminhou para estudar na França, na cidade de Havre, em 1818, onde
ficou até 1821. A intenção do português
era de faze-lo um grande negociante, porém ele demonstrou tendência para as letras; então seu protetor o encaminhou à Coimbra
para forma-lo médico.
Nos dois primeiros anos se saiu bem, porém os estudantes
brasileiros, em Portugal estavam agitados com as notícias dos movimentos
libertários do país com a independência
brasileira, e as dificuldades na província maranhense ainda sob o jugo
português. O jovem acadêmico abandonou os estudos em julho de 1823 e retornou à
sua terra.
Ao chegar ao Maranhão, em 1823, José Cândido encontra o
Brasil iniciando o processo da sonhada liberdade. O seu protetor mudara-se para
o Rio de Janeiro, deixando à frente dos seus negócios o português José
Gonçalves Teixeira, a quem tinha recomendado o seu pupilo. Infelizmente o
administrador não recepcionou José Candido à altura do seu merecimento
submetendo-o ao servilismo. Ele voltou à Itapecuru Mirim onde ficou
dois anos administrando os bens
deixados pelo pai.
Em maio de 1826 com o falecimento do avô, José Cândido voltou a São Luís para cuidar das irmãs
órfãs.
Luta pela educação
Na época enfrentou sérias dificuldades financeiras e
resolveu abrir uma escola em sua casa para dar aulas de primeiras letras,
geografia e francês. Também ensinava nas casas
e no quartel para os cadetes. Com o amigo Manoel Pereira da Cunha
transformou a escola em pequeno internato.
No Maranhão, os professores eram mal pagos e pouco
valorizados. Inconformado passou a
manifestar-se sobre o assunto redigindo
uma série de artigos críticos sobre a
educação pública, apontando como o único meio de alcançar a prosperidade
e a liberdade. Questionava que saber ler e escrever não
bastava porque a educação
precisava ser cuidada com um “bem sagrado”. Segundo ele: − O pai que não promovia a educação de seu
filho roubava-lhes o melhor dos bens,
negava-lhe a verdadeira felicidade,
merecendo a execração pública, por
não desejar o progresso do seu
país. (O Farol Maranhense, 23.5.1828) Acaso
desconhecem os pais da nossa Província a utilidade da instrução? (O Farol Maranhense, 16.3.1830).
Também foi defensor
da educação feminina, que dizia ser “inimiga
do servilismo”. Ele denunciava os pais que se negavam a encaminhar
suas filhas à escolas por serem “zeladores de suas famílias”.
Ou “Deus me livre de mandar ensinar a ler a minhas filhas”. (O Farol Maranhense,30.5. 1828).
Na avaliação do jornalista, as jovens maranhenses, embora causadoras de uma “boa impressão”, decepcionavam em uma conversa; − Sim,
a conversação das maranhenses é
desgostosa, porque elas não podem tratar daquilo de que nunca ouviram falar. − Como
podem entender qualquer conversação séria e instrutiva, se jamais passaram da leitura da Cartilha do Padre Inácio.
Segundo ele, − A mulher sendo atraente, mas alheia a um conhecimento educacional, é
motivo de grande descontentamento ao seu marido e lhe diminuía a felicidade
[...]. O homem que recebeu uma boa educação ama a conversação (...), e a ignorância
de sua mulher, dificulta o prazer! (O Farol Maranhense, 30.5. 1828).
A história favorece o itapecuruense José Cândido como
fundador da segunda escola da Capital do Maranhão , em 1826.
Na época ele fundou
uma tipografia. Foi um orador, que
entusiasmava as multidões, principalmente da juventude.
Trajetória jornalística
Apaixonado pelas
questões libertárias, ao lado das funções
de professor, José Cândido em
dezembro de 1827, fundou o jornal Farol Maranhense. O
órgão divulgava e
repudiava “os excessos contra a Constituição,
a segurança individual e a
propriedade dos cidadãos”, passando
a sofrer perseguições do
Governo que tentava impedir
a sua circulação, movendo uma
série de processos contra o
jornalista. Segundo o escritor e
crítico literário Paulo de Kock: “Folha
de grande influencia pelo seu
patriotismo e ideias adiantadas que professava, discutia as questões no tom de tribuno ardente, era um oráculo no
seio das massas populares. (Pacotilha, 18.1.1884).
José Candido denunciou os opressores, criticou os desmandos
na administração pública nos artigos do Farol, como consequência, sofreu perseguições.
.
Usava a seguinte epígrafe
que baseava a sua doutrina:
De circunlocução eu nada sei,
O caso conto; como o caso foi,
Na minha frase da constante lei,
O ladrão é ladrão, o boi é boi!
O Farol, denunciava o
presidente da Província, contra a “indolência
e maldade dos ministros, que ultrapassavam as atribuições de seus cargos”. (O Farol Maranhense, 27.5. 1828). Avesso
a críticas, o presidente o processou
por infringir o Artigo 6º da Lei de Imprensa. O Governo do presidente Costa Pinto,
cometeu o que foi, no
entendimento de Odorico Mendes, “um dos maiores atentados, contra os direitos cívicos”.
Preso e seviciado, recebeu a
solidariedade dos amigos que comungavam
com as suas ideias, entre os quais o escritor Odorico Mendes, que veio do Rio
de Janeiro, para apoiá-lo. O jornalista foi solto em janeiro de 1829, após cinco meses de prisão, pelo novo presidente do Maranhão, o Marquês de
Sapucaí. Livre, José Candido voltou a fazer circular o Farol com as mesmas características independente.
Em abril de 1831, com a abdicação de D. Pedro
I, em São Luís, veio à tona um movimento revolucionário, motivados pela instabilidade econômica da Província, cujos
produtos de exportação perdiam valor no mercado externo. Foi desencadeada o movimento denominado Setembrada,
encabeçado por José
Cândido de Morais e Silva e Frederico Magno Abranches.
Foi elaborado um documento com o apoio dos militares e do
povo, exigindo a destituição dos funcionários
lusitanos, de acordo com a Constituição do Império, a
suspensão dos desembargadores e a demissão
de padres contrários à causa do Brasil. O presidente da Província,
Araújo Viana, mandou prender os líderes. José Cândido fugiu da prisão e escondeu-se nas matas do Itapecuru Mirim.
Depois, voltou a São Luís, homiziando-se na casa de Sotero dos Reis. O amigo
João Lisboa, tomou a iniciativa de
substituí-lo no Farol Maranhense, para que
não deixasse de circular. Doente e sem recursos financeiros o jornalista
faleceu em 18 de novembro de
1832, aos 25 anos.
Ele deixou viúva Mariana Emília da
Cunha, com quem casara a 15 de outubro de 1831.
Ela era irmã da esposa de João Lisboa, seu conterrâneo e amigo.
O jornalista José Cândido de Morais e
Silva é patrono da cadeira 13 da Academia Maranhense de Letras e da cadeira 11
da Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes ambas ocupada por outro
jornalista itapecuruense, Bendito Buzar.
Texto do livro ITAPECURUENSES NOTÁVEIS (2016), de autoria de Jucey Santana.
Texto do livro ITAPECURUENSES NOTÁVEIS (2016), de autoria de Jucey Santana.
Sou uma admiradora e estudiosa da trajetória deste jornalista que eu considero o mártir da imprensa maranhense, o redator do jornal O Farol Maranhense, o intelectual revolucionário José Cândido de Morais e Silva.
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